25 fevereiro 2017

Foi um milagre

Depois de ler as dez razões do Padre Portocarrero de Almada, a minha conclusão acerca do mistério da eleição do Trump é aquela que ele, sendo Padre, deveria ter tirado. Foi um milagre.

Estou muito menos certo, é claro, acerca do que Deus quis significar ao produzir esse milagre. Mas algumas das possíveis razões dessa racionalidade divina estão contidas nos dez parágrafos do texto - ou talvez todas, e que se resumem numa só: a comunicação social democrática não exprime as verdades em que o povo acredita. É assim nos EUA e é assim em Portugal (*).

Quem avaliar um país sem sair de casa, somente por aquilo que se diz na comunicação social, e depois se der ao trabalho de viver uma vida normal nesse país - com o seu emprego, o seu relacionamento normal com outras pessoas, etc. - vai dar-se conta que o país real é exactamente o oposto da imagem que dele construiu a partir da comunicação social.

É assim nos EUA. É assim, e mais ainda, em Portugal, pela tendência que a nossa cultura, mais do que a americana, tem para levar as coisas ao extremo.

A América elegeu o mais impopular de todos os candidatos, tal como avaliado pela comunicação social. Este é o milagre, num regime em que se espera que seja eleito o mais popular.


(*) Um exemplo fresco. Responsabilidade política é irresponsabilidade. Já viu alguém ser responsabilizado por irresponsabilidade política?

3 comentários:

José Lopes da Silva disse...

Esse desfasamento é tal que ainda é mais milagroso como foi possível a outra candidata ter mais votos.

Ricciardi disse...

A parte de fazer dos relatos jornaleiros a história é bem verdade.
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Em regimes autocráticos, usar a comunicação para fazer história, é mesmo uma imbecilidade.
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Em regimes liberais também não será fonte fidedigna da verdade, mas nestes regimes não é possível concertar uma só versão dos factos.
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A eleição de Trump tem muitas explicações menores mas, as tres que me parecem mais assertivas, são estas:
1) o povo estava farto da familia Clinton. Qualquer alternativa seria uma boa alternativa.
2) contrainformacao. Não é discipiendo para que Hilary passasse nas sondagens, num escasso mês, para menos 10% e não se pode dissociar essa performance com as notícias plantadas acerca dos emails. Dizem que foram os russos a promover essas notícias. E parece ser verdade dado que já foi demitido o vice por ligações aos russos.
3) o modo populista com que Trump aborda certas questões sensíveis. Se há desemprego, culpam-se os imigrantes. Se há droga culpam-se os mexicanos. Se há terroristas fecham-se as fronteiras. Se há défice externo culpam-se os empresários que produzem no exterior.
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Todas as medidas propostas não resultam em nada, mas podem dar alguns votos nas camadas atingidas da população.
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Não há tecnicamente desemprego na América. As drogas entram porque há consumidores bem americanos, claro. Se há terroristas fechar as fronteiras de países que não exportam terrorismo também não adianta coisa alguma.
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Tal como o comunismo induz a expansão dos mercados negros devido às escassez, também algumas destas medidas trumpetinas resultarão no mesmo. A droga continuará a jorrar. Talvez a preços maiores o que provocará mais criminalidade. É provável que os funcionários fronteiriços enriquecam bastante. A imigração não cessa assim. Primeiro porque os mexicanos são uma força de trabalho essencial na América. Os empresários da agricultura e construção precisam deles.
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Rb

Anónimo disse...

Não percebo. Se a Clinton teve mais votos, ela é mais popular que o Trump. Lógico. Mas a lógica não é uma coisa muito canónica por aqui... é mais nossas senhoras a aparecerem em cima de azinheiras. ;)