CARTA ABERTA
Para o
Ex.mo Sr.
Jean-Claude
Juncker
Presidente da
Comissão Europeia
25 de Novembro de
2016
Ref.: A Quarta
Via – Igualdade de oportunidades para todos
Sr. Presidente
Juncker,
Eu nasci em
Portugal, mas considero que a Europa é a minha casa. Aprecio a nossa
civilização, as nossas cidades, as nossas paisagens, e, sobretudo, os nossos
valores.
Exportamos a
civilização europeia para lugares longínquos e não podemos deixar de sentir
orgulho quando constatamos que os nossos valores floresceram noutros pontos do
globo. A Declaração de Independência dos EUA, por exemplo, é uma obra-prima que
presta homenagem a John Locke, um dos melhores pensadores nascidos na Europa.
‹‹Consideramos estas verdades como evidentes por
si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de
certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a
busca da felicidade››.
Também me fascina
a visão que a UE tem de um continente livre e pacífico, mas receio que este
grandioso projeto esteja ameaçado. E é este receio que me leva a dirigir-lhe
esta reflexão, numa carta aberta para ser partilhada por todos.
Os europeus, hoje
em dia, sentem-se inseguros e com pouca representação. Têm menos liberdade e
menos oportunidades de buscar os seus sonhos do que no passado recente.
É por isso que há
tanto populismo a alimentar-se destes sentimentos; populismo e demagogia que
ameaçam a democracia.
O Brexit foi um
sinal de descontentamento. O mesmo descontentamento que também germinava nos
EUA e que culminou com a eleição do Sr. Donald Trump. Uma eleição que tem sido
interpretada como uma revolta do povo contra o “status quo”. Ora estes eventos
devem fazer-nos refletir.
A globalização
criou riqueza e lucros fabulosos para as multinacionais que se tornaram
verdadeiro empórios, mas ao mesmo tempo as classes médias foram debilitadas até
um ponto de rotura, e claro, de revolta.
A Terceira Via,
de Clinton, Blair e Schroder (tão bem exposta por Anthony Giddens no seu livro
“The Third Way”), continha a promessa de que a globalização, enquanto geradora
de riqueza, podia contribuir para fortalecer a estrutura social e preservar
valores fundamentais. Valores como a Comunidade, Oportunidades,
Responsabilidade e Rigor. Infelizmente, esta promessa não se cumpriu.
Hoje, há menos
coesão social, menos oportunidades, e a responsabilidade e o rigor também não
melhoraram. As populações, portanto, sentem-se enganadas e frustradas.
A Terceira Via
colocou a globalização em “esteroides” e “anestesiou” o empreendedorismo local,
com hiper-regulação, impostos elevados e falta de financiamento. Assim, não é
de admirar que as pessoas deem ouvidos ao primeiro populista que lhes fala de
mudança.
As correções
necessárias são de tal magnitude que é necessária uma Quarta Via. Uma Quarta Via
que trate dos desequilíbrios resultantes do processo de globalização e que, em
simultâneo, liberte as amarras impostas ao empreendedorismo local.
Até os campeões
da globalização aceitam que são necessárias correções, mas estas afetam apenas
um dos pratos da balança. Para obter o equilíbrio, o outro prato deve conter
reformas que libertem o potencial económico local.
O igualitarismo,
um importante objetivo da Terceira Via, não deve abranger apenas a
redistribuição de riqueza. Deve haver “igualitarismo de oportunidades”, e este
deve estar no centro da Quarta Via.
Esta nova
abordagem é fundamental para melhorar o rendimento das classes trabalhadoras,
estagnado há demasiado tempo, e proceder às mudanças necessária para preservar
a democracia.
A Europa pode, em
boa verdade, ser uma casa para todos, mas temos de mudar de rumo.
Melhores
cumprimentos,
Joaquim Sá Couto
1 comentário:
> populismo e demagogia que ameaçam a democracia.
Exercício: demonstrar que a "democracia" é objectivamente superior ao "populismo".
(e que, como insinua o PA noutra posta, não são apenas etiquetas que se afixam aos resultados que agradam ou desagradam ao observador.)
Favor mostrar todos os passos do raciocínio.
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