28 outubro 2016

o fracasso da terceira via - I

O FRACASSO DA TERCEIRA VIA - I


A terceira via (3ª via) é um movimento que se iniciou no começo dos anos 90, nos EUA, como resposta às políticas de Ronald Reagan. Os seus principais protagonistas políticos foram o presidente Bill Clinton (1993 a 2001), nos EUA, e o primeiro-ministro Tony Blair (1997 a 2007), no RU.

Em 1998, o sociólogo Anthony Giddens (AG), publicou o best-seller “The Third Way” que se tornou a referência doutrinária por excelência, deste movimento, e a que recorro como principal ferramenta de análise.

O que é, em síntese, a 3ª via?

É a resposta política da social-democracia à globalização, reconhecendo esta enorme oportunidade de criação de riqueza, mas sublinhando a necessidade da intervenção do Estado para garantir um conjunto de valores fundamentais para o centro-esquerda.

Valores que AG destacou como sendo a Comunidade, a Oportunidade, a Responsabilização, e o Rigor (Accountability). CORA, em inglês.

AG sublinha, porém, que a intervenção do Estado não deve ficar submetida a ditames ideológicos. Nomeadamente no fornecimento de serviços que podem ser disponibilizados pelo sector privado.

Para AG, a sobrevivência da social-democracia dependia também da própria reforma do Estado que necessitava de se libertar de interesses particulares, de se desburocratizar e de descentralizar.

Quase 20 anos após a publicação do “The Tird Way”, é possível fazer um balanço?

As democracias Ocidentais beneficiaram com a globalização, preservando os seus valores e a soberania das suas populações?

Limitando-me a um certo consenso posso responder afirmativamente ao primeiro quesito – sim, beneficiaram com a globalização. Mas à custa da subversão dos valores que procuravam preservar e de uma importante perda de soberania popular que se manifesta agora por uma rejeição da própria globalização. Rejeição que se evidenciou, da forma mais contundente possível, com o Brexit.

Neste sentido, a 3ª via fracassou brutalmente.

As comunidades perderam coesão social. Há menos oportunidades, especialmente para os jovens. E não há responsabilização, nem rigor, nas instituições que suportam o tecido social.

Este fracasso abriu as portas à demagogia e ao populismo que, neste momento, ameaçam as democracias liberais e capitalistas que se supunha serem o “Fim da História”.

Por este motivo, é essencial tentar compreender as razões deste fracasso; como foi essencial, no passado, perceber as causas do fracasso do comunismo.

Os defensores da globalização, entre os quais me conto, têm obrigação de proceder a esta análise, sob pena de regressarmos a nacionalismos serôdios e a políticas mercantilistas que julgávamos extintas.


No próximo post irei expor o que, no meu entender, são as causas do fracasso da 3ª via.

2 comentários:

José Lopes da Silva disse...

Não dá para passar esse texto por um notepad antes de colar no editor do blogger?

Euro2cent disse...

> "Os defensores da globalização, entre os quais me conto"

Injectam para a veia a caninha rachada do Lennon a ganir "Imagine ... Nothing to kill or die for And no religion too" e ficam cheios de orgulho no progresso, e nem percebem o pesadelo que compraram.

Quando reduzirem tudo a uma massa amorfa de "elementos" intercambiáveis, cuja cultura é a última série de TV que viram, depois vêm aqui gemer que não era bem isso que queriam.

Mas vai ser tarde demais. O problema não são os meios, são os objectivos. Larguem o charro do progresso, gaita.