01 agosto 2016

Não sirvas a quem serviu...

No meu último comentário antes de férias no Porto Canal, e depois de um balanço ruinoso da época como comentador, decidi falar sobre aquele que me parece ser o principal impedimento cultural em Portugal ao funcionamento de uma democracia viável.

Em virtude de uma tradição de sete séculos de monarquia absoluta, em que a sociedade esteve dividida em dois grupos - os soberanos e os súbditos - e em que os primeiros se sentiam acima das leis e das obrigações que impunham aos outros, a democracia trouxe consigo  aquilo que chamei uma "cultura de safados" no sector público: homens com a mentalidade de súbditos, proclamando-se representantes do povo, logo que atingem posições de poder, tratam os seus iguais do povo como se fossem súbditos e a si próprios como se fossem soberanos.

O resultado é a antiga máxima "Não sirvas a quem serviu...".

Dei vários exemplos. Hoje, saiu mais outro. Depois daquela verborreia toda, a verdade é que o Estado não está a cumprir os contratos que assinou com os colégios privados. Os agentes do Estado (Ministro da Educação e altos funcionários do Ministério e todos os políticos que apoiaram a decisão) comportam-se como  miseráveis trapaceiros. Algo que já tinha sido esclarecido por quem assinou os contratos por parte do Estado e, por isso, melhor do que ninguém, sabia aquilo que assinou.

Não se trata de uma característica específica deste Governo, embora este pareça que a exibe com uma intensidade superior à média. É de todos os Governos democráticos. Logo depois do 25 de Abril, o Estado, que até então cumpria escrupulosamente os seus compromissos, tornou-se rapidamente o maior caloteiro do país - situação que ainda hoje mantém.

6 comentários:

Harry Lime disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Harry Lime disse...

Os colégios privados são "old news".

Depois disso já houve o euro: primeiro, a nossa ilusão, depois, a nossa desilusão e por fim, a nossa redenção. Depois foram as sanções do defice da euroipa. Depois o Trump e a Hillary. Entretanto tivemos não sei quantos atentados na Alemanha e mais uma mão cheia em França. No sabado foram os argelinos no aeroporto.

Agora vem aí a nova época da bola: Benfica, Sporting, Porto, contratações, Cristiano Ronaldo, Mourinho...

O "24 Hour News Cycle" tem uma virtude que eu aprecio: um certo darwinismo das ideias. Só as noticias e as ideias realemente uteis e valiosas é que resistem à pressão constante e inexoravel da novidade.

Ora a história dos colégios, tal como a história das "histéricas" do PA e do Joãozinho, não passaram este teste. Todas tiveram o seu momento ao sol (os famosos 15 minutos do Andy Warhol) mas depois foram levadas na enxurrada formidavel das futilidades "du jour".

Os media modernos são um mundo cruel e só existe uma forma segura de alguém se manter muito tempo na ribalta: ser relevante. Porque irrelevâncias leva-as o vento.

Rui Silva

Unknown disse...

Uma questão de regime, evidentemente.
E que questiona gravemente o povo que (ainda) somos - melhor, vamos sendo...

Harry Lime disse...

E estes tipos com questões de regimes....

Para os fanáticos o fim do mundo está sempre ao virar da esquina. A parte engraçada é que na esmagadora maioria das situação, quando viramos a esquina, não acontece nada.

O mundo não vai acabar com o governo Costa da mesma forma que o governo Passos não trouxe a felicidade eterna o Mundo.

À margem disto, a malta costista fez umas coisas que prejudicaram alguns interesses do PA. OK, pá, são coisas que acontecem: win some, lose some. É aceitar a coisa e andar em frente.

Rui Silva
Rui Silva

Miguel disse...


http://www.rtp.pt/noticias/pais/ministerio-questiona-imparcialidade-de-juiz-que-decidiu-a-favor-de-colegios_n937902

Pedro Sá disse...

Se ler as memórias do Prof. Freitas do Amaral percebe logo que não, de modo que os seus primeiros meses de trabalho para o Estado foram de borla...