06 março 2016

mistério

Eu gostaria agora de voltar ainda ao Pires, mas também ao Papa e a mim próprio, neste e nos próximos posts.

Já declarei que no meu tempo de criança, as escolas eram separadas para rapazes e para raparigas. Frequentei uma escola primária destas, uma escola pública em Lisboa. Ao lado da escola dos rapazes estava a escola das raparigas, elas usavam bata branca, os rapazes não.

Os os recreios de uma e outra escolas eram incomunicáveis, e de um não se podia avistar o outro, um dos edifícios escolares erguendo-se a meio e não permitindo a visão.

Aquilo que frequentemente acontecia durante os intervalos (ou às horas de saída) era um fenómeno muito curioso.  Os rapazes saíam do seu recreio, davam a volta ao edifício, e iam-se pôr junto ao muro do recreio das raparigas a vê-las brincar. Era um espectáculo silencioso, uma espécie de contemplação e, tratando-se de crianças (seis a nove anos), absolutamente espontâneo.

Não me lembro de alguma vez ter observado o comportamento oposto - as rapariga saírem do seu recreio para virem contemplar os rapazes.

O que é que havia ali, o que é que movia aqueles pequenos homens e os levava a abandonarem temporariamente o seu espaço e os seus amigos, para se irem pôr a contemplar aquelas pequenas mulheres, num comportamento que não era reciprocado? O que é que havia nelas e os atraía a eles - e que, obviamente, não havia neles e por isso não as atraía a elas?

Mistério. Havia mistério nelas. E era isso que não havia neles.

4 comentários:

Rui Alves disse...

Eheheh!

Claro que há mistério nelas. Levamos uma vida inteira a tentar entender as mulheres e nunca se consegue. :-))

Rui Alves disse...

Mas concordo consigo. E há coincidências curiosas. Enquanto eu lia e comentava o seu post, a minha filha do meio enfiou-se na cozinha, e por razões que não queria explicar, pediu que ninguém lá entrasse. Facilmente se desvendou: estava a preparar-nos uma surpresa para o lanche, de sua iniciativa. Ora bem, essa minha filha encontra-se precisamente na fase da vida que menciona no seu texto. Da minha vivência com mulher e filhas, sou levado a dar-lhe razão. Elas são misteriosas, gostam de o ser, e isso afirma-se desde cedo.

Pedro Sá disse...

Invenção essa - a da separação de géneros na escola - burguesa. E completamente anti-natural.

Anónimo disse...

Mais um (grande) exemplo da diferença entre homem e mulher. Entre sexos!
As miúdas estão tranquilas porque "sabem" que eles hão-de ir lá... e elas escolherão.
Os miúdos têm a curiosidade de ver aquelas que, como as suas mães, estão acima deles, têm o poder. Só os deixam "lá ir" se e quando elas quiserem.