04 março 2016

a mensagem

Embora exista muita propaganda acerca do assunto, acredito que o aumento da violência doméstica em Portugal é uma realidade.

No tempo do Estado Novo, em que fui educado, os valores católicos eram muito mais prevalecentes na sociedade do que agora. E o principal desses valores era a diferença, um valor feminino e também muito católico.

Os rapazes e as raparigas, até certa altura, eram educados em escolas separadas. Havia entretenimentos exclusivos de rapazes (futebol, matrecos, cartas, etc.), e outros de raparigas (ringue, etc.) e os brinquedos também eram diferenciados (carros e bolas num caso, bonecas e ringues noutro).

Na família, não era diferente, e era a mãe que promovia essa diferenciação. Fui educado numa família onde a única mulher era a mãe, que vivia rodeada de cinco homens (o marido e quatro filhos), e só ocasionalmente dispôs de ajuda doméstica. Nunca a minha mãe nos ensinou a fazer qualquer tarefa doméstica (cozinhar, fazer a cama, lavar a louça, etc.). Pelo contrário, lembro-me que um dia se insurgiu contra uma empregada que se aventurou a sugerir-lhe que nós podíamos fazer a cama.

Enfim, havia um mundo para homens e outros para mulheres, e esses mundos eram diferentes. E só mais tarde eu me apercebi que eram também complementares.

Foi somente há poucos anos que, ao relembrar a minha mãe, e ao meditar na educação que ela me deu, me perguntei: Por quê, por que é que ela me educou assim e aos meus irmãos, que mensagem (ou que tradição) ela nos quis passar?.

E a mensagem veio clara ao meu espírito: "Hás-de precisar sempre de uma mulher".

E a profecia cumpriu-se. (E também para os meus irmãos)

Ora, um homem que precisa sempre de uma mulher nunca será violento para ela.

Não vale a pena alongar-me muito mais. Basta pensar o que acontecerá se homens e mulheres forem educados de forma igual, como agora. Amanhã, quando se encontram numa relação, um deles é redundante. Que interesse tenho eu em estar casado com uma mulher que é exactamente igual a mim?(a pergunta vale igualmente para ela). Um de nós vai ter de sair da cena, e normalmente é o mais forte fisicamente que tira o outro da cena.

É a filosofia da igualdade que produz a violência doméstica, como todas as outras formas de violência de massa.

6 comentários:

Anónimo disse...

áí estou eu a declarar em papel azul, timbrado, de 25 linhas que Pedro Arroja está mais livre, mais solto, mais seguro. Só por Deus.

Anónimo disse...

Nos muitos casais que conheço, a família só existe quando a mulher cuida do homem e da prolo, e o homem gosta dela e alomba com o trabalho para dar o sustento à família.
Você é claro.

Pedro Sá disse...

Imensa barbaridade. O que acontece é que havia censura. O que acontece é que uma imensa quantidade de gente pura e simplesmente não contava socialmente, era como se não existissem.

De resto. Eu não acho nada bem que se queira condicionar alguém à partida seja por que razão for. Cada um é livre de se auto-determinar.

Quanto ao "hás-de sempre precisar de uma mulher" (e nunca um "hás-de sempre precisar de um homem" às mulheres)...isso é a típica pedestalização da mulher sobre o homem, a ideia (de que o PA é o maior defensor explícito) de uma inferioridade do homem face à mulher. Inaceitável, claro está.

Por fim. Essa sua visão dos casais basicamente tresanda a puro e simples interesse. E não atracção nem amor.

Harry Lime disse...

é duvidoso se o salazarismo representava valores católicos ou se os representava mais do que qualquer outro regime politico.

Rui Silva

Harry Lime disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Harry Lime disse...

Na família, não era diferente, e era a mãe que promovia essa diferenciação. Fui educado numa família onde a única mulher era a mãe, que vivia rodeada de cinco homens (o marido e quatro filhos), e só ocasionalmente dispôs de ajuda doméstica. Nunca a minha mãe nos ensinou a fazer qualquer tarefa doméstica (cozinhar, fazer a cama, lavar a louça, etc.). Pelo contrário, lembro-me que um dia se insurgiu contra uma empregada que se aventurou a sugerir-lhe que nós podíamos fazer a cama.
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Não querendo faltar ao respeito da Mãe do PA, tenho sérias dúvidas de que não houvesse mães protestantes no UK ou nos EUA contemporaneas (estamos a falar dos anos 40,50) que não disesse o mesmo aos filhos.

Por outro lado, a minha Mãe (tão catolica como a Mãe do PA) ensinou-me nos anos 70 e 80 a fazer a cama e a ajudar na casa. Tal como imensas mães protestantes no UK ou nos EUA na mesma época.

Assim, em que ficamos? A minha Mãe é menos catolica do que a do PA? Ou estaremos a falar apenas de mulheres igualmente catolicas e igualmente boas pessoas que cresceram em épocas historicas diferentes?

Rui Silva

PS. Sim, porque a minha Mãe é católica.