21 fevereiro 2016

O Deus vivo

Um Deus que vive nas Escrituras é um Deus morto, um Deus que não tem relevância, ou que tem pouca relevância, para a minha vida diária, para o momento e as circunstâncias em que eu vivo. À parte certos princípios gerais que enunciou para o bem da humanidade, que relevância tem ele para os dilemas que eu tenho de resolver aqui e agora? Praticamente nenhuma.

É esta a razão principal da insurgência de Cristo contra os fariseus e os escribas. Eles cumpriam rigorosamente as leis de Moisés, mas no seu dia-a-dia, e na sua relação com os outros, Deus não interessava para nada, era como se Deus não existisse. Eles comerciavam no templo, aproveitavam-se dos mais fracos, depreciavam as mulheres e todos aqueles que não fossem judeus, culpabilizavam facilmente os outros (embora cometessem os mesmos pecados).

É esta falsa lealdade a Deus - em que as aparências são salvaguardadas, mas a realidade é muito diferente  - que irrita Jesus. Hipócritas é o seu insulto preferido, e "sepulcros caiados" (muito bonitos por fora, cheios de ossos por dentro) também assentava bem aos fariseus. Que interessa respeitar a lei do Sábado, se as pessoas ficam preteridas? E por quê julgar aquela mulher que vivia com outro homem, que não o marido,  se aqueles que a acusavam tinham pecados ainda maiores? E por que é que não se há-de poder falar com uma mulher em público? E por que é que o testemunho de uma mulher não faz fé pública?

Cristo morreu e ressuscitou e anunciou a vida eterna, significando que ainda hoje vive entre nós. Cristo não é um Deus morto. É um Deus vivo. Mas o que é que o traz até nós, à actualidade, ao aqui e ao agora, ao momento e às circunstâncias que cada um de nós vive?

É a Tradição. É através da Tradição que Cristo chega até nós e vive o nosso dia-a-dia.  O Deus vivo que é Cristo, relevante em todos os momentos e circunstâncias da nossa vida, está na Tradição. Nas Escrituras - a outra fonte da revelação - está o Deus histórico, aquele que viveu há dois mil anos na Galileia.

Deus, tal como é visto pelos judeus e pelos cristãos-protestantes, e que só existe nas Escrituras, é um Deus largamente irrelevante para a nossa vida diária. Ele enuncia certos princípios ou regras de comportamento que todos aprendem cedo na escola. Não surpreende que a cultura judaica e protestante tire Deus do espaço público. Em que é que ele serve para resolver os problemas do Orçamento do Estado, da eutanásia, dos refugiados da Síria e do Iraque ou dos lesados do BES? Não serve para nada. Como o Paulo Rangel concluiu no seu livro, é melhor esquecê-lo porque ele é de nenhuma ajuda para os problemas políticos do nosso tempo.

A resposta é diferente se Deus está vivo e está na Tradição. É ir procurar na Tradição a solução para esses problemas. Vamos lá encontrar Cristo e a solução para os  problemas.

3 comentários:

Euro2cent disse...

O problema da tradição é que é gratuita, não tem nada a vender a ninguém, e todos se podem servir dela livremente.

Isto, em termos comerciais - que é o que se usa hoje em dia, tem os melhores indicadores - é um desastre.

Em contrapartida, um produto vendido com os sabonetes e as mercearias - a liberdade - tem uma promoção fortíssima, com injecções para a veia 24 horas por dia, 366 dias por ano.

Os nossos donos, inclusive, adoram pagar ao gado proleta com os excedentes de liberdade que têm em armazém, em vez de dinheiro. Sai baratissimo, e faz maravilhas pela economia.

Ao contrário da tradição, que só dá prejuízo, e francamente, está muito fora de moda. Horrívelmente fora de moda. 'Et pour cause'.

zazie disse...

A oposição não é entre tradição e liberdade como o Euro2Cent tem a mania de colocar (tem algum problema com a dona)

É entre tradição e estar sempre a revolucionar tudo.

O que lhes encanita é não se deitar abaixo que existe porque assim não podem eles impor como Lei jacobina o ideal deles até ser uma tradição como as outras.

Foi sempre pelas armas que a tradição foi deitada abaixo.

É um facto que hoje bastam os lobbies e o voto (e os media e os profs)

zazie disse...

Ah, a tradição comunista foi imposta e ainda teve tradição por uns tempos.

Depois foi deitada fora e recuperaram a tradição natural do povo.

Existe uma incompatibilidade entre Tradição Natural e Tradição Artificial.

Como em tudo, o artificial não presta.