Pode a austeridade diminuir os custos com a saúde?
Li com alguma surpresa este artigo do AJGP no
Público de hoje. Surpresa porque foi como se tivesse efectuado uma viagem ao
passado, para um debate em termos que julgava desatualizados. Nomeadamente no
que diz respeito à dicotomia público/ privado, tão ao gosto dos anos 80, e
ainda pela utilização descontextualizada de dados referentes ao sistema de
saúde norte-americano.
Ainda, pela afirmação de que ‹‹os EUA não têm
Estado Social››. Quando os EUA inventaram o Estado Social e foram dos
primeiros países a adoptar políticas de proteção social.
Enfim, devem ser peculiaridades do pensamento
económico norueguês.
A pergunta que o Armando Pires coloca no
título do seu artigo é interessante e pedia uma resposta clara. Infelizmente, o
autor não a dá, concluindo apenas que o problema dos custos da saúde só tem
resposta com crescimento económico.
Ora bem, isto é o mesmo que dizer que ‹‹é
preferível ser rico e saudável do que pobre e doente››. Não é pensamento
económico, é conversa de café.
Voltemos à pergunta inicial: ‹‹Pode a
austeridade diminuir os custos com a saúde?››.
Austeridade significa menos recursos
disponíveis, menos dinheiro, orçamentos menores. Reformulemos: Menos dinheiro
pode diminuir os custos com a saúde? A resposta é intuitivamente NÃO. Mas menos
dinheiro pode e deve diminuir a despesa com a saúde. Em vez de dar tudo a todos
(ex. do SNS), podemos gastar apenas no essencial.
Infelizmente, o Armando Pires confunde
CUSTOS com DESPESA, dois conceitos diferentes. Um custo só se torna numa despesa no momento da aquisição de um bem,
até lá é apenas um sinal para o consumidor.
Por fim, a questão do crescimento económico, a
tal solução à norueguesa. O crescimento depende do investimento. Ora se o
capital for desviado para fins sociais, não está disponível para investimento e
portanto não haverá crescimento. Daí ser tão importante controlar a despesa pública,
para sobrarem meios para investimento.
Em conclusão: a austeridade não pode diminuir
os custos da saúde, como é óbvio. Mas pode forçar a cortes na despesa para
libertar recursos para outros sectores.
Joaquim Sá Couto – Austrian School of
Economics
1 comentário:
> os EUA inventaram o Estado Social
Mais ou menos quando?
(Julgava que tinha sido o Bismarck, se excluirmos a Rainha D. Leonor, que era tuga e católica e portanto não conta, mas aprende-se muito na bloga ...)
> Austrian School of Economics
Isso faz-me lembrar a chalaça do Sacro Imperio Romano, vá-se lá saber porquê.
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