07 junho 2015

Portugal senil


‹‹Este País está demente›› pensou, enquanto desligava a televisão. As malas estavam prontas e era a altura das despedidas.
-       Fica rapaz, não vires as costas a Portugal. Lutei muito para teres aqui um futuro...
-       Eu sei avô, mas os tempos mudam.
-       Quando regressei de França, em 74, estávamos pior. Lutamos muito para haver educação, saúde, segurança social...
-       É verdade avô, mas Portugal tornou-se sufocante. Não se consegue começar uma empresa, os mercados não funcionam, há corrupção por todo o lado...
-       O direito ao trabalho é sagrado filho...
-       Ó avô, como é que pode haver “direito ao trabalho” se não houver direito à iniciativa privada e à propriedade?
-       Os empresários são exploradores...
-       É por pensarmos assim que eu tenho de emigrar. Os empresários é que criam riqueza avô.
-       Se não fosse o 25 de Abril, eu hoje não tinha reforma e tu não tinhas ido para a universidade.
O nosso jovem sorriu. Para quê contrariar o avô?
-       Também me faz bem mudar de ares – comentou, para amenizar a conversa.
-       Já pouco tempo me resta filho, quando voltares eu já vou estar a fazer tijolo – disse com a voz embargada.
-       Já cumpriste a tua missão avô, temos muito orgulho de ti.
-       Mas está tudo a desmoronar à nossa volta, devias ficar aqui e lutar...
-       Avô, o mundo “pula e avança”, como tu me ensinaste. Desfruta e deixa as novas gerações procurarem a sua felicidade.
Beijos, abraços e um avião à espera...
‹‹Portugal é como o meu avô››, pensou. ‹‹Está velho e senil, e não quer mudar››. ‹‹O futuro deste País passa pelo cemitério, por enterrar os velhos e as ideias do passado. Pena que doa tanto... ››.
-       Adeus avô!

1 comentário:

Anónimo disse...

"há corrupção por todo o lado..."

Olhe que já li o o PA a negar isto veementemente.