Há uns anos fui com a
minha mais novita a um café de Matosinhos que já fechou mas que gostaria de recordar como um exemplo da
hipercriatividade tuga.
O café tinha um tema decorativo a preto e
branco, inspirado num WC, com as paredes em negro e o mobiliário em branco. As
mesas eram banheiras viradas ao contrário, as cadeiras eram sanitas e a
restante decoração acompanhava os acessórios habituais das casas de banho.
Um pormenor que muito nos divertiu foi o facto
de não haver guardanapos. Em substituição o café disponibilizava rolos de papel
higiénico, devidamente pendurados das paredes.
Lá tomamos um café e uma Cola... até que a miúda pediu para ir ao WC, ao
verdadeiro. Levantei-me com ela, segui as indicações e abri a porta das
meninas.
- Uau B., isto é que é! – disse. O
WC também estava de luto, com uma tenebrosa e mínima luz de presença e a sanita
– viva a criatividade – no centro, de costas para a porta.
-
Ó papá, acho que já não tenho
vontade.
‹‹Pois não, pensei››. Isto tira qualquer
vontade a qualquer um.
Pedimos a conta, por sinal bastante puxada, e
saímos, também sem vontade de voltar.
Decorridos dois ou três meses, a coisa fechou.
Quando lá passo com a B. ainda lhe pergunto:
-
Tu lembras-te do café WC que
estava aqui?
-
Lembro papá!
-
É para nunca te esqueceres da
hipercriatividade dos portugueses.
7 comentários:
O único erro é vender isso no mercado português, que é (ainda) basto conservador e sensato. Se fizerem como os da Renova, que foram vender o papel higiénico preto no estrangeiro, a hiper-criatividade funciona perfeitamente.
Mas nós cá estamos muito ocupados a por o rabo a jeito para coisa como a Uber exportar a actividade de intermediação de táxis para a California. Olha aqui a adoração dos chicos fininhos: http://oinsurgente.org/2015/05/03/proibir-a-uber-e-como-parar-o-vento-com-as-maos/
O "Diretor da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica" está pronto a considerar uma mudança de intermediário na organização de serviços de transporte equivalente a mudanças radicais nos factores de produção. No dia em que a Uber tiver o exclusivo de carros sem motorista movidos a água, talvez. Até lá, são só uns sociopatas sem lei a querer ser intermediários no lugar dos intermediários.
Digamos que foi uma ideia de negócio que acabou na retrete.
Há criatividade que resulta e criatividade que não resulta.
Estes tipos de que o Jaquim fala tiveram uma ideia e correram com ela. Não resultou muito bem? OK, sem stress, tenta-se outra.
Não deixa de ser interessante ver uma pessoa como o Jaquim criticar a criatividade dos portugueses ao mesmo tempo que apoia a criatividade dos estrangeiros (expressa em coisas como o Uber, ou as outras startups de que o Jaquim tanto gosta).
O problema dos portugueses não é a criatividade (que é tanta como no estrangeiro). O problema dos portugueses é não terem coragem para correr com as suas ideias e terem medo do falhanço.
Rui Silva
Caro Rui,
Não seria melhor rever a cadeira de marketing do seu MBA?
Joaquim
Não, não revi a cadeira de marketing. Porque o haveria de fazer?
A esnagadora maioria das startups que o Jaquim tanto gosta são ideias falhadas (muitas vezes perfietamente destrambelhadas como a deste restaurante)
Porque é que haveremos de apreciar a capacidade de arriscar duns e criticar a "hipercriatividade" doutros? Porque uns são americanos e outros são portugueses? Porque uns são high-tech de direita e outros são low-tech de esquerda?
Eu aqui uso a maxima do Samuel Beckett:
"Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better."
Empreendorismo é isto.
Rui Silva
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