03 maio 2015

hipercriatividade 2


Há uns anos fui com a minha mais novita a um café de Matosinhos que já fechou mas que gostaria de recordar como um exemplo da hipercriatividade tuga.
O café tinha um tema decorativo a preto e branco, inspirado num WC, com as paredes em negro e o mobiliário em branco. As mesas eram banheiras viradas ao contrário, as cadeiras eram sanitas e a restante decoração acompanhava os acessórios habituais das casas de banho.
Um pormenor que muito nos divertiu foi o facto de não haver guardanapos. Em substituição o café disponibilizava rolos de papel higiénico, devidamente pendurados das paredes.
Lá tomamos um café e uma Cola...  até que a miúda pediu para ir ao WC, ao verdadeiro. Levantei-me com ela, segui as indicações e abri a porta das meninas.
-       Uau B., isto é que é! – disse. O WC também estava de luto, com uma tenebrosa e mínima luz de presença e a sanita – viva a criatividade – no centro, de costas para a porta.
-       Ó papá, acho que já não tenho vontade.
‹‹Pois não, pensei››. Isto tira qualquer vontade a qualquer um.
Pedimos a conta, por sinal bastante puxada, e saímos, também sem vontade de voltar.
Decorridos dois ou três meses, a coisa fechou.
Quando lá passo com a B. ainda lhe pergunto:
-       Tu lembras-te do café WC que estava aqui?
-       Lembro papá!
-       É para nunca te esqueceres da hipercriatividade dos portugueses.

7 comentários:

Euro2cent disse...

O único erro é vender isso no mercado português, que é (ainda) basto conservador e sensato. Se fizerem como os da Renova, que foram vender o papel higiénico preto no estrangeiro, a hiper-criatividade funciona perfeitamente.

Mas nós cá estamos muito ocupados a por o rabo a jeito para coisa como a Uber exportar a actividade de intermediação de táxis para a California. Olha aqui a adoração dos chicos fininhos: http://oinsurgente.org/2015/05/03/proibir-a-uber-e-como-parar-o-vento-com-as-maos/

O "Diretor da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica" está pronto a considerar uma mudança de intermediário na organização de serviços de transporte equivalente a mudanças radicais nos factores de produção. No dia em que a Uber tiver o exclusivo de carros sem motorista movidos a água, talvez. Até lá, são só uns sociopatas sem lei a querer ser intermediários no lugar dos intermediários.

Rui Alves disse...

Digamos que foi uma ideia de negócio que acabou na retrete.

Harry Lime disse...

Há criatividade que resulta e criatividade que não resulta.

Estes tipos de que o Jaquim fala tiveram uma ideia e correram com ela. Não resultou muito bem? OK, sem stress, tenta-se outra.

Não deixa de ser interessante ver uma pessoa como o Jaquim criticar a criatividade dos portugueses ao mesmo tempo que apoia a criatividade dos estrangeiros (expressa em coisas como o Uber, ou as outras startups de que o Jaquim tanto gosta).

O problema dos portugueses não é a criatividade (que é tanta como no estrangeiro). O problema dos portugueses é não terem coragem para correr com as suas ideias e terem medo do falhanço.

Rui Silva

Anónimo disse...

Caro Rui,

Não seria melhor rever a cadeira de marketing do seu MBA?

Joaquim

Harry Lime disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Harry Lime disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Harry Lime disse...

Não, não revi a cadeira de marketing. Porque o haveria de fazer?

A esnagadora maioria das startups que o Jaquim tanto gosta são ideias falhadas (muitas vezes perfietamente destrambelhadas como a deste restaurante)

Porque é que haveremos de apreciar a capacidade de arriscar duns e criticar a "hipercriatividade" doutros? Porque uns são americanos e outros são portugueses? Porque uns são high-tech de direita e outros são low-tech de esquerda?


Eu aqui uso a maxima do Samuel Beckett:

"Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better."

Empreendorismo é isto.

Rui Silva