28 novembro 2014

excepto para mim

Como passei muitos anos no estrangeiro, reconheço com facilidade os xenoenxertos culturais e a descaracterização a que foram sujeitos. É como se o Portugal moderno fosse uma espécie de “maison” de emigrantes

Esta frase do Joaquim escrita num post em baixo é muito significativa porque põe em evidência a diferença entre aquilo que nós gostaríamos de ser e aquilo que nós, na realidade, somos - a nossa cultura.

Como povo católico, nós gostaríamos de ser tudo, democratas e adeptos do Estado Direito, igualdade para todos e o respeito absoluto pela lei. Depois, ainda como povo católico, na realidade queremos é diferença e desprezamos a lei quando está em causa uma pessoa.

Claro que somos todos iguais perante a lei. Assim, por exemplo, um profissional que faça mal o seu trabalho com danos para terceiros, deve ser penalizado. É igual para todos. Um médico que faz mal uma operação vai preso, um motorista de autocarro que cause um acidente e provoque ferimentos ou a morte dos passageiros vai preso, um contabilista que vicie a contabilidade da sua empresa vai preso. Mas eu, como magistrado do Ministério Público ou Juiz, se acusar ou condenar indevidamente alguém, não me acontece nada. A lei é igual para todos - excepto para mim.

É assim a democracia e o Estado de Direito quando importados pelos portugueses - igual para todos excepto para mim. É a  cultura católica subjacente a estragar os desejos, uma cultura que preza a pessoa e a diferença, que não a lei e a igualdade.

Nós não somos sobretudo aquilo que gostaríamos de ser. Nós somos sobretudo aquilo que Deus, exprimindo-se através da comunidade e da tradição, quis que nós fossemos.

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