Se eu mandasse…
Por: Pedro Arroja
Agora que o mês de Setembro
chegou, retomamos o trabalho e as empresas voltam à sua actividade económica
normal, as consequências da falência do BES vão-se fazer sentir – a principal,
na minha opinião, uma redução substancial do fluxo de crédito às empresas por
parte do sistema bancário.
A questão que eu gostaria de
colocar neste artigo é a seguinte: “Se eu mandasse teria deixado o BES ir à
falência?”.
A resposta é não, definitivamente
não. Um banco que serve Portugal e os portugueses há quase 150 anos, um banco
dos maiores do país com uma quota de mercado de 20%, um banco profundamente
enraizado no sistema produtivo e empresarial português, um banco que a uma
semana do colapso, todos – incluindo as autoridades de supervisão –
consideravam um banco sólido, este banco, no espaço de uma semana, passa a não
valer nada e tem de ser abatido?
Nos dias que antecederam o
colapso do banco havia claramente um clima de pânico em redor do banco, em
parte, gerado pelos seus depositantes. As chamadas “corridas ao banco” já não
se fazem hoje através das clássicas filas de espera à porta do banco com os
depositantes a procurarem levantar os seus depósitos. Fazem-se por via
electrónica.
Teria competido ao Estado a
solução clássica nestas circunstâncias, tratando-se de um banco com a dimensão
do BES – emprestar dinheiro de emergência ao banco até que o pânico se
desvaneça e a confiança seja retomada.
Parece que esta solução foi
tentada ainda pela administração de Ricardo Salgado, mas o Governo rejeitou-a,
aparentemente sob o argumento de que não desejaria arriscar dinheiros públicos
numa instituição bancária privada (acabou por os arriscar na mesma, já que o
Fundo de Resolução foi financiado a 85% pelo Estado, e só em 15% pelos outros
bancos).
A decisão de salvar o BES saltou
então do Governo para o Banco de Portugal, mas como este está subordinado ao
BCE, acabou por ser o BCE, talvez escudado no desinteresse manifestado pelo
Governo português, a ditar o destino final do banco.
Se eu mandasse… o BES não tinha
ido à falência.
Mas este é precisamente o
problema central português. Não há quem mande e quem se disponha a assumir as
responsabilidades que o mando implica.
E assim desapareceu de um dia
para o outro uma instituição centenária portuguesa. Diz-se que para
experimentar um novo sistema que a União Europeia concebeu para salvar bancos.
E por que é que eles não experimentam com os bancos deles – holandeses,
finlandeses, alemães… ?
(in Vida Económica, hoje)
3 comentários:
http://portadaloja.blogspot.pt/2014/09/a-mundividencia-de-um-dos-advogados-das.html
Os negociadores do Estado e a Regulação do Banco de Portugal
O recente caso da mais que provável falta de rigor na regulação e supervisão do sistema bancário Português por parte do BdP vem, uma vez mais, demonstrar aquilo que os liberais sabem há muito: a história do intervencionismo tem sido mais frequentemente uma história de fracasso do que de sucesso.
Vejamos as coisas como elas tendem a ser. Ao que parece, estão a ser contratados físicos nucleares, matemáticos renomados e cientistas computacionais pelos principais distritos financeiros do globo para, fora daquilo que seria o seu habitat natural, desenharem um conjunto de ferramentas que permitam maximizar a rentabilidade da carteira de produtos financeiros das grandes empresas financeiras da city, de la defense, de Wall Street ou de Tóquio, tornando-os de tal modo complexos que só eles e quem os contrata os percebem. O que acontece de seguida nós sabemos: vendem-nos a governos em que os negociadores governamentais têm muito poucos incentivos para os desmontarem e perceberem o seu verdadeiro alcance. Afinal, como pode um quadro intermédio do Estado jogar de igual com igual com profissionais deste calibre, totalmente dedicados à causa e pagos principescamente pelo seu serviço?
A seguir também temos uma ideia do que se segue. Acusam quem lhes vendeu um produto complexo cuja análise e estudo não foi feita por diversas razões - incapacidade técnica, impreparação e inexperiência polulam seguramente entre as demais, porventura bem menos lisonjeiras para os negociadores nacionais - de lhes terem oferecido um derivado financeiro cujas variáveis analíticas eles jamais poderiam esperar que produzissem os efeitos depois verificados. Se tivessem lido os contratos talvez tivessem entendido que se não dominavam a ferramenta, o mais avisado seria não a subscrever. O que terão pensado então? «Não, eles seriam incapazes de nos enganarem desta forma. Afinal, somos representantes de um Estado». Reconhecem o paralelismo com a traição que o Governador do BdP diz ter sofrido? Talvez eles também tenham pensado outra coisa. Talvez tenham pensado o seguinte: «Também não vale a pena pensar muito nisso. O que interessa agora é maquilhar as contas, desorçamentar a coisa, fazer de conta que não existe aqui nenhum problema. Quem vier a seguir que feche a porta». Ou, dito de outra maneira, «os contribuintes que paguem. Já é tempo de se irem habituando».
O risco de monopolizar numa só entidade esta função que, por mais que se declare independente, é, na realidade, ou apêndice estatal; é que se a coisa não corre bem, como frequentemente não corre, as consequências podem ser desastrosas. Ao concentrar tanto poder em homens e mulheres que não têm as mesmas ferramentas que possuem aqueles com quem negoceiam, que não têm os mesmos incentivos, que não conseguem contratar a melhor e mais influente sociedade de advogados do País a quem prometem «prémios de jogo», leva-nos a concluir que o resultado final não podia ser diferente.
Tudo isto é já suficientemente mau para ser verdade.
Mas atenção: tudo isto, num futuro mais ou menos longínquo, vai repetir-se. Enquanto se focarem na enunciação das consequências e não na enumeração e ulterior ataques ás causas, isto vai repetir-se. Além disso, quem foge está sempre em vantagem, porque ocupa 24 horas do seu tempo a planear a dissimulação e a semear o equívoco no regulador. O regulador, esse, é mais provável que esteja preocupado com o desconto de IRS no recibo de vencimento desse mês ou na reforma que auferirá volvidos três anos. Numa luta tão desigual, só por milagre as coisas poderiam ser diferentes.
http://pensamentoliberalelibertario.blogspot.pt/2014/08/os-negociadores-do-estaod-e-regulacao.html
Caro PA,
Na hora da decisão, em pleno campo de batalha, Napoleão dizia que um mau general é preferível a dois bons.
Sempre segui esta máxima. A decisão é um acto solitário. Firme, mas solitário.
D. Costa
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