17 janeiro 2014

Salazar e a termodinâmica


Salazar tinha uma noção perfeita das limitações termodinâmicas de Portugal. Estamos condicionados por uma latitude, entre o equador e o Norte, que baliza o trabalho que produzimos e o investimento que fazemos na organização social.
No texto que reproduzi neste post, Salazar refere-se ao ‹‹comodismo nato e ao delírio burocrático do comum dos portugueses›› e ainda à sua ‹‹falta de iniciativa››. Ora este comodismo nato não é mais do que uma limitação física à quantidade de negentropia que conseguimos extrair do meio ambiente, circunstância que também trava a livre iniciativa e nos predispõe para o tal “delírio burocrático”.
Enquanto no Norte a burocracia serve para agilizar processos e fazê-los avançar de forma estruturada, em Portugal a burocracia serve para travar processos e garantir que a energia despendida é menor. O processo “está na gaveta à espera de um carimbo...”.
Acresce que o custo de oportunidade de trabalhar em Portugal é mais elevado do que, por exemplo, no RU. Um dia numa das nossas belas praias vale mais do que um período idêntico a passear no Hyde Park. E é por isso que os bifes vêm para cá passar férias.
Neste enquadramento, é evidente que as políticas socialistas são mais nocivas para Portugal do que para os países do Norte. Salazar estava (e continua) cheio de razão.

13 comentários:

Ricciardi disse...

É engraçado, ainda hoje estive a falar com um empresário alemão de uma multinacional que tambem opera em Portugal. E o que ele me diz é que os engenheiros portugueses (referia-se aos engenheiros mecanicos) eram muitissimo melhores e mais eficientes do que qualquer outro trabalhador onde a empresa tem negócios. Ao ponto de estar por cá à procura de mais pessoal dessa área para levar para a alemanha.
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Não há país para onde os portugueses emigram onde não sejam reconhecidos por excelentes trabalhadores.
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Então, os portugueses são bons para os estrangeiros e maus para o Salazar?
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Há qualquer coisa entranhada nesse discurso que não está bem. O que me parece, pela experiencia que vou tendo, é que em Portugal as lideranças/chefias/empresários são muito fraquinhas. Eu lembro-me bem do primeiro trabalho que tive. Não sabia o que fazer e ninguem me disse o que esperava de mim. Atiraram-me para ali. Só ao fim de uns bons meses é que começei a ser util à empresa. O 2º trabalho que tive foi numa multinacional estrangeira. Nessa empresa logo no primeiro dia foi-me dito por escrito aquilo que esperavam de mim. Quais eram os meus objectivos anuais, mensais e semanais assim como as tarefas diárias que esperavam de mim. Eu assinei e comprometi-me. Fiquei logo consciente do que tinha a fazer e fui produtivo mais cedo. O 3º trabalho foi outra vez numa instituição portuguesa, na area bancária. Tambem aí fui atirado para o molho.
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Enfim, o que Salazar talvez nunca tenha compreendido é que este povo é imensamente capaz e eficiente, como se prova com o desemprenho no estrangeiro, mas é preciso que as chefias tenham a qualidade que nunca tiveram.
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Rb

Ricciardi disse...

Quer-me parecer que nos dias de hoje a qualidade das chefias está bastante melhor.
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E a próxima geração ainda será melhor. Estão muitissimo melhor preparados e formados do que no tempo de Salazar. Os empresários já não são homens de 4ª classe que se fizeram por mérito próprio e que ainda se vê em Portugal (cada vez menos), mas já são pessoas com conhecimentos e mundo.
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O investimento na educação foi essencial, mau grado todos os erros que se foram cometendo. A chusma de gente portuguesa, gente nova, que eu encontro no estrangeiro é assombrosa. Gente competentissima. Em várias áreas.
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Rb

muja disse...

Atenção que é preciso ver em que ano o texto foi escrito.

O português dos anos vinte não era o mesmo de 60. Salazar podia bem estar a referir-se ao português típico da Ia República, cuja situação económico-política era semelhante à presente. Não admira que os diagnósticos sociais sejam semelhantes. Agora também se diz que o português é preguiçoso, etc...

Enfim, o que Salazar talvez nunca tenha compreendido é que este povo é imensamente capaz e eficiente

Evidentemente compreendia, senão que sentido tinha aceitar a tarefa com que foi incumbido?
Basta olhar para a História para se perceber do fomos (logo somos) capazes. Mas até o Rb, por vezes, tem dúvidas disso...

Mas diz que são as chefias e eu concordo plenamente.

joserui disse...

Onde é que diz que os portugueses eram maus para Salazar?...
Tendo em conta a emigração recorde destes anos (e estamos no século XXI, não nos anos 60), parece que para os governantes pós-25A, os portugueses ainda são piores... e ao contrário da emigração do tempo de Salazar, hoje quem emigra são os mais qualificados, ou boa parte deles. -- JRF

marina disse...

parece mais um problema de falta de energia :) e se comessem mais carne e menos peixe ? peixe não puxa carroça :)

Anónimo disse...

ricciardi. há alguns anos trabalhei numa empresa pequena e aconteceu-me exactamente a mesma coisa. Só aguentei lá 3 meses (era ainda um miúdo) mas ainda hoje não sei ao certo qual era lá o meu trabalho. Sei que fazia de tudo e mais alguma coisa e que trabalhava bem mais do que quem estava a minha volta. Meteram-me lá para dentro e comecei logo a atender telefonemas sem saber de que assuntos se tratava, e a atender fornecedores a queixarem-se de tudo e mais alguma coisa sem eu saber o que a empresa queria que eu dissesse. Ainda para mais quando queriam falar com o patrão eu tinha primeiro de lhe perguntar (ao patrão) se ele "estava" ou não. quase sempre tinha que dizer que ele não estava lá e a seguir o patrão saía e passava pelos fornecedores. Toda aquela experiência foi surreal. Meteram-me logo a ir aos bancos com milhares de euros no bolso, aos correios,empresas de telecomunicações, ao notariado etc. E ainda a fazer tudo o que era necessário fazer na parte do escritório, mas nunca me explicavam nada de nada, nunca sabia que trabalho havia, nunca me diziam como tinha de abordar clientes ou fornecedores, e depois disso tudo pagaram-me cerca de 200 e tal euros por mês (isto passou-se há 5 anos atrás). Para além de tudo isso o ambiente lá entre o patrão e todos os outros era horrível, quando ele chegava ficava tudo sério e cheio de medo,mal ele saía ficava tudo á vontade. Ás vezes passavam o dia a conversar e a fazer o menos possível. Chegou a uma altura em que pensei bem o que eu estava a ganhar com aquilo e cheguei á conclusão que estava a perder bem mais
Jorge

José Lopes da Silva disse...

"Portugal é, para todos os efeitos, auto-suficiente em alimentos. Quase tudo o que importa poderia produzir-se cá."

MEC

http://lifestyle.publico.pt/napontadalingua/329776_a-incuria-a-cegueira-e-a-estupidez-que-nos-levam-a-virar-as-costas-a-bonanca-das-amendoeiras-do-alga

Euro2cent disse...

> e se comessem mais carne e menos peixe ? peixe não puxa carroça :)

Como o patrão do Jeeves explicava, o peixe tem muito fósforo para pôr os miolos a funcionar.

Para puxar carroças, bestas de tiro é o que não falta por aí, e até se alimentam a palha ...

zézinho disse...

Para o sefardita(safardana)do Ricciardi, o Salazar funciona como
uma muleta. Mal o lobriga, marra logo.

Anónimo disse...

Bem, tambem me parece q o texto deve ter sido tirado de um contexto qualquer, oh muja.
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Rb

Anónimo disse...

Sim JRF, eu penso que as teorias economicas, todas elas, esbarram com uma caracteristica q o povo portugues tem, seja ele analfabeto ou licenciado, que é nao se submeterem e basarem pacificamente para outros paises.
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Mesmo o Marcelo Caetano nao conseguia explicar o fenomeno. Ele chegou a dizer q se tratava de uma espécie de moda.
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Os actuais tambem nao sabem explicar.
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Nao fazemos grandes manifestacoes, lutas. Basamos, e pronto.
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Se se acha que ganhamos produtividade e consequentemente competitividade baixando salarios ao pessoal, o portugues responde saindo do país e procura melhors salarios noutros lados.
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E fa-lo em massa. Às dezenas de milhar. Centenas. O pessoal prefere nao se sujeitar a ganhar umas codeas. A produtividade nao evolui por causa disso.
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E mesmo os q ficam a ganhar menos, fazem tudo o que é possivel para fugir aos impostos. Os que nao conseguem nem emigrar nem fugir aos impostos, inventam formas de obter subsidios do estado.
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De uma forma ou de outra a teoria economica falha sempre. Para bem e para o mal.
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Rb
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Ricciardi disse...

A verdade, verdadinha, é uma só. As empresas organizadas e com chefias competentes que operam em Portugal são bem produtivas com os trabalhadores portugueses, esses preguiçosos.
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Segundo dizem são mesmo bastante eficientes, mesmo quando comparadas com as filiais de outros países. A IBM portugal, a Autoeuropa, a Leika...
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Os trabalhadores são uvas do mesma cepa lusitana, preguiçosos e improdutivos e que se encostam, dizem. São o mesmo povo que vive termodinamicamente na mesmissima latitude.
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E no entanto são apreciados pelos estranjas, cá dentro e lá fora.
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Rb

Anónimo disse...

Ó Jorge, estás a criticar a empresa pequena em que trabalhaste mas, pelos vistos, só lá é que aprendeste alguma coisa!...
E não sabias nada, devias era estar agradecido...