06 dezembro 2013

uma tradição de liberdade

Aquilo que eu sou, devo-o a mim ou aos outros, isto é, à comunidade?

Penso que é na resposta a esta questão que se funda o verdadeiro e justo regime económico que deve governar uma comunidade, seja uma família, uma nação ou mesmo ou mundo. É também na resposta a esta questão que se podem esclarecer muitos dos mal-entendidos acerca de certas afirmações do Papa Francisco, como por exemplo aqueles que o Joaquim tem levantado aqui.

A verdadeira resposta à questão é a ambos - a mim e aos outros (comunidade).Não me interessa aqui tanto  discutir a questão mais fina de saber se devo mais a mim ou mais aos outros (comunidade), embora possa adiantar a resposta: devo mais (muito mais) aos outros, isto é, à comunidade, do que a  mim próprio.

Mas, sendo assim, quando faço um trabalho ou um negócio e recebo 100, só uma parte é devida a mim, a outra é devida à comunidade. Só no caso extremo, e obviamente falso,  em que eu considero que me fiz a mim próprio é que eu posso reclamar os 100 inteiramente para mim. No outro caso extremo, e igualmente falso, em que se considere que aquilo que eu sou se deve inteiramente à comunidade, sem qualquer contribuição pessoal minha, então os 100 são inteiramente da comunidade.

Nestes dois casos extremos, se fundam as formas mais radicais do liberalismo e do socialismo. A verdade, porém, está na resposta intermédia, eu devo aquilo que sou, em parte a mim, em parte à comunidade, mais à comunidade do que a mim próprio.

É um privilégio que a comunidade me concede de que  eu possa guardar os 100 para mim, em lugar de se apropriar imediatamente da maior parte. A propriedade privada surge então como uma tradição da comunidade que nos permite que guardemos na totalidade para nós o fruto do nosso trabalho quando a realidade  é que uma parte, a maior parte, é devida à comunidade.

Esta tradição é também uma tradição de liberdade que me permite que seja eu, e não a comunidade,  a decidir como, quando e em favor de quem saldar a dívida para com ela. É aqui que esta tradição católica se distingue radicalmente do socialismo. No socialismo, a  comunidade apropria-se coercivamente através dos impostos da maior parte daqueles  100 para os utilizar, alegadamente, em favor da própria comunidade.

O catolicismo fica-se por apelos à redistribuição da riqueza, deixando à liberdade de cada um responder ou não a esses apelos - e é isso que o Papa Francisco tem feito. O socialismo passa à acção fazendo a redistribuição coerciva da riqueza.

1 comentário:

Anónimo disse...

caro PA.

isto nao tem nada a ver com o seu artigo, mas creio que sera interessante para si:

http://static.businessinsider.com/image/52a235e16bb3f70a6c68f73f/image.jpg

CC