14 outubro 2013

perdi-me na analogia


É por isso que a ciência económica criada pelo Adam Smith, quando eu saio de casa de manhã para ir para o trabalho, não se interessa nada pelos meus motivos, se vou ganhar dinheiro para sustentar a minha família ou para o estoirar no álcool, no jogo e nas mulheres, que é onde frequentemente estoira o dinheiro um homem que não tem família.

A ciência económica só se interessa por mim a partir do momento em que eu saio de casa para ir para o trabalho - eu sou agora um participante do mercado de trabalho - e volta a desinteressar-se de mim a partir do momento em que, à noite, eu volto a casa. Aquilo que se passa lá em casa não lhe interessa minimamente - em particular, se tenho uma família ou se vivo sozinho.

Antes de prosseguir, eu gostaria aqui de utilizar uma analogia que me  parece sugestiva para caracterizar a filosofia do conhecimento moderna, protagonizada pelo Kant. O Kant elaborou sobre o pensamento do Descartes e do Hume para a construir.

Ele afirma que nós não podemos conhecer a essência ou a verdade das coisas, apenas as suas aparências ou manifestações. Nos termos da analogia, aquilo que se pode conhecer de mim é aquilo que eu sou em público, que está à vista de todos, aquilo que eu sou desde que saio de manhã de casa até regressar a ela à noite. Mais nada.

Mais nada?

Mais nada, se eu viver sozinho - como viveram o Kant e também o Hume, o Descartes e o Adam Smith. Porque, se eu tiver uma família, a minha famílias sabe muito mais de mim, conhece verdadeiramente aquilo que eu sou e, por vezes, mais ainda do que eu.

O meu filho B. disse-me sem hesitar que eu sou uma pessoa muito bondosa. Eu não sabia disso, em parte, porque nunca tinha pensado nisso. Mas pela minha aparência em público dificilmente alguém iria saber que eu sou uma pessoa bondosa.

Será de confiar no julgamento do B? Claro, o B. partilhou a intimidade da minha casa durante vinte cinco anos. Tem obrigação de me conhecer. É altura é de me perguntar o que é que eu próprio penso acerca disso.

É verdade. Claro que sou uma pessoa bondosa, eu é que nunca me tinha dado conta disso. Um homem que passa a sua vida inteira (37 anos) a trabalhar para o bem dos seus filhos, que sempre pôs o bem dos seus filhos à frente do seu próprio, acaba a fazer o bem por inércia, fica viciado a fazer bem, torna-se bondoso sem se dar conta.

Ora, o Kant nega a possibilidade de isto ser verdade - de eu ser um homem bondoso. E só reconheceria isso como verdade se eu expusesse a minha bondade (ou falta dela) ao escrutínio público ou, em sua substituição, a um grupo de especialistas, que não me conhecem, porque esses é que vão determinar se eu sou bondoso ou não.

O veredicto do meu filho B., que me conhece na intimidade,  não conta para nada.

Entretanto, eu que queria falar sobre outro assunto, distraí-me outra vez a divagar sobre o Kant. Retomo o fio à meada no próximo post. Já toda a gente percebeu a minha obsessão com o Kant (o carácter obsessivo da minha personalidade foi apontado pelo meu filho, mas não é garantia da verdade, segundo o Kant. Eu vou empregar um grupo de especialistas para me fazerem um teste de personalidade a este respeito - esses, que não me conhecem,  é que têm a verdade).

E a minha obsessão com o Kant é porque eu penso que ele era um palerma e um destruidor (era esta a alcunha, o destruidor, que ele tinha lá na sua parvónia) de se lhe tirar  chapéu. E um palerma-destruidor extraordinariamente influente sobre outros palermas-destruidores que seguiram as suas pegadas.

3 comentários:

zazie disse...

Não se meta a falar do que não entende.

A coisa-em-si = o númeno- o que está para além do que nós podemos conhecer= a metafísica.


Não há aqui "aparência" alguma social como v. traduziu por não perceber conceitos filosóficos.

Anónimo disse...

O dinheiro nao se estoira. É gasto, é poupado ou é investido.
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Quanso é gasto nao é estoirado. Se é no alcool vai direitinho para a fabrica q o faz. Se é nas mulheres vai direitnho para o uso delas. Se é no jogo vai direitinho para os casinos pagarem salarios aos paizinhos e maezinhas de familia.
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Rb

zazie disse...

ehehehe é verdade- se há coisa que não se pode estourar é mesmo o dinheiro- aferrolhando ou desbaratando as notinhas fornicam na mesma.