Desde que, há duas ou três semanas, dei de caras com esta estatística que eu todos os dias a cito. Tornou-se a minha nova obsessão.
Todos os dias encontro alguém que comenta comigo a situação do país: "Isto vai de mal a pior, não é?...". Eu encolho os ombros, cito a estatística - 75% dos casamentos em Portugal terminam em divórcio - e depois digo: "Se, nos tempos que correm, os portugueses, na sua esmagadora maioria, não são capazes de manter, menos ainda de governar, uma família - que é a mais pequena e a mais simples de todas as comunidades humanas - como é que eles hão-de ser capazes de governar a nação, que é uma comunidade muito mais numerosa e complexa?".
Não tenho deixado de pensar nas razões que levam os portugueses a esta inacreditável taxa de divórcio. São muitas, mas eu gostaria aqui de me concentrar numa delas. Trata-se de dois valores sociais que estão muito na moda - a igualdade e a liberdade de escolha - ambos protestantes, um mais socialista ou luterano, outro mais liberal ou calvinista.
Como é a vida de um casal que acredita nestes valores e os aplica ao seu casamento?. E como vai ser esse casamento?
Estou a imaginá-los no supermercado, vão os dois porque acreditam na igualdade. Secção dos guardanapos. Ela quer levar guardanapos azuis, ele prefere os vermelhos. Uma pequena discussão que acaba por se resolver. Secção do leite: ele quer leite gordo, ela quer leite magro. Outra pequena discussão que acaba por se resolver.
E o que dizer da escolha dos cortinados lá para casa, e dos móveis, e dos tapetes, e a marca do papel higiénico e da pasta para os dentes? Outras tantas discussões.
Nenhuma destas discussões constitui uma ferida grande nas relações do casal e provoca, por si, o divórcio. Mas são tantas e tão frequentes, e ao longo de tanto tempo, às tantas existem tantas feridas, que eles já não se suportam um ao outro. O divórcio é inevitável.
Então, como evitar isto?
Reconhecendo que o homem e a mulher não são iguais, mas muito diferentes, e pondo a liberdade de escolha na prateleira do armário. Existem certas áreas da vida do casal, onde é ela que tem a última palavra e preferentemente a única; existem outras áreas, onde é ele. Qual é a linha divisória? Depende de casal para casal, mas uma norma é que nas decisões que respeitam à casa seja ela a rainha (v.g., guardanapos, móveis e cortinados) e nas decisões que transcendem a casa seja ele o rei (v.g., carro, onde é que se vai arranjar o dinheiro para sustentar a família, etc.).
Eu, a escolher aquilo que se vai comer ao almoço e ao jantar em cada um dos dias da próxima semana lá em minha casa? Que graça, eu sei lá escolher uma coisa dessas... Eu sempre estive habituado a comer aquilo que uma mulher me punha à frente - desde pequenino. Nunca tive discussões conjugais por causa disso.
19 comentários:
Peço desculpa por desviar o assunto, mas não consigo deixar de pensar que se tivéssemos uma cultura diferente em relação às armas de fogo, o rapaz de Massamá teria conseguido resultados diferentes.
esta inacreditável taxa de divórcio
O que me parece inacreditável é a taxa de casamento, não de divórcio.
Ou seja, como é que, sabendo-se que a maior parte dos casamentos termina em divórcio, ainda assim as pessoas insistem em casar-se - com toda a despesa e stress que isso em geral implica.
Bolas, para é que se casam? Para esbanjar dinheiro? Se já sabem que daqui a um ou dois anos se vão separar, não seria muito mais económico evitarem casar?
A lógiva deste Lavoura é o máximo.
Se as pessoas se separam, então nunca deviam era juntar-se.
o facto de se juntarem e legalizarem isso por casamento é um detalhe na questão.
Não seria por não se casarem que se separavam menos.
o problema é separação, não é divórcio.
"A lógiva deste Lavoura é o máximo." Hehehe... há detalhes que acabam por demonstrar tudo sobre o interesse da conversa de certas pessoas... é assim nisto, como será no resto?... Igual. -- JRF
Há décadas um amigo meu apareceu para anunciar que se ia casar etc... Logo ali, teve início uma discussão sobre o sofá que iam comprar...
E logo ali, depois, eu virei-me para a minha namorada da altura (é a mulher de hoje) e perguntei — Que se passou aqui?... não entendo... vão-se casar estes dois?...
Não casaram... aliás ele até hoje não casou... mas conheço quem se tenha casado e onde não há nada, dos exemplos que dá o PA a coisas ainda mais pequenas, que não dê discussão ou pelo menos troca de argumentos...
Viver assim, nem que seja um ano, é obra. -- JRF
Concordo com o PA... a história da igualdade minou tudo... basta observar a maternidade/paternidade... como é que poderia ser igual? E há pais que querem mesmo ser iguais... e até os há mais papistas que o Papa... que o sonho deve ser serem eles a parir as criancinhas... infelizmente, a natureza fez-nos assim deve ser por uma razão...
E acrescento... do que tenho observado o outro grande factor de mina os casamentos e a sociedade em geral é a gestão de expectativas... são irrealistas e mal geridas. -- JRF
Não sei nada disso. No meu tempo a razão era mais prosaica- um deles andava enfeitado.
Na geração da minha mãe as mulheres, a partir de dada altura, deixavam-se trocar por duas mais novas, desde que ele continuasse a "contribuir para a casa".
Depois, passaram a sair de casa por esse motivo. Agora creio que a coisa está um tanto igualitária, mas elas nem com subsídio de férias e de Natal, ou mesmo pensão de sobrevivência, conseguem o mesmo em duplicado.
E o que tenho vindo a assistir é a deixarem os maridos para experimentarem a tal "liberdade" e depois sustentam fedelhos chunga a fazerem de amantes.
O que mais por aí há são cinquentonas a aturarem labregos de 30.
Posso ser muito liberal em muita coisa mas isso sempre me pareceu caricato.
E não são sequer coisa de deitar fora.
Ainda recentemente presenciei um caso em que ela é lindíssima; doutorada, a fazer pos-doc, na casa dos 50 mas a parecer no máximo 40 e a sustentar um tipo de 40 que pura e simplesmente nem é giro e não faz rigorosamente nada.
Eu não era capaz de ter sequer uma rapidinha com o gajo- nem que não houvesse mais nadinha nas redondezas.
Pois ela largou tudo, sustenta-o a pão-de-ló e ele já faz projectos à vida, contando com o dinheiro dela.
Lindíssimas, inteligente e chegou aos 50 sem filhos.
Pela carreira- aposto.
Agora adoptou este. Qualquer dia passa a animal doméstico.
Zazie... conheço alguém muito próximo, a caminho dos 50, sem marido e filhos... grande carreira, inteligente ao máximo, bom aspecto e na minha opinião material para casar e manter... mas por algum motivo, outros não vêem isso... aparece só quem não valha nada...
Mas, a falta de auto-estima é atroz... temo que chegue o dia em que aceite um desses inúteis a viver à sua custa... um abusador, aproveitador e enganador... gostava de dizer que isso só por cima de mim morto... mas se calhar não vai ser bem assim... a vida é complicada!... -- JRF
Olha, não sei. Há coisas que não entendo.
Ele é divertido e assim. Mas não faz sentido. Ele chegou aos 40 a viver deste modo- quando não é a mãe é alguma mulher que o sustenta.
E bem, com brutas viagens e cursinhos para entreter, todos pagos.
Olha- é de esquerda- é comuna beto
ahahahaha
E ela não sei o que vê ali nem para que precisa daquilo.
Ela não tem apenas bom aspecto- é linda e doce. Muito feminina, um docinho e a sustentar o comuna calão.
Mas este ainda é decente; não é labrego.
Pior é cinquentonas a aturarem labregos trintões.
Dá-me volt às tripas ver aquilo. Porque é óbvio que é mais uma entre outras tantas.
Mas são burras. Não conhecem os homens e lá devem precisar de companhia só porque sim. Para fingir que assim tem cara-metade quando tem chulo que nem para carroceiro devia servir.
Também eu comia o que em minha casa a minha avó e depois a minha tia me punham à frente. Quando fui morar sozinho passo a comer o que eu próprio compro e ponho à minha frente depois de cozinhar. O que não tem dificuldade NENHUMA.
Sugeria que pensasse um bocadinho melhor na sua "nova obsessão", ou, pelo menos, que tentasse arranjar outro tipo de justificação.
Vou deixar de lado a "parte ideológica" da questão e limitar-me aos factos...
1. É abusivo (no mínimo), concluir que "75% dos casamentos em Portugal acabam em divórcio", baseado na estatística que cita.
O que essa estatística diz é que, durante o ano de 2012, em Portugal, o rácio entre divórcios e casamentos foi de cerca de 75%. É "ligeiramente" diferente. Quanto muito, a única coisa que pode concluir (analisando os últimos anos), é que tem havido menos casamentos, tendo em conta que o número de divórcios até tem sido mais ou menos estável desde 2002.
2. Estabelecer uma relação entre esse tipo de indicadores (casamentos e divórcios) e a situação do país, também não me parece muito sério. Basta comparar esses indicadores com outros países com situações bem melhores do que a nossa para perceber que, se calhar, não é bem por aí...
Ricardo Moutinho
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