26 outubro 2013

eram todos solteiros

O Papa Francisco deu esta semana uma catequese onde disse, sem meias palavras, que a figura principal da Igreja é Maria, não Cristo. Obviamente. Maria é a condição sine qua non de Cristo. Maria pode bem existir sem Cristo. Cristo é que nunca poderia ter existido sem Maria.

Cristo viveu a sua vida pública entre os 30 e os 33 anos de idade. Maria na altura era uma mulher madura, à volta de cinquenta anos.

Foi Lutero que iniciou a reforma protestante,  publicando as suas célebres 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg a 31 de Outubro de 1517. Tinha então 33 anos (repare na coincidência com a idade de Cristo), faria 34 uns dias depois, a 10 de Novembro.

É neste ponto que eu gostaria de sugerir uma simbologia para a revolta protestante. É a revolta de um homem jovem e na força da idade contra uma mulher madura, é a revolta de Cristo, na pessoa de Lutero, contra a Igreja, na pessoa de Maria. É a revolta do filho contra a mãe na disputa pela centralidade do reino de Deus.

As batalhas que a partir de então se travaram no mundo cristão, entre protestantes e católicos, foram batalhas pela conquista dos espíritos. E os protestantes, até hoje, saíram esmagadoramente vencedores. Espanha, Portugal e Itália, que organizaram a defesa católica, saíram humilhantemente derrotados.

A partir daí a vida destes países, que chegaram a dominar o mundo, foi de declínio e queda, ao mesmo tempo que os países protestantes praticamente se tornaram donos do mundo. Os efeitos dessa derrota permanecem até hoje no espírito dos portugueses, dos espanhóis e dos italianos.

Os portugueses são um caso paradigmático, perderam a auto-estima, convenceram-se que a razão e a verdade estavam do outro lado, perderam a confiança em si próprios, passaram a desvalorizar-se a si mesmos e tudo o que era seu e a valorizar tudo aquilo que vinha do norte da Europa e do mundo protestante. A tal ponto que por diversas ocasiões na sua história recente se deixaram tomar pelas ideias e pelas instituições do protestantismo, a última vez nos últimos quarenta anos (mais intensamente, após a adesão à União Europeia) e sempre com os mesmo efeitos ruinosos. Agora parecem mesmo resignados a deixar-se governar pelo país que é a pátria do protestantismo, e cuja   primeira-ministra, curiosamente,   é filha de um pastor luterano.

O mundo católico perdeu a batalha  pelos espíritos. E, no entanto, a razão e a verdade estavam do nosso lado. Como foi isto possível? Esta é uma questão para a qual procuro resposta há quase trinta anos, tanto mais intensamente quanto é certo que nos últimos anos me convenci absolutamente de que a razão e a verdade estavam do nosso lado. Como foi isto possível?

Só muito recentemente comecei a encontrar a resposta quando me ocorreu "contar espingardas" dum lado e doutro do campo de batalha, quantos combatentes estavam do lado de lá e quem eram, e quantos combatentes estavam do lado de cá e quem eram. Falei no passado, mas a questão mantém-se viva - vivíssima - no presente.

Do lado de lá combatia-se em nome de uma causa masculina, a figura de Cristo, concretizada no princípio protestante "Solo Christus", contra uma figura de mulher - Maria, a Igreja. Esta causa arregimentou homens de todas as espécies, casados e solteiros, religiosos e não religiosos,  muitos judeus e até alguns católicos - Lutero, Descartes, Locke, Hume, Rousseau, Voltaire, Kant, Hegel, Marx, e tantos outros mais modernos.

Do lado de cá combatia-se em nome de uma causa feminina - a Igreja, Maria. Esta causa era defendida por combatentes que também eram homens, mas homens de uma só espécie - padres, sendo de destacar os jesuítas. Ora, estes homens que defendiam as mulheres, simbolicamente representadas por Maria, tinham todos uma característica comum e muito peculiar - eram todos solteiros.

Homens solteiros a defenderem mulheres? Como assim se, sendo solteiros, eles não sabem o que são mulheres senão de uma forma muito superficial, e simbolicamente através da figura de Maria? Nunca tendo vivido em intimidade com mulheres, estes homens não sabem verdadeiramente o que são mulheres.

Parece que o destino deste combate - que, não é de mais recordar, era um combate pelos espíritos - estava traçado à partida. Não apenas as forças do lado de lá eram muito mais numerosas, envolvendo homens de todas as espécies, como as forças do lado de cá não conheciam bem aquilo que estavam a defender - defendiam mulheres sem, verdadeiramente, conhecerem quem defendiam.

A derrota só podia ser avassaladora. E foi de tal modo avassaladora que ainda hoje nos países derrotados, como Portugal, as pessoas - especialmente os seus intelectuais -  prestam vassalagem aos generais do inimigo.

7 comentários:

Vivendi disse...

Excelente.

E eu seguindo a minha função de copista com uma admiração especial pela filosofia escolástica partilho o seguinte:

"Um palpiteiro cujo nome me escapa argumentou, lá em baixo da página, que a Inquisição matou, sim, algumas pessoas inermes, e por delito de opinião. Sim, isso aconteceu, mas não foi nunca a regra. Mas praticamente TODOS os milhares de católicos massacrados pelas rebeliões de cátaros, hussitas, taboritas, etc., foram-no estritamente E EXCLUSIVAMENTE por delito de opinião, por serem católicos e somente por isso (embora isso às vezes servisse também de pretexto para roubar os seus bens). Como comparar um punhado de erros judiciários, de um lado, com um massacre geral, deliberado e sistemático, do outro?
Ademais, é preciso levar em consideração que a Igreja Católica só apelou às armas e à repressão muito tardiamente, depois de dez séculos de existência pacífica e resignada entre martírios e inumeráveis atos de santidade (a primeira Cruzada começou em 1096, a Inquisição por volta de 1250), ao passo que as rebeliões que desaguariam na Reforma protestante começaram matando gente DESDE O PRIMEIRO DIA e continuaram a fazê-lo depois, mesmo nas áreas dominadas hegemonicamente pelo protestantismo. Se isso não marca uma diferença de vocações, é então um fenômeno inexplicável.
Sem querer puxar polêmicas teológicas, e atendo-nos à simples comparacão numérica de crimes com crimes, a coisa é o inverso do que o Julio disse. NENHUM PROTESTANTE TEM AUTORIDADE MORAL PARA ACUSAR A IGREJA CATÓLICA DE VIOLÊNCIA. Acuse-a de outra coisa, discuta os dogmas, esbraveje contra os padres pedófilos (embora haja mais pedófilos entre os pastores protestantes), mas não levante acusações de violência que se voltarão contra os fundadores da sua própria igreja."

Olavo de Carvalho

Prof. quando começar a sua missão pergunte as mulheres o que acham acham que foi mais terrível a inquisição ou a revolução protestante. Verifique o que as escolas andam a ensinar às criancinhas.

Vivendi disse...

Com o declínio dos impérios português e espanhol, a filosofia medieval cristã praticamente desapareceu, enquanto o cartesianismo, o positivismo e o kantianismo atingiam o seu auge.

Ricciardi disse...

"Maria pode bem existir sem Cristo. Cristo é que nunca poderia ter existido sem Maria."
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PA, é bom que esteja bem ciente de que Cristo é Deus. Como é q vc argumenta que Deus nao poderia ter existido sem Maria?
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Isso nao é argumento válido para o catolicismo.
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Por outro lado, os protestantes exageram quando desvalorizam as honrarias que devem merecer os homens de boas obras e fé. Os Escolhidos. Todos os santos e santas e Maria, claro que nao deixou de ser mae do Deus feito homem e que o colocou no caminho certo, nomeadamente quando o "obrigou" nas bodas de canaa a por-se fino e a comecar a sua missao.
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Rb

Ricciardi disse...

Em momento algum do texto do Papa se diz q a figura central da Igreja é Maria e não Cristo.
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Isso seria um heresia. A figura central da Igreja é mesmo Cristo. Nao podia ser de outra forma. Caso contratrio chamar-se-ia Marianismo e não Cristianismo.
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Isso nao quer dizer que nao se releve a figura de Maria como o fazem os protestantes.
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Rb

Anónimo disse...

Nesta guerra pelos espíritos o Pedro tem, nos últimos meses, conseguido conquistar o meu.

Lura do Grilo disse...

Sacrilégio ... O Pedro segue os pregadores Marianistas que afirmam que a Virgem pode conseguir o perdão daqueles pecados que mais ninguém consegue: nem Cristo. Maria sempre aceitou a providência de Cristo mesmo ao transformar a água em vinho.

Ricciardi disse...

Pois, mas eu vou mais "à bola" com o catoliscismo precisamente porque relevam as obras, como quem diz, o Exemplo.
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No catolicismo um gajo pode ser santo pelas obras. E os protestantes acham q a fé e a predistinacao é q é importante para a "salvacao".
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Ora, eu posso ser santo. Todos podem atingirq a santidade no catolicismo e para isso basta que façam boas obras. As obras estao à frente dos preceitos da fé. Primeiro faz as pazes com o teu amigo e depois vem rezar.
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Rb