Que tipo de ser é o Homem? Quais são os seus
atributos essenciais?
Enquanto ser vivo, as ações do Homem têm
origem em si próprio e são orientadas para um objectivo – a preservação da vida.
A razão é o principal instrumento de
sobrevivência do Homem.
A razão é um atributo individual. Não há uma
mente colectiva.
Se a razão é um atributo individual; e se a
escolha de pensar ou não pensar controla todas as outras escolhas do Homem e os
seus resultados, incluindo as emoções que sente e as ações que desenvolve;
então o Homem é um ser soberano. As suas faculdades cognitivas determinam não
só as suas conclusões, mas também o seu carácter e vida. Neste sentido o Homem
é uma obra de si próprio.
Se usarmos o termo “alma”, para nos referirmos
à essência da pessoa, podemos afirmar que o Homem faz a sua própria alma –
“self-made soul” *.
Leonard Peikoff
Comentário:
Entramos agora nos capítulos mais
interessantes do Objectivismo. As respostas às perguntas que a Ayn Rand coloca
vão determinar toda a sua Ética e Política, os tópicos mais polémicos da sua
filosofia.
O Homem, como todos os outros seres vivos, é
um elemento de uma espécie – o Homo Sapiens.
As suas ações procuram defender e preservar a
própria vida, mas não é esse o seu objectivo último, ao contrário do que afirma
Rand. O nosso grande e último objectivo é, na minha opinião, a sobrevivência da
tribo (ou da espécie).
A principal característica dos seres humanos
não é a racionalidade, mas a sociabilidade, a tendência genética, que herdámos
nos nossos antepassados, para nos integrarmos em tribos e colocarmos o
interesse supremo da tribo acima dos nossos interesses individuais. Chamemos
altruísmo a esta tendência que o Edward O. Wilson julga resultar de um
comportamento eusocial.
Este altruísmo manifesta-se desde logo a nível
familiar, mas também na tribo. Perante um ataque, por exemplo, todos se
sacrificam na defesa do colectivo.
Não vou voltar a contestar a afirmação de que
“A razão é o principal instrumento de sobrevivência do Homem”, porque já o fiz
num post anterior.
Gostaria, contudo, de comentar a afirmação
seguinte: “A razão é um atributo individual. Não há uma mente colectiva".
É verdade que a razão é um atributo individual,
mas é um atributo que necessita de ser sancionado, ou validado, por algum
consenso. Pela tradição, por exemplo, que é um produto da razão e da
experiência de outro seres humanos, nossos contemporâneos ou até já falecidos.
A razão, abandonada a si própria, tanto é um
instrumento de Deus como do Diabo. É possível justificar tudo e o seu contrário.
Há alguma mente colectiva? Não, claro que não.
Mas há uma matriz cultural donde retiramos a maior parte dos conceitos que nos
permitem viver. Isolados, não passaríamos de um estado selvagem, em nada
diferentes de quaisquer outros primatas.
Não tenho dificuldade em subscrever que os seres
humanos são entidades soberanas, na medida em que voluntariamente se submetam
ao desígnio transcendental da espécie – a Deus. Essa é a fronteira da soberania
individual, os que a trespassam arriscam-se a perder a liberdade e até a vida.Por fim, permitam-me alguma ironia. Esta ideia da "self-made soul" (*) cheira a existencialismo que tresanda. Eu não sou existencialista, sou essencialista. A nossa essência está determinada à nascença - chama-se natureza humana.
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