Há uns anos fortes, na cidade de Lamego, cidade de antigas e consideráveis tradições católicas, numa conferência sobre temas religiosos em que participei, também como orador, com o meu amigo António Marques Bessa, chegada a altura do debate com a assistência, um padre de província, já idoso, daqueles por quem pomos as mãos no fogo do inferno, pediu a palavra, e disse uma coisa que me marcou profundamente. Foi mais ou menos isto: "Como os Senhores devem muito bem saber, o primeiro marxista da história foi Nosso Senhor Jesus Cristo". Percebi, nesse momento, a força da penetração do igualitarismo marxista e da propaganda soviética no Ocidente, e por que razão a Igreja Católica não pode deixar de ser o que é, sob pena de ser o que nunca foi. Por outras palavras, por que razão a Igreja é irreformável a golpes de vontade dos que a dirigem, embora não deixe de acompanhar o tempo e o espaço onde se encontra.
38 comentários:
Não foi nada marxista, nem revolucionário e nunca pregou qualquer revolução ou revolta social em nome do progresso ou da "luta de classes".
Muito menos foi materialista que é a tónica do marxismo (um hegelianismo às avessas).
E também nunca disse que se atingiria a liberdade pelo trabalho e pela economia.
O marxismo é uma cena ateia, vinda dos illuminati das luzes.
O padre está errado. Mas o mais curioso disto tudo, e profundamente irónico, é que seria o Rui a destruir a Igreja, não aquele padre. O Rui, tendo para isso engenho, lançaria um novo movimento da Reforma, um novo Lutero para recuperar a pureza original do Cristianismo. Assistiremos a esse movimento? Seguidores não parecem faltar. O Vaticano que se cuide. Mas mais provavelmente, apareceria uma seita mais pequena, semelhante aos cátaros, contra a degradação da Igreja.
Sousa
Cristo nunca pregou o igualitarismo. Muito pelo contrário. Aos seus apóstolos e discíplos tratou-os, a todos, de maneira diferente, pois todos eram diferentes como nós também o somos.
tá bem abelha.
Se irreformável for igual a irrevogável....concordo com a idiotice do post.
Em suma, Cristo foi há 2000 anos aquilo que não existia.
.
Rb
Só mesmo para meter nojo, dizer que foi Ratzinger, durante o papado de JPII, que:
- aboliu o dízimo
- que decretou que as crianças não baptizadas quando morrem afinal já não vão para o purgatório (os adultos não baptizados ainda vão, mas não sei bem definir a idade em que isso acontece)
- que o Papa afinal não é infalível
- que fez a proposta para acabar com as missas em latim (durante o 2º concilio)
.
Rb
Et voilá, a Igreja lá vai evoluindo.
.
Só não mudará em questões doutrinais e de fé, de resto vai mudar sempre e adaptar-se ao mundo.
.
Os padres vão poder casar-se, os preservativos vão deixar de ser coisa proibida. Qualquer dia até recebemos um email com os pecados perdoados.
.
Ahh e já não é preciso pagar para apagar dos livros do inferno os nossos pecados. Nada disso. Agora é de graça.
.
Ainda dizem que a Igreja não muda.
.
Rb
A ignorância em Portugal dá para isto. Um marxista primeiro que tudo é ateu.
O padre era trasmontano?
Ressonâncias de "A pele do Tambor"...
"a Igreja é irreformável a golpes de vontade dos que a dirigem"
É precisamente a golpes de vontade dos papas que a Igreja é reformável e reformada. De que outra forma poderia ser? Esquecem-se que um papa não é um ser espiritual, é um governante.
O João XIII, mesmo o Paulo VI, o João Paulo II, o Ratzinger, todos teriam muitas contas a prestar aos antigos aos zelosos guardiães da pureza da Igreja, como agora o Rui. E lá chegará também o tempo em que as mulheres serão ordenadas. Através de um golpe de vontade.
Sousa
nem liberal nem esquerdista , Cristo era comunitarista . muito à frente..
"Para os comunitaristas as soluções devem ser encontradas nos recursos dados , nas práticas e nas tradições" ( isto lembra-me alguém aqui do PC..) e a mãe das práticas era " amai-vos uns aos outros " :) :) difícil..
nunca podia ser marxista até pq é o Estado que obriga a partilhar ,coerção externa , e a dádiva há-de ser voluntária , tem de vir de dentro.
O Rui é ateu e ia jurar que não tem fetiches com vigárias da Porcalhota.
socialismo científico (marxista)
socialismo utópico (não marxista)
socialismo religioso (não marxista)
Já percebi que qualquer dia temos mestrados e doutoramentos em Teologia, na Lusófona. Boa notícia pró Relvas, que começou agora a aprender Português para exportação, e talvez com isso saque mais uma equivalência, agora para teólogo, eh, eh eh.
Algum de v.s tem a menor ideia do que eram "as missas em latim"?
Eu ia jurar que não.
Imaginam que era tudo dito em latim, incluindo o sermão, quando apenas se pronunciavam aquelas frases simples do rito.
Qualquer analfabeto, nos anos 60 sabia isto.
Agora são todos doutores e nem português sabem.
Olha aqui a dificuldade que era a "missa em latim".
http://portadoceu.com.sapo.pt/ordolat.pdf
Qualquer rapariga das berças que vinha servir para a cidade, sabia perfeitamente dizer isto e o significado.
Por isso é que as pessoas com a 4ª classe escreviam melhor que hoje com licenciaturas e mestrados (para não falar até nos doutoramentos)
Boa zazie. Obrigado pelo link. Gosto de ver essas coisas.
.
O latim é esteticamente um língua agradável.
.
Dóminus vobíscum.
.
Rb
Qualquer analfabeto e qualquer rapariga das berças com a quarta classe sabia a missa em latim? Muito me conta. Eu assisti a muita missa em latim, até porque, como muito rapazinho da aldeia, a minha vida ao domingo era vestir a opa aos sábados e domingos para acompanhar o padre e o sacristão nas suas actividades. Nunca me dei conta que aquela boa gente conseguisse mais do que decorar menos de meia dúzia de fórmulas curtas como o In nomine Patris, et Filii, et Spiritus
Sancti e o dominus vobiscum
As raparigas das berças que foram servir para a sua cidade e os analfabetos ou pessoas com a quarta classe que conheceu sabiam os ritos da missa em latim? Extraordinário.
Sousa
Et cum spíritu tuo
Era extraordinário, era.
E mais extraordinário é agora os doutores a falarem brasuca e a escreverem com os pés.
Ainda no outro dia estive a arrumar correspondência do meu bisavô que foi caseiro em Trás-os-Montes, com uma irmã que são um espanto.
Essa "tia Adelaide" tinh apenas a 4ª classe mas escrevia que era um primor e com uma caligrafia lindíssima.
O VPV até já referiu este assunto. Como a leitura da Bíblia e as missas antigas contribuíam para a boa escrita e fala correcta das pessoas.
correspondência que é um espanto (tinha escrito cartas)
Todas as raparigas que foram criadas em minha casa sabiam escrever melhor que esta malta de agora.
E todas sabiam a missa em latim e o seu significado.
E eu também aprendi em pequena.
O efeito estético é poderosíssimo.
A Europa foi cristianizada assim- em latim, com missas atrás da cortina, ditas a gentios ignaros.
Os reformistas abandalharam tudo e agora a cultura jacobina é o que está à vista.
É verdade.
.
Os judeus, aliás, mantiveram a educação relativamente estável aos longo dos tempos, mesmo aqueles mais humildes, precisamente porque nas sinagogas eram obrigados desde miúdos a ler e escrever... e decorar. Daí que os miúdos emantdcipavam-se mais cedo do que os outros miúdos; e isso dava uma certa vantagem.
.
Rb
O efeito estético é tão poderoso que a ver se os ortodoxos mudam os ritos.
Só quem nunca assitsiu a uma missa ortodoxa é que pode dizer bacoradas populistas.
Em contrapartida vai-se a uma missa prot em Londres e, se não for dia de cânticos lindíssimos, o mais provável é apanhar-se com sermão militante escardalho.
Tens toda a razão.
Sim, o efeito do ritual é muito importante. Mais importante do que se pode supôr.
.
Rb
Completamente.
Até os povos primitivos sabiam isso e sabiam a importância da palavra diferente, porque o sagrado não se pode confundir com o profano.
A pancada de nivelar tudo por baixo, para ser "tudo acessível a toda a gente" deu um lindo resultado.
Em Saint Martin in the Fields apanhei eu, este Natal, com um auto que até conseguiu transformar o nascimento de Cristo numa cena de conflito israelo-palestiniano.
E os bons eram os "árabes"
":O))))))
Não, uma população analfabeta ou pouco escolarizada não sabe escrever bem. O contrário é paradoxal, como é óbvio. A não ser assim, os povos mais civilizados não teriam investido em educação. Quanto a sopeiras e gente do povo, em geral, a saber latim, nunca conheci, mas admito que a criadas da zazie fossem exceções. Muitos saberiam papaguear fórmulas curtas em latim, que ouviam na missa e outros conseguiriam até decorar toda a missa. Eu levo qualquer um aqui à minha terra, igual a milhares de outras, para perguntarem a qualquer pessoa com mais de 60, 70, anos, o que aprenderam de latim. Sabem português, os que sabem, e mal. Não há aqui qualquer demérito para os próprios, porque a culpa não era deles. Estou a falar dos meus pais, já falecidos, tios, vizinhos, etc. Raparigas humildes com pouca escolaridade que iam servir para a cidade, idas da minha terra, que sabiam latim, não conheci, e essa é a minha gente, aquela com quem eu cresci e com quem sempre vivi.
"Como a leitura da Bíblia e as missas antigas contribuíam para a boa escrita e fala correcta das pessoas."
Mais uma vez, sobre isto, que eu acho exótico, estou disponível para deixar o meu contato, a quem se mostrar interessado, para fazermos uma volta pelas terras da minha infância e juventude. Eu pago as viagens e estadia. Não estou interessado em casos excecionais, claro.
Sousa
Já agora, sabem como é que a maioria resolvia o assunto de não compreender a missa? Rezava o terço. A sua missa era passada a rezar o terço, com o embalo de fundo do rito. Nunca a minha avó, com quem eu todas as noites rezava, com quem aprendi o Salve Rainha, me citou o que quer que fosse em latim, essa linguagem para ela estranha. E como é possível que a Biblia, na versão do João Ferreira de Almeida, a que estava em uso, alguma vez tivesse ensinado alguém a escrever bem na linguagem corrente, ou a falar corretamente? Que se diga isso das versões actuais, como a dos Capuchinhos, ainda vá. De qualquer maneira, as bíblias, ainda que toda a gente tivesse uma, eram de pouco uso doméstico.
Não vos adianta conhecer a história da Igreja, se não conhecerem nada do seu povo. É um conhecimento livresco e estéril.
Sousa
Banalizar a missa, dessacralizar a missa foi o objectivo dos "aggiornatos" e outros totós dans le vent...
Trés chic. Estes religiosos de salão tocam piano e falam francês.
Já os mija-nos-finados, arrotam postas de pescada e não dizem nada.
Também havia os missais pessoais que tinham as folhas divididas a meio onde constavam as partes comuns da missa, em latim na parte esquerda da folha do missal e em português na parte direita, nomeadamente para o credo, a glória e outras.
O Vaticano II nunca devia ter retirado o latim. Se a igreja cristã se pretende universsal devia também praticar uma linguagem universal.
Enviar um comentário