02 agosto 2013

irreformável

Há uns anos fortes, na cidade de Lamego, cidade de antigas e consideráveis tradições católicas, numa conferência sobre temas religiosos em que participei, também como orador, com o meu amigo António Marques Bessa, chegada a altura do debate com a assistência, um padre de província, já idoso, daqueles por quem pomos as mãos no fogo do inferno, pediu a palavra, e disse uma coisa que me marcou profundamente. Foi mais ou menos isto: "Como os Senhores devem muito bem saber, o primeiro marxista da história foi Nosso Senhor Jesus Cristo". Percebi, nesse momento, a força da penetração do igualitarismo marxista e da propaganda soviética no Ocidente, e por que razão a Igreja Católica não pode deixar de ser o que é, sob pena de ser o que nunca foi. Por outras palavras, por que razão a Igreja é irreformável a golpes de vontade dos que a dirigem, embora não deixe de acompanhar o tempo e o espaço onde se encontra.

38 comentários:

zazie disse...

Não foi nada marxista, nem revolucionário e nunca pregou qualquer revolução ou revolta social em nome do progresso ou da "luta de classes".

Muito menos foi materialista que é a tónica do marxismo (um hegelianismo às avessas).

zazie disse...

E também nunca disse que se atingiria a liberdade pelo trabalho e pela economia.

O marxismo é uma cena ateia, vinda dos illuminati das luzes.

Anónimo disse...

O padre está errado. Mas o mais curioso disto tudo, e profundamente irónico, é que seria o Rui a destruir a Igreja, não aquele padre. O Rui, tendo para isso engenho, lançaria um novo movimento da Reforma, um novo Lutero para recuperar a pureza original do Cristianismo. Assistiremos a esse movimento? Seguidores não parecem faltar. O Vaticano que se cuide. Mas mais provavelmente, apareceria uma seita mais pequena, semelhante aos cátaros, contra a degradação da Igreja.

Sousa

Anónimo disse...

Cristo nunca pregou o igualitarismo. Muito pelo contrário. Aos seus apóstolos e discíplos tratou-os, a todos, de maneira diferente, pois todos eram diferentes como nós também o somos.

Anónimo disse...

tá bem abelha.

Anónimo disse...

Se irreformável for igual a irrevogável....concordo com a idiotice do post.

Ricciardi disse...

Em suma, Cristo foi há 2000 anos aquilo que não existia.
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Rb

Ricciardi disse...

Só mesmo para meter nojo, dizer que foi Ratzinger, durante o papado de JPII, que:
- aboliu o dízimo
- que decretou que as crianças não baptizadas quando morrem afinal já não vão para o purgatório (os adultos não baptizados ainda vão, mas não sei bem definir a idade em que isso acontece)
- que o Papa afinal não é infalível
- que fez a proposta para acabar com as missas em latim (durante o 2º concilio)
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Rb

Ricciardi disse...

Et voilá, a Igreja lá vai evoluindo.
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Só não mudará em questões doutrinais e de fé, de resto vai mudar sempre e adaptar-se ao mundo.
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Os padres vão poder casar-se, os preservativos vão deixar de ser coisa proibida. Qualquer dia até recebemos um email com os pecados perdoados.
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Ahh e já não é preciso pagar para apagar dos livros do inferno os nossos pecados. Nada disso. Agora é de graça.
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Ainda dizem que a Igreja não muda.
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Rb

Vivendi disse...

A ignorância em Portugal dá para isto. Um marxista primeiro que tudo é ateu.

Vivendi disse...

O padre era trasmontano?

Anónimo disse...

Ressonâncias de "A pele do Tambor"...

Anónimo disse...

"a Igreja é irreformável a golpes de vontade dos que a dirigem"

É precisamente a golpes de vontade dos papas que a Igreja é reformável e reformada. De que outra forma poderia ser? Esquecem-se que um papa não é um ser espiritual, é um governante.
O João XIII, mesmo o Paulo VI, o João Paulo II, o Ratzinger, todos teriam muitas contas a prestar aos antigos aos zelosos guardiães da pureza da Igreja, como agora o Rui. E lá chegará também o tempo em que as mulheres serão ordenadas. Através de um golpe de vontade.

Sousa

marina disse...

nem liberal nem esquerdista , Cristo era comunitarista . muito à frente..

"Para os comunitaristas as soluções devem ser encontradas nos recursos dados , nas práticas e nas tradições" ( isto lembra-me alguém aqui do PC..) e a mãe das práticas era " amai-vos uns aos outros " :) :) difícil..

nunca podia ser marxista até pq é o Estado que obriga a partilhar ,coerção externa , e a dádiva há-de ser voluntária , tem de vir de dentro.

zazie disse...

O Rui é ateu e ia jurar que não tem fetiches com vigárias da Porcalhota.

Cfe disse...

socialismo científico (marxista)

socialismo utópico (não marxista)

socialismo religioso (não marxista)

zézinho disse...

Já percebi que qualquer dia temos mestrados e doutoramentos em Teologia, na Lusófona. Boa notícia pró Relvas, que começou agora a aprender Português para exportação, e talvez com isso saque mais uma equivalência, agora para teólogo, eh, eh eh.

zazie disse...

Algum de v.s tem a menor ideia do que eram "as missas em latim"?

Eu ia jurar que não.

Imaginam que era tudo dito em latim, incluindo o sermão, quando apenas se pronunciavam aquelas frases simples do rito.

zazie disse...

Qualquer analfabeto, nos anos 60 sabia isto.

Agora são todos doutores e nem português sabem.

zazie disse...

Olha aqui a dificuldade que era a "missa em latim".

http://portadoceu.com.sapo.pt/ordolat.pdf

Qualquer rapariga das berças que vinha servir para a cidade, sabia perfeitamente dizer isto e o significado.

Por isso é que as pessoas com a 4ª classe escreviam melhor que hoje com licenciaturas e mestrados (para não falar até nos doutoramentos)

Ricciardi disse...

Boa zazie. Obrigado pelo link. Gosto de ver essas coisas.
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O latim é esteticamente um língua agradável.
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Dóminus vobíscum.
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Rb

Anónimo disse...

Qualquer analfabeto e qualquer rapariga das berças com a quarta classe sabia a missa em latim? Muito me conta. Eu assisti a muita missa em latim, até porque, como muito rapazinho da aldeia, a minha vida ao domingo era vestir a opa aos sábados e domingos para acompanhar o padre e o sacristão nas suas actividades. Nunca me dei conta que aquela boa gente conseguisse mais do que decorar menos de meia dúzia de fórmulas curtas como o In nomine Patris, et Filii, et Spiritus
Sancti e o dominus vobiscum
As raparigas das berças que foram servir para a sua cidade e os analfabetos ou pessoas com a quarta classe que conheceu sabiam os ritos da missa em latim? Extraordinário.
Sousa

zazie disse...

Et cum spíritu tuo

zazie disse...

Era extraordinário, era.

E mais extraordinário é agora os doutores a falarem brasuca e a escreverem com os pés.

Ainda no outro dia estive a arrumar correspondência do meu bisavô que foi caseiro em Trás-os-Montes, com uma irmã que são um espanto.

Essa "tia Adelaide" tinh apenas a 4ª classe mas escrevia que era um primor e com uma caligrafia lindíssima.

O VPV até já referiu este assunto. Como a leitura da Bíblia e as missas antigas contribuíam para a boa escrita e fala correcta das pessoas.

zazie disse...

correspondência que é um espanto (tinha escrito cartas)

zazie disse...

Todas as raparigas que foram criadas em minha casa sabiam escrever melhor que esta malta de agora.

E todas sabiam a missa em latim e o seu significado.

E eu também aprendi em pequena.

O efeito estético é poderosíssimo.
A Europa foi cristianizada assim- em latim, com missas atrás da cortina, ditas a gentios ignaros.

Os reformistas abandalharam tudo e agora a cultura jacobina é o que está à vista.

Ricciardi disse...

É verdade.
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Os judeus, aliás, mantiveram a educação relativamente estável aos longo dos tempos, mesmo aqueles mais humildes, precisamente porque nas sinagogas eram obrigados desde miúdos a ler e escrever... e decorar. Daí que os miúdos emantdcipavam-se mais cedo do que os outros miúdos; e isso dava uma certa vantagem.
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Rb

zazie disse...

O efeito estético é tão poderoso que a ver se os ortodoxos mudam os ritos.

Só quem nunca assitsiu a uma missa ortodoxa é que pode dizer bacoradas populistas.

Em contrapartida vai-se a uma missa prot em Londres e, se não for dia de cânticos lindíssimos, o mais provável é apanhar-se com sermão militante escardalho.

zazie disse...

Tens toda a razão.

Ricciardi disse...

Sim, o efeito do ritual é muito importante. Mais importante do que se pode supôr.
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Rb

zazie disse...

Completamente.

Até os povos primitivos sabiam isso e sabiam a importância da palavra diferente, porque o sagrado não se pode confundir com o profano.

zazie disse...

A pancada de nivelar tudo por baixo, para ser "tudo acessível a toda a gente" deu um lindo resultado.

Em Saint Martin in the Fields apanhei eu, este Natal, com um auto que até conseguiu transformar o nascimento de Cristo numa cena de conflito israelo-palestiniano.

E os bons eram os "árabes"
":O))))))

Anónimo disse...

Não, uma população analfabeta ou pouco escolarizada não sabe escrever bem. O contrário é paradoxal, como é óbvio. A não ser assim, os povos mais civilizados não teriam investido em educação. Quanto a sopeiras e gente do povo, em geral, a saber latim, nunca conheci, mas admito que a criadas da zazie fossem exceções. Muitos saberiam papaguear fórmulas curtas em latim, que ouviam na missa e outros conseguiriam até decorar toda a missa. Eu levo qualquer um aqui à minha terra, igual a milhares de outras, para perguntarem a qualquer pessoa com mais de 60, 70, anos, o que aprenderam de latim. Sabem português, os que sabem, e mal. Não há aqui qualquer demérito para os próprios, porque a culpa não era deles. Estou a falar dos meus pais, já falecidos, tios, vizinhos, etc. Raparigas humildes com pouca escolaridade que iam servir para a cidade, idas da minha terra, que sabiam latim, não conheci, e essa é a minha gente, aquela com quem eu cresci e com quem sempre vivi.

"Como a leitura da Bíblia e as missas antigas contribuíam para a boa escrita e fala correcta das pessoas."

Mais uma vez, sobre isto, que eu acho exótico, estou disponível para deixar o meu contato, a quem se mostrar interessado, para fazermos uma volta pelas terras da minha infância e juventude. Eu pago as viagens e estadia. Não estou interessado em casos excecionais, claro.

Sousa

Anónimo disse...

Já agora, sabem como é que a maioria resolvia o assunto de não compreender a missa? Rezava o terço. A sua missa era passada a rezar o terço, com o embalo de fundo do rito. Nunca a minha avó, com quem eu todas as noites rezava, com quem aprendi o Salve Rainha, me citou o que quer que fosse em latim, essa linguagem para ela estranha. E como é possível que a Biblia, na versão do João Ferreira de Almeida, a que estava em uso, alguma vez tivesse ensinado alguém a escrever bem na linguagem corrente, ou a falar corretamente? Que se diga isso das versões actuais, como a dos Capuchinhos, ainda vá. De qualquer maneira, as bíblias, ainda que toda a gente tivesse uma, eram de pouco uso doméstico.

Não vos adianta conhecer a história da Igreja, se não conhecerem nada do seu povo. É um conhecimento livresco e estéril.

Sousa

Anónimo disse...

Banalizar a missa, dessacralizar a missa foi o objectivo dos "aggiornatos" e outros totós dans le vent...

Anónimo disse...

Trés chic. Estes religiosos de salão tocam piano e falam francês.

zazie disse...

Já os mija-nos-finados, arrotam postas de pescada e não dizem nada.

Anónimo disse...


Também havia os missais pessoais que tinham as folhas divididas a meio onde constavam as partes comuns da missa, em latim na parte esquerda da folha do missal e em português na parte direita, nomeadamente para o credo, a glória e outras.
O Vaticano II nunca devia ter retirado o latim. Se a igreja cristã se pretende universsal devia também praticar uma linguagem universal.