Se ignorarmos as circunstâncias em que exerceu o cargo, poderíamos pensar que Vítor Gaspar foi um ministro das finanças acima da média, talvez o melhor em democracia. Foi o ministro que mais despesa conseguiu cortar, provavelmente o único a fazer um corte real de despesa desde Hernani Lopes. Isto apesar da ausência de apoio de muitos elementos do governo e da duvidosa imparcialidade da interpretação da constituição dos juízes do Tribunal constitucional. Há 10 anos atrás, este teria sido um excelente ministro das finanças.
Mas as circunstâncias dos últimos dois anos não foram normais. Vítor Gaspar foi um ministro de um país sob custódia de credores, credores que dificilmente teriam aceite algo menos do que Gaspar fez. Para satisfazer credores, Gaspar fez cortes de despesa quase todos de natureza temporária (investimento, por exemplo) e aumentou impostos, aumentos esses que quase nunca são temporários. Não se fizeram cortes na despesa estrutural. Gaspar não teve força, vontade, ou não o deixaram fazer mais. Apesar dos protestos, nunca antes um ministro das finanças teve uma conjuntura política tão boa para cortar na despesa estrutural e Gaspar não o fez.
Apesar de tudo isto, Portugal não é a Grécia que PS e CDS gostariam que fosse. E isso também temos que agradecer a Gaspar. Podia ter sido pior.
4 comentários:
CGP,
Verdadeiramente português.
Na hora em que o homem "morre" você faz-lhe um elogio fúnebre.
Abraço
PA
é normal no fim de um qualquer mandato fazer-se uma retrospectiva do que foi feito. Mais que normal, é recomendável.
quanto aos cortes na despesa que Gaspar podia ou não ter feito. Se o ministro das finanças mandar apenas no seu ministério manda em muito pouco. Para cortar na despesa teria de mandar nos ministerios dos outros. No ministerio da saude, da educação e da segurança social é que podem ser feitos os grandes cortes. Os cortes possíveis no ministério das finanças são poucos.
xyz
Creio que ninguém duvida que Vitor Gaspar falhou a sua missão principal, que seria reconduzir Portugal aos mercados financeiros, com o país a passar por uma recessão dura, mas com a despesa pública controlada e as bases para o crescimento lançadas.
Falhou porque não se atirou logo à despesa, e foi subindo impostos aumentando a recessão. Quando tentou ir pela despesa, já o pais tinha dificuldade em aguentar.
Mas, maiores culpados são Passos Coelho e Paulo Portas.
Sem democracia, teria feito melhor?
Parecia às vezes que ele tinha o secreto prazer de, impedido de reduzir despesa pública, nos infligir os impostos necessários para pagar o nosso querido estado social.
Rui
Gasparzinho tem essa culpa de não ter feito cortes estruturais mas para isso também precisava do apoio dos seus pares, coisa que nunca teve e assim lá teve de encontrar alternativas.
Agora que ele falhou no objectivo de reconduzir Portugal aos mercados financeiro acho que esse ponto é completamente sem sentido, Portugal já fez uma emissão a longo prazo em Maio.
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