08 março 2013

SMN e o empirismo

A discussão económica sobre os efeitos de um salário mínimo nacional expressa bem os problemas do empirismo.

Quando se alega que por definição o estabelecimento de um preço mínimo cria uma barreira è entrada os empiristas sacam de "estudos que provam".

E estes estudos pretendem provar de que forma? Pegam em dados estatísticos históricos de 1 ou n países, de um dado horizonte temporal, põe aquilo em modelos e depois chegam a conclusões: Está provado que X ou Y... 

Agora, eu esperaria que por esta altura se perceba o quanto é uma falácia pretender tirar verdades de dados históricos, não só pela dificuldade em arranjar variáveis independentes com todos os factores em jogo (a economia estava a crescer ou em recessão? que alterações demográficas estão a ocorrer, etc e etc) mas menos ainda tais modelos não estabelecem relações entre causas e efeitos.

Existe um problema de técnica mas para além disso é um problema epistemológico. A história não pré-determina efeitos. Só a reflexão, e na medida altamente restrita que produz sentenças lógicas no encadeamento das propriedade gerais da acção humana o podem fazer.

Nunca dados históricos ou a história pode provar ou desprovar que um preço mínimo cria uma barreira à entrada, esta acepção é verdade por si mesmo, não carece de dados. Quanto muito pode alguém alegar que se é verdade que cria barreiras por outro existem outros efeitos que isto e aquilo (mas quais?) e etc.

Nada disto retira o interesse de estudos aplicados e comparativos. É uma questão de status que pretendem conferir a tais "provas". Essas "provas" estão delimitadas a descrever uma história, é isso, tem interesse, mas não confere uma refutação epistemológica que a introdução de um preço mínimo cria barreiras.

Isto a propósito das declarações de Silva Peneda: "Diminuir salário mínimo é "erro" e "disparate" político, económico e social" E acrescenta: "O emprego só se cria se as empresas tiverem clientes. Quanto a mim, o salário mínimo não é uma forma nem uma política para criar mais emprego", disse, defendendo que "o desemprego só se pode combater com crescimento económico". Mensagem subliminar é uma tirada da ciência oculta da estimulogia: -não há problema em estabelecer uma barreira o verdadeiro problema é... o estado tem de fazer mais despesa para estimular a economia.

41 comentários:

Ricciardi disse...

Bem, olhe, apenas lhe direi eu posso provar que FUMAR provoca o cancro sem recorrer à ciência.
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Basta-nos estudar grupos, o mais numerosos possível, para inferir acerca do malefício do tabaco.
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Em suma, é um 'disparate' dizer o contrário.
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Da mesma forma que, num universo de 50 estados na America, 19 estados praticam salarios abaixo do SMN. Portanto, 31 estados tem um SMN. E o que é que se constacta? Que o SMN não tem impactos significativo no nível de emprego geral, já a comparação das amostras revela o contrário.
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Aqui: http://jaredbernsteinblog.com/raising-the-minimum-wage-the-debate-begins-again/
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Isto não quer dizer que o SMN seja benéfico a qualquer nível e em qualquer sector/empresa. Nada disso.
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É uma medida que depende de muitos factores. Na Irlanda, por exemplo, o abaixamente de 10% do SMN não coloca em causa a propensão ao consumo dos Irlandeses, já que é um valor generoso. A redução no SMN irlandês apenas se manifestou por outra via, na redução da Poupança, não no consumo de bens essenciais.
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Em Portugal, uma redução do SMN significaria uma redução GRAVE no consumo de bens essencias, já que o valor não dá para mandar cantar um cego.
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Rb

Ricciardi disse...

O problema das ideologias ou do culto a personalidades, como os leninistas, marxistas, maoistas, misianos, hayekianos, rothbardianos, é exactamente o facto de toldar a visão geral das pessoas e da realidade, para se circunstanciar ao seguidismo ideologico dos cultuados.
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Um tribalismo atroz que se revela na incapacidade de ver o mundo tal como ele é, e tal como ele se apresenta aos nossos sentidos comuns, preferindo ver o mundo pelos olhos dos mestres.
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Este espirito está na origem de muito do mal que grassa no mundo. A todos os níveis.
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Desde logo, quando um tipo constacta que o ambiente se está a degradar, que o clima está a alterar-se, os rios poluidos, o ar contaminado e que a causa disso pode ser, com toda a probabilidade, a acção do homem, logo aparecem os negacionistas de plantão a dizerem que não se pode provar uma relação directa cientifica que baste.
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O tanas é que não se pode provar. A prova empirica não é menos válida do que cientifica.
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A prova cientifica só se obterá quando não houver remédio para a cura. Olhai seres do mundo agora que a porra do gelo polar derreteu todo, chegamos à cientifica conclusão que os empiristas tinham razão.
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Rb

Luís Lavoura disse...

Ricciardi,
o problema que você bem descreve é ainda pior quando os mestres que se segue são tipos que viveram há muitos, muitos anos, num tempo em que o mundo era bastante diferente do atual.

Luís Lavoura disse...

posso provar que FUMAR provoca o cancro sem recorrer à ciência

Há uma diferença crucial.

O fumo do tabaco é um elemento que nada tem a ver com a ação humana.

A economia, pelo contrário, tem a ver com a ação humana.

Os economistas austríacos, se bem entendo, defendem que é por a economia se basear na ação humana que ela não pode ser estudada empiricamente.

(De certa forma, pode-se dizer que os economistas austríacos partem da visão religiosa, segundo a qual os seres humanos estão separados, são distintos de todo o restante da natureza. Nessa visão, as ações humanas são algo de completamente distinto de todo o restante da natureza, pois seguem leis racionais. Naturalmente que a ciência tem um ponto de vista arreligioso, no qual os homens não são fundamentalmente diferentes do resto da natureza.)

CN disse...

"A economia, pelo contrário, tem a ver com a ação humana." Correcto.


"os economistas austríacos partem da visão religiosa"

Não percebi bem esta acepção.


"as ações humanas são algo de completamente distinto de todo o restante da natureza, pois seguem leis racionais"

Não é bem assim, os austríacos não caiem nessa armadilha.

As acções do homem podem ser quaisquer umas, nãotêm de ser racionais no sentido por exemplo que os neoclássicos lhe dão (maximização, etc).

o que se diz é que na medida em que age com finslivremente escolhidos e valorizados subjectivamente) tem de escolher meios num unverso de recursos escassos e tempo escasso, querendo dizer, utilidade marginal decrescente, prefere o mesmo antes do que depois, etc.

Luís Lavoura disse...

age com fins livremente escolhidos e valorizados subjectivamente

Isto é, o homem, racionalmente, pensa, escolhe os seus fins, e ordena-os de acordo com a sua escala de valores.

Coisa que um cão ou uma anémona não faz.

É neste sentido que eu digo que o Homem age "racionalmente". Poderia também dizer "conscientemente".

Esta é uma visão que separa o Homem do restante da natureza. O Homem é visto como tendo uma ação consciente e deliberada, em contraposição com o restante da natureza, que age de acordo com leis físicas ou com o instinto.

Esta é uma visão que geralmente as religiões adotam. As ciências tendem a adotar uma visão na qual se aplicam leis físicas ou instintivas, em que os animais reagem instintivamente a certos estímulos, etc.

CN disse...

Luís,

Podes tentar aplicar as mesmas leis aos animais, o que se pode obervar é que a preferência temporal é infinita (ou quase), produzindo para consumir de imediata. Existem alguns animais que conseguiram desenvolver formas mais compllexas, sim, mas repetitivas.

Não existe também propriamente a produção de bens e a sua troca.

Mas não estou a ver o que isto vai por em causa os "austríacos"...

Se os "austríacos" são na verdade muito mais realistas o que dizer dos neoclássicos , keynesianos, etc?

CN disse...

"Isto é, o homem, racionalmente, pensa, escolhe os seus fins, e ordena-os de acordo com a sua escala de valores"

Ou talvez melhor:

Escolhe fins e ordena-os de acordo com a sua preferência subjectiva e escolhe meios racionalmente (com menos do que com mais esforço, antes do que depois).

Francisco disse...

"tem de escolher meios num unverso de recursos escassos e tempo escasso, querendo dizer, utilidade marginal decrescente, prefere o mesmo antes do que depois, etc."

Isto quer dizer precisamente que há um pressuposto de que o Homem age sempre de forma racional.
E "preferir antes do que depois" implica uma formulação de um problema de maximização de utilidade, que pode ser representado matematicamente.

Fundamentalmente, a única diferença que eu vejo entre a essência da economia convencional (e em particular rational choice theory) e os Austríacos, é que os primeiros por vezes (não sempre!) também pressupõem um modelo global para o que constitui valor na formação de objectivos para o Homem (felicidade,riqueza,etc).

Os Austríacos recusam-se a modelar um processo global de formação de objectivos. Mas dado um certo objectivo concreto, são perfeitamente capazes de modelar a acção humana como um problema de maximização, com base em todas as regras que o CN já se fartou de enunciar (que repito, em grande medida já foram modeladas de forma matemática).

zazie disse...

Mas que é isso dos "empiristas sacam de estudso que provam"?

Que empiristas? filósofos empiristas?

V.s insistem em repetir palavras cujo siginificado desconhecem e depois escrevem estes disparates.

Qualquer pessoa que não for louca, se quiser fazer passar o sentido de x comportamento, tem mesmo de fazer estudos práticos e apresentar resultados deles.

Se o não fizer e achar que não apresentar resultados é exemplo de racionalismo apriorístico, é pura e simplesmente LOUCA!

Vivendi disse...

Esses artistas só atiram balelas.

Porque será que este país faliu mesmo?



Anónimo disse...

O problema desta quetão CN é que nós vivemos num estado social, dependente de mecanismos centrais que constroem a sociedade de forma específica, seja ela a melhor forma ou não. O SMN é um erro como todas as outras formas de planeamento central. No entanto, dado que vivemos rodeado de regulações centrais retirar certos mecanismos políticos podem não ter os mesmos efeitos que teriam numa sociedade de mercado livre. Nesse sentido surge a importância da história, não para criar verdades absolutas mas para nos guiar para decisões ponderadas. De qualquer modo o SMN já não é utilizado por muita gente. Eu próprio no último ano recebi um ordenado abaixo do SMN (à margem da lei claro).

Por exemplo baixar o SMN agora ou acabar com ele não implica que daqui a uns anos não voltemos a criá-lo nos mesmo moldes. O Ricciardi nesta questão está certo e errado. Está errado porque não percebe que o SMN destrói a possibilidade de emprego principalmente para os mais carenciados. Mas está certo de um ponto de vista estatístico em que esta situação pode ser boa para aqueles que vivem no limbo do SMN e que com a regulação podem sair beneficiados. O estado social "garante" àqueles que estõ abaixo do SMN possam ter outros tipos de ajuda (se bem que esta ajuda acaba por ter consequencias sociais piores).

O meu pai trabalhou desde os 12 anos como tantos outros da sua geração. Foi o facto de começar tão cedo que possibilitou criar prosperidade para ter ua vida confortável para ele e para a família. Actualmente provavelmente estaria num bairro social a auferir de subsídios que lhe retiravam o estímulo para procurar uma vida melhor.

Falar somente no SMN sem falar noutro tipo de regulações sem falar na inexistência de um mercado livre é no meu ponto de vista uma perda de tempo que poderá não trazer as melhor consequências para o futuro.

tiago

Francisco disse...

Quando o CN fala em empirismo, não está a pensar em filósofos. Está na verdade a falar em método científico, e eu julgo que ele ainda não compreendeu completamente o que é.

Porque continua a insistir nisto:

"E estes estudos pretendem provar de que forma? Pegam em dados estatísticos históricos de 1 ou n países, de um dado horizonte temporal, põe aquilo em modelos e depois chegam a conclusões: Está provado que X ou Y... "

O CN julga que os cientistas e os austríacos andam a competir para ver quem descobre a "Verdade", assim com letra maiúscula, mas na verdade os austríacos estão completamente sozinhos nessa busca. Todos os modelos científicos são imperfeitos e toda a gente reconhece isso, mas os austríacos vêm logo dizer que as imperfeições provam que os modelos são FALSOS, e por isso devem ser postos imediatamente no lixo (para eles, um modelo FALSO tem uma impossibilidade de fazer qualquer previsão sistemática sobre o futuro). Porque a única teoria que pode explicar a acção humana, segundo eles, tem que ser perfeita, universalmente verdadeira.

Francisco disse...

Mas o mais irónico de tudo é que os principais insights científicos dos austríacos parecem já ter sido incorporados nas ciências tradicionais, sob a forma de rational choice theory, mas não tiveram pejo nenhum em descartar toda a componente filosófica/ideológica, e transformar a acção humana em modelos que são passíveis de ser testados empiricamente.

Anónimo disse...

Francisco nem todos os cientistas reconhecem a imperfeição do seu método científico. Principalmente porque muitas das suas conclusões inspiraram construções sociais completamente desastrosas, e quando elas falham culpam sempre sempre as circunstâncias do tempo e do lugar, nunca um erro epistemológico que está na base das suas conclusões.

Por exemplo todas as regulações económicas partem do principio que se totalmente o plano de acção. Ora isso, pura e simplesmente, é um erro gravíssimo.

A noção de que não se pode prever o futuro é algo que ainda está bastante arredado de muita teorias, da economia, à psicologia, ao urbanismo, etc.

Quantas crianças não são medicadas erradamente tendo por base a análise histórica de determinados factores? quantas transformações urbanas não forem feitas tendo por base a análise histórica das cidades? Por exemplo a ideia de zoneamento nas cidades em que se separa a a habitação do comércio, onde se rasgam autosestradas e túneis partem de um erro epistemológico gravíssimo que nos últimos anos tem destruído as cidades com uma rapidez atroz. ( Estou a falar de urbanismo porque é uma área que tenho algum conhecimento)

Existe uma diferença (ética e científica) entre, por exemplo, tomar uma medida para a minha empresa com base em análises históricas, ou tomar uma medida para milhões de pessoas com base nas mesmas análises. Aí é que reside o verdadeiro problema ético e científico.

tiago

Anónimo disse...

No fundo é uma questão do que é melhor o planeamento central ou planeamento disperso. Por esta altura do campeonato já não deveríamos ter muitas duvidas...

tiago

CN disse...

"Mas que é isso dos "empiristas sacam de estudso que provam"?"

Zazie, são os economistas que acham (a maioria) que se provam coisas ou falsifica-se fazendo estudos e modelis estatísticos-matemáticos.

Francisco disse...

tiago,

provavelmente estamos completamente de acordo. Eu distingo cientistas de politícos. Mesmo uma pessoa pode ser cientista em determinadas situações e política noutras. Os problemas de que fala normalmente advém de misturar as duas coisas. Não é que as teorias científicas que dão suporte a políticas erradas se assumam como infalíveis, mas os políticos e ideólogos que as querem implementar têm um interesse em fazer passá-las como verdades. Mesmo os cientistas muitas vezes gostam de anunciar as suas teorias como infalíveis por questões de promoção pessoal, mas na minha opinião nessa altura deixam de ser cientistas e passam a ser vendedores.

É esta desconfiança relativamente à mistura entre ciência e ideologia que me fez a escola Austríaca cheirar a esturro logo desde início. Eles misturam na mesma teoria um modelo económico e uma cartilha moral, e por muito honestos que sejam, todo o seu pensamento económico está acorrentado a uma certa moralidade universal onde é extremamente conveniente que o empirismo não interfira. É um case study da máxima "Se os factos contradizem a teoria, mudem-se os factos"-

CN disse...

Francisco

O que diz é o que tenho escrito, o empirismo mais tarde ou mais cedo chega à conclusão que não consegue pronunciar leis económicas.

Mas a lei da utilidade marginal decrescente ou da associação como tenho escrito são verdadeiras e não tautológicas (como diz o David Gordon).


Quanto a :

"Existe uma diferença (ética e científica) entre, por exemplo, tomar uma medida para a minha empresa com base em análises históricas, ou tomar uma medida para milhões de pessoas com base nas mesmas análises. Aí é que reside o verdadeiro problema ético e científico. "


O empresário sabe que trabalha com dados limitados e a sua intuição.

O empresário é tipo de modelo não modelizável por excelência. POr isso os neoclássicos não conseguem produzir sobre a acção empresarial, mas os autríacos têm bastante literatura sobre compreender o papel do empresário.

Francisco disse...

"Mas a lei da utilidade marginal decrescente ou da associação como tenho escrito são verdadeiras e não tautológicas (como diz o David Gordon).
"

Estas duas leis partem do princípio que a acção humana é sempre racional na forma como pretende atingir os seus objectivos, e eu tenho muitas dúvidas que consiga provar que isto é verdade sem ser de uma forma relativa e incerta por análise empírica da realidade.

Francisco disse...

"O que diz é o que tenho escrito, o empirismo mais tarde ou mais cedo chega à conclusão que não consegue pronunciar leis económicas."

Não produz "leis" no sentido de verdades universais. Mas também não caem num posso sem fundo de relativismo, que isto não é tudo a preto e branco. Produz "leis" no sentido que p. ex. as leis de Newton têm hoje. Aplicam-se a um domínio limitado da realidade, com capacidade de fazer previsões sobre o futuro nesse domínio com um grau de incerteza relativamente baixo.

zazie disse...

Francisco:

O CN não sabe usar conceitos. O CN não sabe o que é empirismo e insiste em escrever bacoradas.

Empirismo e racionalismo são posições filosóficas referentes à questão teórica/filosófica da origem do conhecimento.

Mais nada. Tudo o resto que v.s escrevem são bacoradas.

E são bacoradas porque levam para o vocabulário de sentido comum, aquilo que o não é.
.................

Quanto ao que o CN disse, eu nem entendo e ia jurar que ele também não entende.

Porque, se alguém precisar de apresentar hipóteses acerca de questões que têm a ver com o comportamento das pessoas, só o podem fazer com estudos de campo, com observações feitas na prática.

E isto não é nem deixa de ser empirismo ou racionalismo- isto é tentativa de tornar algo minimamente credível e consistente e não ser paleio inventado por um maluco.

E faz-se nas ditas ciências como nas ditas humanidades- em História, em sociologia, em economia, em tudo o que não for consulta de oráculos.

zazie disse...

Agora que haja gente que prefere oráculos e rende cultos a gurus drogados, no lugar de pitonisas, não sei não.

Há pancada para tudo.

zazie disse...

Mas, para se resolver este disparate, bastava que o CN nos mostrasse uma lei apriorística- das tais universalmente válidas até ao final dos tempos, que prove como Ordenado Mínimo é uma coisa perigosa para as pessoas.

zazie disse...

Apenas uma- que nos dê uma leizinha apriorística acerca desse perigo que pode ser o Salário Mínimo.

Porque o CN garante e jura que é uma coisa má.

Parece que anda aqui há dois dias a alertar o mundo para esse perigo.

Ora, como o CN não usa trabalho de campo nem precisa de observar nada para ter certezas, que nos explique como tem esta certeza e qual é a LEI UNIVERSAL e APRIORÍSTICA que a comprova.

muja disse...

Eu só gostava de dizer uma coisa:

Porque é que se criou o salário mínimo (ou mínimos, do tempos do EN)?

Foi por motivos económicos, ou foi por motivos humanos (morais)?

Vivendi disse...

Nem contas de merceeiro sabem fazer
Se uma família típica composta por cerca de 4 pessoas, em que 2 estão empregadas e 2 estão desempregadas e sendo o rendimento das 2 pessoas empregadas de 970 € teríamos uma média a dividir pelos 4 de 242,5 €.

Com os 4 membros da mesma família todos empregados bastaria assim que o rendimento de cada membro fosse superior apenas a 242,5 € para que a família pudesse obter mais recursos ao fim do mês.

Se cada membro ganhasse 300 € (não é uma meta impossível de alcançar), a receita da família subiria dos anteriores 970 € para os 1200 €, nada mais que um acréscimo de 230 € de recursos extra e os preços de mercado ainda iriam baixar pela pressão de baixa dos custos.

Digam lá que não é muito melhor ter mais 230 €, do que ver por aí os socialistas a choramingarem por mais 15 € de aumento no salário mínimo para arredondar para o número redondinho de 500 €, que ainda dá como troco, pois é uma política inflacionária sem estar apoiada no aumento real de produtividade uma subida dos preços do mercado e com grande probabilidade mais desemprego.

Vivendi disse...

Mujahedin,

Creio que está a fazer alguma confusão. Portugal não tinha salário mínimo antes de 74.

Claro que os ordenados da função pública eram tabelados e algumas indústrias também o poderiam fazer quando a sua organização assim o permitiria.

Mas a norma era desregulada. Quem não queria estudar ia trabalhar e lá encontrava sempre o seu emprego.

É que nem os malandros ficavam de fora. :)

http://www.pordata.pt/Portugal/Salario+minimo+nacional-74

Neste quadro pode-se ver também quais são os países europeus que não utilizam o salário mínimo. Os que mais prosperam.

Vivendi disse...

http://viriatosdaeconomia.blogspot.com/2013/01/sobre-o-salario-minimo-que-cgtp-quer_12.html

Ricciardi disse...

Explique lá, oh Vivendi, então, como é que os CUTs (custos unitarios do trabalho) diminuiram 5,5% em 5 anos e a produtividade no mesmo periodo só aumentou 0,8%.
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Já agora, explique lá como é que os salários reais aumentaram nas exportadoras e a produtividade das mesmas disparou.
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Isto é a prova, provada, de que o problema em Portugal NÃO está no nível salarial. Não está. A produtividade é uma equação com DUAS variáveis; se diminuir muito o denominador (salarios) de forma a que ponha em causa o numerador (receitas) a produtividade não se mexe.
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Eis o motivo pelo qual se baixaram os salarios liquidos violentamente e a produtividade não aumentou.
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Mais, isto significa que para colocar a produtividade em linha com a produtividade alemã, se seguirmos o seu conselho, teriamos de reduzir os salários para... xacaber... ZERO. Só reduzindo os salários para zero é que a produtividade portuguesa se equiparava com a alemã, que é, como se sabe, o dobro da nossa.
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Enquanto esta gente não perceber que o caminho não é chegarmos ao salário zero, nunca consiguiremos ver o obvio: que o problema do país prende-se com o Valor que acrescentamos aos produtos, coisa que tem muito a ver, não só mas tambem, com a pouquissima formação cientifica dos quadros das nossas empresas. Ao nivel da I&D, marca, design, marketing etc.
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Olhe, para começar podiamos começar por tomar como exemplo as nossas fabricas de sapatos. Aonde se apostou na marca, no design, e novos materiais, numa parceria fantastica entre o centro de inovação criado desse sector e as universidades. Podiamos pegar nesse modelo, testado, e copia-lo para outras áreas.
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Rb

Ricciardi disse...

Em suma, as empresas portuguesas tem um superavite de financeiros e economistas e um defice terrivel de gente das operações.
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Era necessário inverter esse rácio. Despedir os financeiros e contratar tecnicos de design, de moda, de marketing e mais gajos a testar materiais novos.
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Rb
Rb

Ricciardi disse...

Aliás, esse é tambem o grande problema do governo. Um financeiro a gerir uma empresa é tão grave e contraproducente quanto um país ser governado pelo minsitro das finanças.
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Quem não sabe a que sabem as cebolas, e como elas crescem, não tem condições de gerir coisa alguma.
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Ele nem quer saber se vende cebolas. Desconfio que nem sabe que a empresa vende cebolas. Para ele são numeros.
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Ora, uma cebola é uma cebola. Tem que ser tratada com dignidade e respeito.
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Rb

Vivendi disse...

Ricciardi,



"os salarios liquidos violentamente e a produtividade não aumentou"

http://oinsurgente.org/2013/03/08/o-socialismo-nao-tem-emenda/

muja disse...

Repare, eu não estou a dizer que tinha a mesma coisa. Mas havia um princípio semelhante, e estava-se a caminhar para isso. Se a norma era desregulada, a orientação era no sentido de regular mais.

Mas o que importa é que se identificou um problema: havia pessoas a ganhar muito pouco por um trabalho que valia mais. Na maior parte das vezes porque nem tinham noção de que poderiam e deviam ganhar mais.
Este é o problema: social, humano, moral. Não existem considerações de ordem económica.

É na solução - fixar valores mínimos do trabalho para novos contratados - que elas entram, no sentido de não sair pior a emenda que o soneto e acabar prejudicando, por consequências económicas, aqueles que se pretendia salvaguardar: não ter trabalho é geralmente pior que tê-lo e ganhar pouco.

Portanto, onde eu quero chegar é a isto: primeiro que tudo é preciso identificar o problema - há pessoas exploradas? Porquê? Mais uma vez, considerações de ordem económica não são para aqui chamadas. É um problema moral.

Em chegando à conclusão que sim, que as há, então é pensar numa solução. E é aqui que é preciso cuidar de não piorar as coisas. De analisar qual é maneira mais eficaz de minorar o problema, e melhorar a situação geral, em vez de a piorar. É então aqui que podem vir os austríacos e os australianos (eu prefiro portugueses, chamem-me xenófobo) dizer de sua justiça e alertar para os possíveis efeitos de tal ou tal solução proposta, ou propôr alternativas.

Não é como esta discussão bacoca: um diz que tem que haver salário mínimo porque não destrói a economia, ou outro diz que não senhor, que é atentado à liberdade e que destrói pois. É uma polarização que não tem jeitinho nenhum. É impossível sequer arranjar consenso...

PS: Palavra de honra, quanto mais vejo as discussões e os debates e as trocas de ideias de hoje, cada vez mais me convenço que nunca os extremistas dominaram mais a sociedade que agora. Só que os extremistas democráticos imputam o extremismo ao autoritarismo, para disfarçar o seu próprio. Como aliás, sempre fizeram em tudo, incluindo os crimes ignóbeis cujo sangue têm nas patas. Mas isso é outra história.
Seja como for, quanto mais leio e sei da acção governativa do EN, cada vez mais me convenço que foi o período mais moderado da nossa história política moderna. O que, aliás, não é surpreendente, tendo em conta que a ideia era unir, e não dividir.


Vivendi disse...

"Quanto mais leio e sei da acção governativa do EN, cada vez mais me convenço que foi o período mais moderado da nossa história política moderna. O que, aliás, não é surpreendente, tendo em conta que a ideia era unir, e não dividir."

Concordo. Provavelmente nem 10% da população era genuinamente contra a ação governativa do EN. E nesses do contra estamos a falar de gente radical toldada pelo seguidismo a uma ideologia e não pelas necessidades reais do país.

Apanharam é certo uma brecha para se infiltrarem na sociedade portuguesa quando ao mesmo tempo nos vários países europeus se assistiu a um afastamento da tradição por uma nova expansão de suposta modernidade onde o Maio de 68 coroou muito bem qual a viragem cultural que se ia impor para a construção de uma nova sociedade europeia aliado com a implementação de um sistema financeiro baseado na dívida que permitiu níveis de consumo nunca vistos.

Os resultados é o que se conhece.

Ricciardi disse...

Oh Muja, a moral define-lhe a necessidade de haver um SMN, mas não lhe define o nível mesmo.
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O nível do SMN é também uma consideração económica. Na minha opinião, em termos gerais, é adequada a definição do nível de um SMN equivalente a 60% do Salário Médio da população feito por regiões. Este numero, que parece caído de céu, na verdade é bem tirreno. Resulta da compração que a OCDE fez em vários países concluindo que o SMN a esse nível não tem impactos negativos no emprego.
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Rb

Ricciardi disse...

Caso contrário, estariamos a discutir se o SMN não deveria descer para zero ou subir 100%. Tem de haver um critério, necessariamente moral na sua base enquanto conceito abstracto, mas alicerçado a um nível economicamente viável.
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Rb

Ricciardi disse...

Assim, eu não partilho da ideia de que o SMN deve subir em Portugal. Acho que está no nível exacto que devia estar, atendendo ao nível do salário médio. Portugal deve ser dos poucos países que tem o SMN em linha com o nível optimo economico.
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Rb

muja disse...

No fundo é isso mesmo que Vs. estão discutindo. Porque parte do pressuposto que o valor do salário mínimo deve ser único?

Porque não discriminar em função do sector económico? Tamanho da entidade empregadora? Nacionalidade (ou falta dela) da mesma? Nacionalidade dos trabalhadores?

Há tanta coisa em que se pode pensar... Mas dir-se-ia estar toda a gente limitada por umas palas, que constrangem o pensamento aquilo que se convencionou 'correcto', irrespectivamente do benefício práctico para as pessoas, que é a derradeira finalidade da política.

Ricciardi disse...

Sim Muja, concordo com isso. Até porque o valor ou poder de compra de um salário não é o mesmo em Lisboa ou em Mogadouro.
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Eu penso que até existirão indicadores regionais do custo de vida relativo. E o SMN podia perfeitamente ter isso em conta.
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Mas também ter em conta a idade e qualificação das pessoas, e ramo de actividade como se faz na Suiça que, pese embora não tenha SMN por lei, tem-no por regulação (o que vai dar ao mesmo). Em Portugal a excepção vai só para os aprendizes cujo minimo se fixou em 80% do smn.
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A suiça tem vários Salarios Minimos, portanto. O da restauração era, há uns anos atrás, no valor de 2300 euros brutos.
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Em Portugal parece que só 10% do pessoal ganha esse valor, pelo que tambem nao vejo grande motivo para fazer do estabelicimento smn um problema de lesa patria, neste caso lesa produtividade.
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Rb

muja disse...

Pronto, mas então diga-o, em vez de se fixar nos moldes da discussão trazidos pelo CN, que quer à força acabar com o s.m. porque vai contra lá a doutrina acapo dele.

Não contra-argumente com economicismo porque isso não importa nada. Pergunte-lhe antes que solução tem ele para impedir ou minimizar o número de pessoas exploradas. Porque é apenas disso que se trata.
Quem sabe se ele até nem tem uma boa solução que não passe por um s.m.?

Agora, se ficarmos presos a esse conceito inflexível, nunca mais chegamos a lado nenhum...