12 março 2013

Crises

O economista e historiador Charles P. Kindleberger na sua história das crises financeiras escrita em 1978 contabilizou 38 crises financeiras desde 1618. Mais tarde, actualizou o seu livro com mais 3 terminando com a crise asiática em 1998 e faleceu sem poder documentar a chamada bolha da internet de 2000 e a crise corrente genericamente atribuída a e baptizada como a bolha do imobiliário. Noutro estudo recente citado por Niall Fergusson, com os dados disponíveis desde 1870 para o Produto Interno Bruto e o Consumo, identificou 148 crises onde o decréscimo cumulativo do PIB foi de mais de 10% e 87 crises onde o consumo sofreu um decréscimo comparável.

Podemos considerar um falhanço de boa parte da doutrina económica que se especializou a recomendar remédios em vez de identificar as causas, uma boa especialidade porque passa sempre por dar aos políticos e bancos centrais aquilo que eles querem; aparecerem como os salvadores pela sua acção indispensável.

Mises em 1949: “Não há meio de evitar o colapso final de uma bolha provocado pela expansão do crédito. A alternativa é apenas se a crise deve chegar mais cedo como o resultado de um abandono voluntário de mais expansão de crédito, ou mais tarde, como uma catástrofe final e total do sistema monetário envolvido.”

9 comentários:

Ricciardi disse...

Essa frase do Mises demonstra bem o motivo pelo qual eu, embora aprecie a substancia da teoria do homem, não consiga reconhecer-lhe validade pratica.
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É que eu acho que é possível, de facto, fazer sempre qualquer coisinha para contornar as crises. É possivel e, bem pouco tempo depois da declaração de Mises, comprovou-se exactamente o contrario.
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Afinal, é possivel agirmos para as minorar. Mas Mises defendia, como todos os austriacos, o cruzamento de braços e deixar a coisa escanqueirar-se toda. Quando a crise chegar ao fim, eles garantem que só pode subir. A tal selecção natural.
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La Palice não diria melhor. Quando chegarmos ao fundo só podemos vir para cima.
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Ora, Keynes, o mestre, não se conformava com isso. Ele achava que se podia intervir aqui e acolá para minorar os efeitos de uma crise. Em determinadas situações defendia maior proteccionismo. Noutras maior emissão de moeda. E noutras ainda uma redução de Impostos drástica. O objectivo de Keynes é sempre o mesmo. Gerar confiança nos agentes, nos empresários e nos consumidores.
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A injecção de confiança é artificial?
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É pois, é artificial. Só pode alguma coisa ser artificial se for feita pelo homem e destinada ao homem. A selecção artificial é um imperativo para se sair de uma crise sem precisarmos de nos degradar tanto quanto defendem os austriacos.
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Rb

CN disse...

RB

Como se pode recomendar curas se não se percebe as causas?

Minimizar problemas da crise e desemprego é aceitar a diminuição de preços e salários.

João Mezzomo disse...

A vida também é uma bolha que vai explodir um dia, no entanto estamos vivos. Poderíamos nos antecipar e evitar a bolha, não é isso que fazem os tímidos e suicídas?
Ou seja, tudo é bolha, é uma questão apenas de grau, quanto se pode ou deve encher a bolha, o que é adequado ou inadequado.
A crise atual não vem apenas da bolha, mas do fato de ela ter sito explodida. Por que ela foi explodida? Por que não se admite mais que uns trabalhem 18 horas e tenham apenas arroz e recentemente frando para comer, enquanto outros não trabalham, vivem de seguro, estão gordos, e andam de camionetes de um lado para outro...Ou seja, aquele mundo sem fronteiras que John Lenon cantou, e muitos de nós juntos, chegou, com seu bem e seu mal, não dá pra escolher apenas o bem....Agora os blocos que compõe a economia dos paises vão se mover até que emfim "o mundo seja um só" efetivamente...Não seremos todos iguais, pois não existe isso, as diferenças continuarão, mas as oportunidades serão as mesmas....Não sei quando, "no Século XXX", como nos falou o poema de Maiakowski, não sei, mas um dia será....Enquanto isso não acontecer o mundo ainda tremerá um bocado....

CN disse...

João Mezzomo

Acho que lhe deve interessar em muito a teoria de moeda e crédito e dos ciclos económicos da escola austríaca.

As bolhas não são inevitáveis e têm explicações bem objectivas assente na criação de crédito sem poupança monetária prévia.

Anónimo disse...

Como se pode recomendar curas se não se percebe as causas?

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Nao será que o sistema é a causa?.
Algo assim chamado "capitalismo" leva implicitas estas crises do capital...só que agora com a entrada dos chinocas ja nem te conto.
Para quando um post sobre do perigo amarelo; da entrada do sistema capitalista dos "branquinhos" dos "nao-capitalistas" ou comunistas da China.
Influie, nao influie, nao sabe/nao contesta.
E que o chamado perigo amarelo ja tem seus anos e a sua historia ja...

João Mezzomo disse...

Obrigado pela dica CN....
Comecei minhas aulas de economia ontem à noite, não sei se conseguirei cursar em face do trabalho etc.
Mas acho que as crises são inevitáveis, e tem o sentido de nos fazer ver o que não vemos, às vezes por não querer ver...
A que o mundo atravessa hoje é um pouco diferente da de 1930, pois o modelo "materialista" se esgotou...Minha opinião é que agora o ser humano está se defrontando consigo mesmo, ou seja, não existe mais como fugir...Temos de decidir enfim se é materia o que queremos, ou o que mesmo....Até pouco tempo atrás o modelo ocidental de "ser santo na missa e pecador no negócio" (simplificação de "A questão Judaica" de Marx) funcionava bem, mas essa clarificação das coisas deixou nossa hipocrisia em cheque.....Enquanto não enfrentarnmos isso a crise continuará....Temos de decidir se transformamos nossas palavras e crenças vazias em algo cheio ou não...Desulpem-me se sou muito filosófico, mas de fato sou...Abç....

Anónimo disse...

Desulpem-me se sou muito filosófico, mas de fato sou...Abç....
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Nao quero ofendelo e desculpeme vc, Joao mais começa bem. E tem a Marx como guia mais do que supoe. Filósofo metido a economista ?.
Recordo algo vago e vaporosso como assim titulado quadernos e escritos economico-filosóficos. ????

João Mezzomo disse...

O texto "A questão judaica" faz parte do livro "Manuscritos econômico-filosóficos", mas acredito que são textos agrupados para edição, não sei...
Essa questão de ter Marx como guia é a mesma de saber se tal filósofo ou pensador de baseou ou copiou outro, pois dizem coisas equivalentes....Como Descartes em relação a Sto. Agostinho por exemplo, tem trechos de Discurso do Método que parece copia de Sto. Agostinho...Mas não é isso, quem mergulha acaba achando a mesma coisa, só muda o modo de falar....No caso fui fazer economia pela curiosidade, assim como Marx deve ter ido....Admiro Marx pelo brilho intelectual, mas não comungo da maioria de suas ideias nem de seu espírito "científico"...Em meu modo de ver nossa ciencia é limitada, justamente por não ver isso o marxismo falhou....Justamente, o texto que referi é do Marx jovem, e ele deixa ver um caminho mais interessante do que o que depois Marx trilhou, que superavaliou a importância do material, no caso, do econõmico...Naquele texto ele deixou ver a contradição do Ocidente, que está mais no âmbito espiritual-religioso...

CN disse...

".Desulpem-me se sou muito filosófico, mas de fato sou.."

Tem muito para explorar, suponho que conhece o:

mises.org.br