09 março 2013

A boa moeda expulsa a má moeda

Nota: este tema faz parte de uma discussão avançada sobre a natureza da moeda, banca, e as reservas fracionárias versus reservas 100% que tem apoquentado a própria Escola Austríaca. Há muito tempo que desenvolvo esta tese e a tenho tentado expor em fóruns de discussão onde participam académicos austríacos. A tese é esta. Agradeço todos os comentários.

Num sistema de liberdade monetária, os bancos devem poder oferecer livremente contas correntes e notas com 100% de reservas ou sem cobertura. Certo.

Mas existe uma condição de direito:

- Que os contratos sejam claros e tenham a denominação correcta sob pena de fraude.

Nada obsta a que os bancos pudessem começar a oferecer notas e contas correntes sem cobertura de moeda base (seja prata, ouro, bitcoins ou as modernas reservas de um banco central) se tal fosse claro na relação contratual e na denominação usada para tal.

Assim, num ambiente bancário concorrencial honesto será necessário que:

- o termo "depósito à ordem" corresponda a contas correntes de moeda base (seja prata, ouro, bitcoins ou as actuais reservas de bancos centrais) à guarda
- a emissão de notas corresponda a certificados de depósito de moeda base à guarda.

E os bancos que queiram oferecer emitir contas correntes e notas sem que corresponda a moeda base à guarda, ou seja, não possuindo os bancos a quantidade de moeda base para os valores emitidos de tais notas ou contas correntes (a actual prática legalizada por legislação especial de "reservas fracionárias")?

- um termo compatível com esse tipo de contrato é o de “promessa de entrega" e não será fungível (em termos de direito e económico ou mesmo de registo contabilístico) com o de "guarda" porque não constituem contratos homogéneos. A consequência prática disto é que na contabilidade, as empresas teriam que manter registos agregados separados de contas correntes de moeda base e de "promessas de entrega".

E consiste numa “promessa de entrega” (e não certificado de depósito) porque a relação contratual é a de uma entidade que promete entregar/liquidar em moeda base, apesar de não a ter (e assim assumido e transparente) moeda base em guarda na totalidade do conjunto desses títulos emitidos. Não é uma "guarda", é uma "promessa".

Agora, imagine-se que, nesta realidade de liberdade monetária, alguém vai depositar moeda base (ex: prata ou ouro físico) num banco. Irá fazê-lo numa entidade que assegura a guarda em custódia (mas com todas as facilidades de movimentação a débito/crédito como em qualquer conta corrente) ou numa entidade que emite as referidas “promessa de entrega”?

Parece evidente que só se irá depositar contra um contrato de guarda. Que interesse teria trocar "a coisa" por uma "promessa de entrega" dessa coisa?

E quem quiser estabelecer preços e contratos? É indiferente receber ao mesmo preço, verdadeiros certificados de depósito e títulos de “promessa de entrega”? Parece-me claro que existiria um rácio de convertibilidade, em especial, naqueles emissores de tais “promessas de pagamento” percepcionados como de maior risco.

E quanto ao argumento do juro? Quem possuir contas correntes de tais “promessas de entrega” pode receber juros na sua conta corrente (os actuais depósito à ordem). Sim, mas irá receber um juro, ele próprio “promessa de entrega”.

A verdade é que os detentores de moeda base também têm a possibilidade de receber juros fazendo contratos de crédito e recebendo juros… em moeda base (ou o seu substituto de notas/certificados ou verdadeiros depósitos à ordem).

Assim, parece-me claro que no normal funcionamento de mercado, a boa moeda tenderá a expulsar a má moeda. Neste caso, como a má moeda (os títulos de "promessa de entrega") contêm um risco que a boa moeda ("à guarda") não tem, existirá um desconto, fazendo com que deixe de funcionar como a moeda base de cálculo. O racional é querer receber a boa moeda e pagar com a má. Mas se a má passa a ter valor inferior ao seu valor nominal em moeda base, já não haverá vantagem em pagar com a má moeda. No longo prazo as "promessas de pagamento de moeda base" tenderão a ser suplantadas pela moeda base (ou a sua representação em notas e depósitos à ordem).

A má moeda só expulsa a boa moeda quando legalmente se força a atribuição do valor da boa moeda à má moeda, coisa observada historicamente.

Aliás, a própria ambiguidade do estatuto dos depósitos concorre para atribuir o mesmo valor aos verdadeiros depósitos versus aquilo que na verdade são contas correntes de “promessa de entrega”. Como tal, nestas condições, sim a má moeda expulsa a boa moeda e nenhum banco terá incentivo a praticar a boa moeda.

8 comentários:

Ricciardi disse...

Em suma, o CN diz que as pessoas, havendo um sistema com duas possibilidades de entregar dinheiro, elas preferiam aquele sistema que o não emprestasse a outrém.
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Em teoria, pode ser, eventualmente, verdade. Na realidade, não me parece. Porque a realidade demonstra que as pessoas precisam de crédito para poder adquirir cenisses hoje que sem ele o não conseguem. Por exemplo, uma casa, um carro, etc. O endividamento dos privados é de cerca de 300% do PiB ou, se quiser, noutra perspectiva, mais do dobro daquilo que tem de depositos.
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E isto quer dizer, grosso modo, que o dinheiro que têm em depositos e os bens duradouros que compraram obtiveram-nos em crédito juntos dos bancos.
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Desta forma, não vejo como podem liquidar ou amortizar os seus 'investimentos' junto da banca, colocando o dinheiro «à guarda» noutra instituição que não sejam aquelas aonde tem financiamentos.
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Isto significa que só colocariam a massa «à guarda» os aforradores sem dividas (uma minoria). Mas mesmo esses, esperam remuneração da massa que têm. Se podem ter uma juro para remunerar o seu dinheiro, provavelmente não escolheriam outra instituição que não lho proporcionasse... excepto se tivesse mesmo muito receio do futuro. Mas se tivesse muito receio, dúvido que tambem confiasse numa instituição que o guardasse apenas. Eu não confiava. Eu confio mais numa instituição que me emprestou dinheiro e aonde simultaneamente eu lá tenho algum. No limite compensamos o débito e o crédito.
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Rb

Anónimo disse...

CN, o seu post é "duro de roer". Mas dá-me a ideia limpa.
Obrigado, eao

marina disse...

não percebo lá muito bem o RB : então agora pode-se começar um banco sem capital nenhum ? grande negócio em que quem o começa não tem de por lá nada de seu e só mexe com o dos outros...os primeiros agiotas devem estar a dar voltas na tumba , verdes de inveja.

marina disse...

e o CN podia tentar explicar como os fabricantes de ouro e prata falsos quando rebenta a bolha e lá vem a crise fazem com que aquilo que se comprou como bom apareça mau sem máscara : tanta gentinha que pagou tijolo e cimento com trabalho verdadeiro a preços de Valor falso e agora tem um menino raquitico no colo :) também ninguém lhes mandou acreditar que se fazem bons negócios com bancos e que apartamentos valorizam com os anos numa demografia em queda.. foi isso e trocar de carro de 3 em 3 anos pq perdia valor... bem certo que as pessoas acreditam no que lhes dá jeito acreditar , que é que se há-de fazer ?

marina disse...

é que não sei se repararam : todos os bens patrimoniais que têm agora não valem nada . são apenas encargos financeiros ( imi e patati ) não valem nada envers les banques et les politiciens . e pagaram-nos com o vosso trabalho a sério. a maior parte de nós , claro.

João Mezzomo disse...

CN, como já falei sou filósofo e engenheiro e agora acadêmico de economia. Justamente, resolvi cursar economia pela curiosidade que tenho relativamente a esses assuntos de moeda, etc., mas já tenho certas ideia formadas sobre isso. Em primeiro lugar, a moeda é uma mercadoria como outra qualquer, ela se originou de um processo evolutivo desde as mercadorias como sal, ouro, etc. Usando uma terminologia de Marx, as mercadorias tem valor de uso e valor de troca. As usadas como moeda tem alto valor de troca, e a moeda de hoje tem quase somente valor de troca. Mas ambos mos valores depende da sociedade, ou seja, é uma convenção em função da vida concreta, não são valores em si. O próprio ouro pode passar a valer nada, dependendo do rumo da sociedade. O valor das moedas depende de uma série de fatores e qualquer k,moeda pode “desmanchar no ar”.
Em nosso mundo moderno o dolar é a moeda do mundo. Por mais que os EUA estejam aparentemente em crise, ainda são o pais líder do Ocidente. Na crise as pessoas correm para os títulos do Tesouro Americano ou para o dolar. E isso determina seu valor. Esse aspecto é muito importante pois determina o poder de compra do americano, em contraposição com o resto do mundo. A produção do mundo é mais ou menos fixa, a repartição disso a dada pelos valores das moedas. Dizem que a produção do EUA é muito maior que a do Brasil, mas isso muito em função da relação entre as moedas dólar e real. Um garçom no Brasil faz mais o menos o mesmo que um nos EUA, um pedreiro e um médico, idem. O americano tem um poder de compra superior por essa relação das moedas. O dólar se valoriza por ser a moeda do mundo atual, como falei. Como poderíamos valorizar nossas moedas e levar essa relação para um equilíbrio mais justo?
A tese que defendo é que isso deve ser feito aumentando os juros internos. O juro é o custo da moeda, se aumentas ele tu enxugas a mercadoria dinheiro e ela sobe. O Brasil fez isso recentemente (não sei se por querer ou não) e o real se valorizou muito, a própria economia brasileira cresceu, pois o PIB é medido em dólares. Mas aí vieram os economistas com suas cartilhas, as quais dizem que juro é recessivo, pois o empresário investe menos se os juros são altos. Os empresários reais que conheço investem se tem demanda, e a demanda aumenta se o poder de compra aumenta, e esse aumenta se a moeda que paga salários se valoriza. Eu dizia isso antes de diminuírem os juros, dizia que ia dar errado. Agora que a presidenta Dilma foi nesse papinho e diminuiu os juros, a economia brasileira estagnou, e os mesmos dizem que “a crise agora chegou no Brasil”. Na verdade não é que chegou, mas sim voltou, aquele velho complexo de vira-latas: Se estamos consumindo e crescendo, algo está errado, não podemos valorizar a moeda artificialmente, diz o complexo. Ora, tudo é artificial na economia, os emergentes devem deixar de agir como vira-latas, pagar juros aos poupadores internos por algumas décadas, até igualar o poder de compra em nivel global....

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=JQkaMKhg-b0

clara disse...

Olá A Todos,

Eu sou deputada Susan aniquilará, estou escrevendo esta carta porque sou muito grato por aquilo que a senhora deputada Clara Morgan fez por mim e minha família, quando eu pensei que não havia esperança, ela veio e fazer minha família se sentir vivo novamente, levando-nos empréstimo de juros baixos taxa de 3% eu nunca pensei que ainda existem verdadeiros credores de empréstimo na Internet, mas a minha maior surpresa eu tenho o meu empréstimo sem perder muito tempo, por isso, se você está lá fora, olhando para um empréstimo por quaisquer razões financeiras em tudo, então eu vou conselho que você para e-mail deputada Clara Morgan na VIA: {clara_morgan@outlook.com} para mais informações sobre esta transação

DESEJO A TODOS O MELHOR

Cumprimentos
Sra Deputada Susan famish