Na aplicação do método científico das ciência naturais às ciências sociais, os empiristas passam a vida a confrontar dados e medições e a modelizá-los com a matemática para arranjar a prova ou refutação de alguma coisa que para todos os efeitos só se aplica àqueles dados e medições em concreto e nada mais.
Pode-se denominar de "prova" a uma descrição histórica? Não, tal "prova" não poderá assumir um pronunciamento universal (o que não retira o interesse como estudo aplicado).
De resto, os empiristas sempre falharam e sempre irão falhar dentro do seu próprio critério (é ciência aquilo que prevê dados e medições futuras), o que felizmente tem contribuído para a sua descredibilização. Se o homem social fosse um mecanismo apreensível, o socialismo teria triunfado e seríamos uma espécie de comunidade colmeia ou formigueiro.
Não, não é uma dificuldade técnica. Advém do livre-arbítrio inerente à acção humana e da valorização subjectiva (não-medível-não-cardinal) sempre imprevisível dessas escolhas (de fins e meios), sujeito a circunstâncias e ao estado de conhecimento acumulado (e o estado de conhecimento futuro é sempre desconhecido). A detecção de leis universais tem de seguir outro caminho.
25 comentários:
Correcção:
Faltava um "não" na frase:
"Não, tal "prova" NÃO poderá assumir um pronunciamento universal (o que não retira o interesse como estudo aplicado)."
Se o homem social fosse um mecanismo apreensível, o socialismo teria triunfado e seríamos uma espécie de comunidade colmeia ou formigueiro.
Não seja tão lesto em tirar conclusões dessas.
Não há nada que prove que o "homem social" não possa ser um "mecanismo apreensível".
O que se passa é que não o é da forma que até hoje foi feita e com as simplificações ridículas em que persistem os economistas hoje em dia, provavelmente porque não sabem nem têm preparação para mais. E é pouco provável que possam vir a ter.
No entanto, nada invalida que não possam vir a ser tiradas conclusões sobre a realidade e o comportamento dos homens que indiquem as formas mais vantajosas de dirigir a economia, ou que medidas podem ter tal ou tal resultado.
Concedo que seja impossível prever as acções de uma pessoa individualmente, mas é possível perscrutar possíveis efeitos de uma ou outra medida num sistema complexo como uma sociedade ou economia através da simulação com um modelo competente e poder computacional adequado.
http://en.wikipedia.org/wiki/Agent-based_computational_economics
Um exemplo do género de coisa que se pode estudar são os modelos de segregação de Schelling que não são sequer coisa nova:
http://web.mit.edu/rajsingh/www/lab/alife/schelling.html
Não quer dizer que se siga à letra o que disserem ou preverem os modelos e as simulações, mas permitem, pelo menos, ter alguma coisa concreta em que se possa basear quem tiver de tomar decisões, em vez de pura e simples especulação como é hoje em dia.
Dito isto, não se trata de nenhuma solução mágica porque, como ficou demonstrado pela "crise" de 2008, a maior parte do problema não é técnica nem social, mas simplesmente criminal.
Os reguladores são corruptos, os políticos são corruptos, os académicos são corruptos e os bancos, ou quem neles manda, são corruptos e corruptores.
Não há ciência que nos valha. Mas a boa e velha moral continua eficaz como sempre, houvera alguém que dela aplicasse os princípios, e respectivas consequências, a essa gente...
Se aquilo que o CN diz fosse verdade, que é impossível identificar leis gerais q.b. por indução com a acumulação de dados empíricos, então seria porque a realidade tal como nós a percebemos é arbitrária. Que não existe correlação entre estímulos externos e a acção humana. Isto não é verdade, como se pode mostrar em muitas situações em pequena escala, o problema é que o CN é ambicioso e ou há leis universais divinas ou é tudo lixo.
Eu percebo que é extremanente difícil de fazer qualquer coisa de valor em ciências sociais, e até pode ser que os meios actuais sejam muito limitados. Mas dizer que os dados empíricos (que por alguma razão o CN só imagina que sejam cardinais) não podem ser úteis é uma estupidez. Por acaso os austríacos desenvolveram as suas teorias num quarto fechado durante toda a vida ,ou com base na forma como observavam a realidade? É que até a hipótese do CN de que o conhecimento empírico não é modelável é feita com base em observação empírica.
«Advém do livre-arbítrio inerente à acção humana e da valorização subjectiva...»CN
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Eis a causa pela qual o comportamento individual é indeterminável, embora possam ser previsíveis os movimentos do grupo. .
Em suma, meter o liberalismo na gaveta é tão racional e evidente quanto foi ter metido o socialismo na mesma. Por razões similares: enquanto os segundos acreditam numa sociedade de caralhos, os primeiros acreditam nos caralhos que a compõem.
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Eu vou fazer um exercicio mega racional, uma espécie de profecia:
- Eu não sei o que é o que CN vai escrever nos próximos posts. Não sei exactamente sobre que ideias dos outros v.exa. versará a seguir. Não consigo determinar essa acção humana do meu caro CN.
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Mas sei de uma coisa. Sei que vai escrever sobre Rothbart e Mises e Hayek e sobre os maleficios do estado-papão. Com o histórico que tenho até posso acertar com intervalo de confiança jeitoso.
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E portanto se se espantarem com os meus dotes adivinhatórios, eu negarei tal empresa. A mim cabe-me apenas despertar os sentidos e fazer contas de somar, subtrair e calcular aquilo que o CN vai dizer, atendendo ao passado (eis porque a ciencia versa sobre o passado). Não aquilo que vai dizer daqui a um bocado, mas sim aquilo que ele vai dizer num dado intervalo de tempo.
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Ora bem, depois desta previsão, que é uma quasi-certeza, o CN tem duas hipoteses:
1)ou escreve, ou continua a escrever, sobre ideias dos outros ou ideologias e dá-me razão, ou
2) para ganhar a aposta começa a escrever ideias próprias ou criticas às ideias dos outros. Neste caso seria batota porque a minha previsão teria influenciado a sua decisão.
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Portanto, a bem dizer, só há uma hipotese.
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Qual Zandinga eu inclinar-me-ia para a primeira hipótese. Está escrito nos astros. É como se o futuro me estivesse a passar à frente destes meus olhinhos que a terra não vai certamente comer.
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Há excepções, claro. Mas as excepções só se verificam quando um tipo para argumentar o seu ponto de vista recorre à sua própria experiência e saber e, sobretudo, consegue quando se pode ter espirito critico sobre as coisas em geral e os dogmas em particular.
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Por exemplo, se eu afirmo que a definição de um salario minimo obrigatório equivalente a 60% do salario médio de uma determinada sociedade não afecta o nível geral de emprego, o caro CN, para rebater esta minha afirmação atirar-me-à com um conjunto de teorias de uma tribo algures entalada entre os alpes. Mas não demonstra porque é que eu não tenho razão ao afirmar o que afirmo. E se demonstrar com graficos marados, como num post abaixo, fazendo crer à clientela que a causa do desemprego jovem entre 2008 e 2010 foi do aumento do salario minimo e não da crise do subprime, eu dir-lhe-ei, nesse caso, que, olhe, que, enfim, pronto não se fala mais nisso.
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Mas há excepções. Nem toda a gente aceita ser parte de uma manada pela eternidade. Nem toda a gente corre de olhos fechados no estouro da boiada. Nem toda a gente cai no precipicio por correr atrás dos outros. O Dragão explicava bem esta cena de um tipo correr atrás dos outros.
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Olhe, por exemplo, o Pedro Arroja. Parece que ele era assim meio totó liberal. Mas evoluiu. Continua um bocado totó, mas já não é liberal.
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Mas totó no bom sentido.
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E o que é um totó no bom sentido, perguntar-me-à vexa.
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Um totó no bom sentido é um tipo que nunca responde com ideias dos outros. E porque é que eu digo que o Pedro Arroja é um bocado totó?
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Exactamente porque ultimamente anda a responder às questões precisando primeiro de indagar a posição do catecismo. Por isso é que é um bocado, um bocado apenas, totó.
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Já eu sou mesmo totó. Completo.
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Rb
Rb
o raciocínio que a subida imposta de um preço provoca maior escassez é uma verdade em si mesmo, o que os dados dizem ou não é irrelevante.
Tem toda a razão em dizer que o desemprego pode ter subido porque uma crise começou. Como isso pode ser dito de qualquer conjunto de dados. Ou seja, não prova nada em si. Quanto muito ilustra.
O raciocínio inicial é que continua a ser verdadeiro e não precisa de dados.
Francisco disse...
"Se aquilo que o CN diz fosse verdade, que é impossível identificar leis gerais q.b. por indução com a acumulação de dados empíricos, então seria porque a realidade tal como nós a percebemos é arbitrária."
Como é que a observação histórica pode reclamar universalidade?
A realidade não é arbitrária, o tipo de leis universais que podem ser descobertos é que não têm um carácter numérico/matemático.
"Como é que a observação histórica pode reclamar universalidade?"
Mas porque é que o CN se fixa tanto em leis universais? Se nem na física há leis universais ainda, quanto mais nas ciências sociais, que são muito mais complexas. A boa ciência é aquela que faz previsões, como o CN disse. Não precisa de fazer previsões sobre tudo em todos os momentos, basta que seja sistemática dentro da sua área de aplicação.
Dizer que o passado não tem relação nenhuma com o futuro significa precisamente que não há leis gerais.
"A realidade não é arbitrária, o tipo de leis universais que podem ser descobertos é que não têm um carácter numérico/matemático."
A matemática não é só números. Pode descrever processos ordinais de forma matemática, se quiser. Mas o que eu gostaria de saber é como tem tanta certeza que não há nenhum cantinho da ciência social que se possa socorrer da estatística e da análise numérica.
Exemplos de leis universais não empíricas (copy paste):
"Law of marginal utility: Whenever the supply of a good increases by one additional unit, provided each unit is regarded as of equal serviceability by a person, the value attached to this unit must decrease. For this additional unit can only be employed as a means for the attainment of a goal that is considered less valuable than the least valued goal satisfied by a unit of such good if the supply were one unit shorter.
Or take the Ricardian law of association: Of two producers, if A is more productive in the production of two types of goods than is B, they can still engage in a mutually beneficial division of labor. This is because overall physical productivity is higher if A specializes in producing one good which he can produce most efficiently, rather than both A and B producing both goods separately and autonomously. "
Mas isso não são leis universais sobre a realidade, são leis universais sobre um mundo imaginário que não é equivalente à realidade em todas as situações e em todos os momentos.
A utilidade e o domínio de aplicação dessas leis só pode ser verificado empiricamente.
Francisco
São leis universais nos próprios termos em que são produzidos. Se existir alguma inconsistência podem ter de ser alterados até o serem.
Onde é isto não é universal:
"Whenever the supply of a good increases by one additional unit, provided each unit is regarded as of equal serviceability by a person, the value attached to this unit must decrease. For this additional unit can only be employed as a means for the attainment of a goal that is considered less valuable than the least valued goal satisfied by a unit of such good if the supply were one unit shorter."
Já lho tinha apontado, CN:
"Whenever the supply of a good increases by one additional unit, provided each unit is regarded as of equal serviceability by a person, the value attached to this unit must decrease. For this additional unit can only be employed as a means for the attainment of a goal that is considered less valuable than the least valued goal satisfied by a unit of such good if the supply were one unit shorter."
O sublinhado não é universal, nem há maneira de saber se o é, sem perguntar a todas as pessoas. E mesmo assim, só valeria para as que estivessem vivas, porque não pode perguntar às outras...
Portanto, a lei só é universal na sua (e na minha) cabeça. Ou seja, de quem aceitar a universalidade do pressuposto.
Não é universal porque?
se o bem for o mesmo, a primeira unidade serve a necessidade mais alta, a segunda...
qual a dúvida?
Mas que leis universais?
Como é que v. quer "detectar" ua lei sem a observar na prática?
Sabe o que significa empirismo:
Significa que, em extremo, os filósofos que defendem que todo o conhecimento que conseguimos ter, derivam de dados da experiência que depois passam a conceitos.
Sabe o que significa racionalismo apriorístico (porque pode também ser racionalismo derivado da experiência)
Significa os defensores da existência de verdades (evidentes) que são verdadeiras por si próprías, independentemente da verificação experimental
No apriorísmo, o máximo que se consegue é afirmar no predicado algo que já está contido no conceito do sujeito (da oração) Fora isso, são sempre noções básicas com as quais tanto se faz ciência, como não faz e em nada se altera se a mesma ciência for feita a partir de noções que se acredita derivarem da experiência.
Porque isto são meras questões FILOSÓFICAS!
E v.s, como não sabem o que são questões filosóficas, imaginam disparates e escrevem bacoradas.
V. tanto chega a uma lei sendo "empirista" como sendo racionalista.
Para o caso, só é lei, se for observada na prática.
Até lá é mera hipótese.
E. a Ciência contemporânea é toda hipotética. Nem o Einstein conseguiu fazer passar lei, fosse de que modo fosse.
Só v.s os neotontos austríacos é que querem vender "leis" do comportamento humano, como evidências tautológicas, mais verdadeiras que o "penso logo existo" do Descartes.
Porque até esse se enganou- não há evidência alguma nesse juízo, uma vez que quando se pensa, pensa-se sempre acerca de algo.
Eu já não conseguia dar aulas de liceu.
Agora mesmo com toda a formação académica ainda dizem disparates desta ordem e insistem neles, sem se darem sequer ao trabalho de ir ao google e entenderem as palavras que papagueiam.
Quanto muito, na matemática é que existem hipóteses diferentes, partindo do conceptualismo ou do realismo.
Mas isso é coisa para epistemólogos e v.s falam nem sei de quê.
Falam de "leis da acção humana".
Algo mais aleatório e com mais "espíritos animais" que os do Descartes ou da bolsa.
Por isso é que uma vez até o PA se fartou de rir, num debate no Blasfémias com o João Miranda.
Esse também teimava que a Reforma se explicava pelas mesmas leis que regem a Natureza.
E eu lá lhe fui perguntado acerca dessas leis. se era meteorologia, se era gravidade, se era gravitação dos corpos, ou outra lei idêntica
E chegámos à conclusão- alvitrada pelo PA- que a Reforma só podia ter acontecido, graças à Lei Histórica da Reforma.
Nem o Marx iria tão longe na cientoinice, quanto a neotontice tirolesa.
«Olhe, por exemplo, o Pedro Arroja. Parece que ele era assim meio totó liberal. Mas evoluiu. Continua um bocado totó, mas já não é liberal.
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Mas totó no bom sentido.
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E o que é um totó no bom sentido, perguntar-me-à vexa.»
AAHHAHAHAHAHAHA
Este bacano é único com os exemplos que inventa
":O)))))))
Chama-se a isto ideologia.
Ficar com a cabeça feita, à conta de ideias que se fazem passar como utopias possíveis.
E é por isso que a ideologia é perigosa.
Porque é uma fezada que ataca mais forte que a religião e funciona da mesma maneira- cria cultos.
Mas, como não tem propriamente "deuses" ainda é mais perigosa- funciona de forma irracional, por propaganda e o próprio nem se dá conta que está apanhado pela fezada ideológica.
Toma por ideias o que é da ordem ideológica.
Porque as ideias implicam reflexção e colocar em causa.
As ideologias, não- servem para agit prop e funcionam por doutrina que se toma por fé.
Eu sempre achei que a ideologia obriga a maior fé que a crença religiosa.
Por isso é que os ateus militantes têm tanta fé na deusa Ciência".
Mas, quando um crente fica apanhado pela ideologia deve ser mais complicado.
Deve potenciar as duas e fazer com que se misturem.
Só isso explica como em nome do Bem se fez tanto mal e como tanto católico pode defender ideologias em tudo opostas ao catolicismo.
Porque se enganam. Porque ficam cegos e idolatram a ideologia, querendo com isso "completar" a doutrina católica.
Isto é válido, seja católico da ideologia da teologia da libertação, seja da neotonta.
A virtude está no meio.
E é pena perder-se esse sentido com tão bons ensinamentos.
Carrega zazie.
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Rb
Estes srs deveriam ler HHHoppe.
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