16 fevereiro 2013

breve história do presente

Como escrevi anteriormente:

Quem aufere um salário bruto de 1683€ (sujeito a retenção de 20% em 2013):

- tem um rendimento líquido de impostos de 929.02€ (sem tx. extraordinária)
- mas produz e assim poderia auferir de um rendimento total de 2082.71€

Isto corresponde a pagar 55,34% de impostos. Posso repetir? 55,34%.

A máquina de redistribuição saiu fora do controlo se bem que como procuro demonstrar, nem as pessoas têm bem a noção do quanto. Eu pelo menos suspeito que o número de 55,34% não está presente.

E nem assim a Dívida Pública deixa de crescer a ritmo acelerado não sem que grande parte da população perceba o facto, e até pense que estamos "a fazer sacrifícios para pagar a dívida". Creio que a expressão "enganar o povo" se aplica.

Adicionalmente, o ambiente económico que o presente regime social nos dá é:

- um sistema monetário e bancário disfuncional, que provoca bolhas (que beneficia alguns) seguidas de crises (que prejudica todos enquanto alguns são protegidos de falências) ajudando a criar a desconfiança numa economia livre e ajudando a ordem política a impor-se ainda mais.
- a crescente individualização da pessoa que passa a relacionar-se com o poder a quem tudo deve (a gratuidade, os direitos de, a libertação da comunidade que lhe está próxima, etc.) e tudo tem de dar, fazendo decair a consistência da ordem social e tornando-a fácil refém de crescentes invasões da ordem social tradicional que ainda vai subsistindo.
- os jovens ajudam a pagar para muitos idosos (65 anos é um idoso?) ainda com saúde não trabalharem, em vez de reterem os meios para o investimento em início de vida (casa, carro, formação, etc) e os idosos em vez de acumularem poupança (fornecendo capital à economia ao longo da vida) e ajudarem mais tarde a providenciar o capital inicial aos jovens, vivem do esforço produtivo da população activa.
- cobra impostos a todas as empresas para depois beneficiar algumas com isenções e programas de apoio criando um sistema de corrupção do mecanismo económico tal como se cria regulação avulsa que aumenta barreiras à entrada de novas empresas, protegendo as estabelecidas. O melhor que podemos fazer pela política industrial é acabar com todos os programas e assim baixar a carga fiscal.
- as barreiras no mercado de trabalho aumentam a necessidade de capital onde ele é escasso, as pessoas menos formadas são proibidas de trabalhar (SMN) e a micro-empresa é proibida de oferecer emprego, em especial nas regiões mais afastadas da produtividade média nacional, contribuindo assim para a deslocalização para os meios urbanos. O desemprego estrutural cresce.

E finalmente constata-se que estamos perante um mecanismo social de redistribuição generalizado onde o voto universal cria a ideia de legitimidade na invasão de direitos de propriedade dos outros e onde se forma uma maioria de dependentes directos e indirectos do orçamento geral o estado, ponto onde a disfunção do processo decisório está assegurado. Uma maioria cada vez maior depende de uma minoria cada vez menor sobre a qual de resto não cessa a perseguição e a suspeita social.

O mais provável será assistirmos a sucessivas fugas para a frente enquanto a demagogia de retórica política é premiada. Aparecem sempre soluções que envolvem a compulsão sobre terceiros. Criam "empregos", "inovação", etc. sempre à custa do OE mas cada vez menos há "empregos" e "inovação" a contribuir para o OE.

Adicionalmente, o presente sistema monetário assegura a construção de uma pirâmide de dívida privada e pública impagável, onde a moeda é crédito e vice-versa e o sistema bancário se encontra permanentemente falido tecnicamente que quando concretizado é evitado por doses massivas de inflação quantitativa e crescente concentração bancária.

E assim este sistema assegura a formação de bolhas cada vez maiores, mais globais e simultâneas fazendo com que o mais provável seja a própria estrutura do estado moderno ser abalada numa próxima crise (global e simultânea, como a presente) sem solução ("too big to bailout"), com uma sociedade dividida e extremada à procura de culpados. Mesmo nesse ponto serão políticos como o dom da demagogia a atiçar a confusão no meio da desordem.

Mas... por outro... talvez nesse ponto existam já mecanismos suficientes da sociedade tomar conta de si porque se observa todos os dias a irrelevância crescente dos mecanismos tradicionais que asseguravam a presença "indispensável" do poder centralizado:

- já não controla a comunicação (o monopólio dos correios era um clássico).
- já não controla a educação e sobretudo a informação como antes.
- o ritmo de inovação e capacidade criativa escapa-se-lhe do controlo.
- a formação de comunidades não-geográficas contribui para a auto-organização da sociedade em novos mecanismos de regulação social, e de apoio e entre-ajuda.
- fenómenos como as moedas alternativas e o uso crescente o ouro e prata indicia algo,
- o custo de independência e secessão de comunidades geográficas é cada vez menor, em caso de um abalo da credibilidade do grande-estado-consolidado mais provável se torna a sua concretização (num grande colapso financeiro, a questão da dívida pública, dos bancos, da segurança social que provoca grandes entraves técnicos e outros aos processos de secessão desaparecem...).

E quanto a Portugal? Temos a sorte de sermos já uma pequena nação, uma parte de pequenos proprietários na sua aldeia ou terra, podemos adaptarmo-nos pacificamente melhor que outros.

Esta história é inevitável? Só se as pessoas o quiserem que seja.

4 comentários:

BLUESMILE disse...

È simples: basta matar os velhos reformados todos, esses facínoras que vivem à pala de jovens turcos esforçados, carregadinhos de impostos, taditos ( como se os velhos reformados não pagassem impostos e não tivesse contribuído com pelo menos quatro décadas de contrubioções para o Estado)em vez de fazerem a natural poupança da pobreza extrema ou da mortalidade precoce.


Que falta de decoro!

Vivendi disse...

CN,

O estudo está interessante. Mas em função dos números apresentados está a direcioná-lo principalmente para a malta da função pública que estão nem aí para mudar o estado de coisas.

Tem de descer bastante os números para começar a falar para a restante maioria das pessoas que se encontram no sistema privado e que lutam todos os dias para procurar um emprego ou manter o seu emprego.

Anónimo disse...

Caro Pedro Arroja. Quer justificar porque seria um destes dois a sua escolha?

Gravisa

lusitânea disse...

A construção de impérios de novo tipo, agora só cá dentro e por nossa conta, é dolorosa.Mas repare-se que todos estão dispostos a salvar, mesmo com esses sacrifícios todos.Porque a comunicação "não controlada" afinal defende agora que a pátria é onde nos sentimos bem e nos pagam.E um milhão, cheios de afectos, representa um belo "dízimo" nesta imensa Casa Pia do Mundo...