Há uns tempos, o
Pedro Arroja escreveu aqui um texto que me impressionou vivamente e me fez
pensar. Não disponho, agora, do link do post, nem sequer me lembro do seu nome,
mas, no essencial, o Pedro explicava que uma das razões pelas quais tinha
abandonado o liberalismo austríaco foi ter percebido, a meio do seu entusiasmo,
que Hayek e Mises se estavam rigorosamente nas tintas para a sua liberdade, a
liberdade do Pedro, e a liberdade de todos os homens concretos. Estariam, sim,
mais preocupados com a dedução de argumentos lógicos em favor das suas teses,
com o brilhantismo das mesmas e o seu reconhecimento público, do que
propriamente em saber se elas eram verdadeiramente úteis a alguém, deixando-se,
então, ficar por exercícios de pura retórica.
Isto
impressionou-me, não só pelo peso que terá tido na decisão do Pedro, ele que
era um liberal a tempo inteiro, mas porque sempre entendi que tudo na vida deve
ter uma dimensão utilitária, ainda que puramente subjectiva e individual, e que
uma teoria política, essencialmente se for sobre a liberdade, tem de se
reverter em ganhos concretos para pessoas concretas, e não deixar-se ficar
apenas a falar aos passarinhos. O nosso tempo – e o tempo dos nossos – é muito
limitado e pode terminar a todo o instante, de modo que perder tempo com inutilidades
puras é um exercício absurdo e irracional.
Ora, se não
tenho dúvidas que muito do que pensaram Mises e Hayek – e muitos outros autores
liberais – se reverteu em ganhos de liberdade e prosperidade para milhões de
pessoas concretas, já não penso o mesmo sobre o pensamento utópico, que, ainda
que possa traduzir-se num um exercício lógico cativante, não só nada nos traz
de exequível, como nos afasta do essencial e pode até mesmo destruir o que foi
adquirido por pessoas concretas, ao longo de anos e anos de trabalho e sacrifício.
A única utilidade que, muito francamente, consigo descortinar no pensamento
utópico é a de nos abrir novas pistas de raciocínio e levar-nos para outros
campos pelos quais o pensamento conservador não se atreve a enveredar. Desde
que o faça com a consciência dos limites do exercício, não confundindo a utopia
com a realidade.
E o que é,
então, o «essencial»? É melhorar as condições de vida das pessoas, diminuir,
como diria Mises, o seu desconforto existencial. Para isto, não duvido que o
liberalismo pode dar contribuições úteis e positivas, assim como outras formas
de olhar o mundo e a existência humana as darão também. Mas tudo quanto nos
seja intrinsecamente estranho e distante da realidade não poderá ser mais do
que um mero exercício de retórica intelectual. Bom para conversas entre amigos,
mas completamente inútil para quem precisa de viver melhor, do meu ponto de
vista, com mais e melhor liberdade, no caso de Portugal e dos portugueses. O
mesmo é dizer, com menos presença de terceiros na sua vida, ou seja, do estado.
25 comentários:
Rui,
Não poderia estar mais de acordo.
Abç.
PA
Explique lá, sff, em termos práticos, como é que milhões de pessoas ganharam e prosperaram à conta das ideias do Hayek.
E do Mises, claro, e do Mises.
Quem são os milhões que ficaram a dever tanto bem prático, à conta do que eles pensaram.
Um pensamento, pelos vistos, com capacidade de acção prática, sem precisar de prática.
Pelos vistos, nunca ninguém antes do Hayek e do Mises se tinham lembrado da melhoria da vida das pessoas.
Nem fizeram nada.
Foi preciso esperar por esse par, para termos o efeito mágico do "eu penso, logo milhões fazem".
Se ainda fosse: fazem milhões, outros por eles....
Mas milhões fazem e não fariam, sem eles. Séculos e milhões de anos à espera de uma ideia que ninguém se lembrara.
«Explique lá, sff, em termos práticos, como é que milhões de pessoas ganharam e prosperaram à conta das ideias do Hayek.»
.
Margaret Thatcher, Ronald Reagan, Václav Havel, Berlin 1989, Chile, Brasil de FHC, Boris Yeltsin, Jose Maria Aznar, entre outros factos e personagens.
.
Tem alguma dúvida quanto à influência de Hayek e de Friedman na Revolução Conservadora da década de 80, ou na recuperação do Chile, ou nas políticas económicas anti-inflacionistas de FHC, com a autonomização do Banco Central, ou das políticas económicas capitalistas seguidas na Rússia de Yeltsin? E acha que tudo isto foi bom ou mau para a humanidade?
Bom, se foi por aí, então, coitados que isso deu para tudo e o seu contrário e continuam a faltar os milhares e milhões que sem chegarem a esses exemplos nunca poderiam ter entendido uma questão tão básica.
E nem foi. Nada de nada.
Mas tem piada o Rui A achar que o Hayek e o Mises foram teóricos com consequências políticas, assim como o Marx para o Lenine.
As políticas capialistas da Rússia devem-se ao Mises e ao Hayek?
E o Gorbachev, sem o Friedman nem era gente?
Por essa ordem de ideias, até a China do capitalismo de estado e os milhões de chineses, sem lerem Mises ainda andavam na Revolução cultural.
Mas é engraçado. Porque os exemplos do Rui pretendem apenas dizer que o capitalismo foi descoberto no outro dia e. se não fosse neoliberal, andava tudo a morrer de fome.
Incluindo nos países que citou e muitos mais que descobriram a prosperidade, antes de neotontismo teórico.
DEste seu post tem paralelo com uma máxima de Marx:
"até agora os filósofos dedicaram-se a interpretar o mundo, o que importa agora é transformá-lo".
Traduz-se por utilitarismo materialista.
E em nada responde às questões teóricas que sustentam o liberalismo. Seja o seu, seja o do CN- a quem se dirige o post.
Para aproveitar o Boudu sauvé des eaux.
"il faut de tout pour faire un monde"
«tem piada»?
Então acha que O Caminho para a Servidão foi um livro de anedotas? Que o Friedman não marcou a economia chilena e que o sucesso chileno não determinou as políticas do FHC, que deram prosperidade e bem estar a milhões de brasileiros? E acha que foi o Gorbachev que determinou os acontecimentos na URSS?
Francamente, Zazie! A sua animosidade para com os austríacos é tamanha, que nem os méritos evidentes do Hayek e do Friedman é capaz de reconhecer. Mas deixe lá, que pelo andar que levam os «austríacos» de hoje, o Hayek já não toca na banda e o Friedman nunca esteve na Mont Pèlerin...
«tem piada»?
Então acha que O Caminho para a Servidão foi um livro de anedotas? Que o Friedman não marcou a economia chilena e que o sucesso chileno não determinou as políticas do FHC, que deram prosperidade e bem estar a milhões de brasileiros? E acha que foi o Gorbachev que determinou os acontecimentos na URSS?
Francamente, Zazie! A sua animosidade para com os austríacos é tamanha, que nem os méritos evidentes do Hayek e do Friedman é capaz de reconhecer. Mas deixe lá, que pelo andar que levam os «austríacos» de hoje, o Hayek já não toca na banda e o Friedman nunca esteve na Mont Pèlerin...
«"até agora os filósofos dedicaram-se a interpretar o mundo, o que importa agora é transformá-lo".»
Não tem nada nada a ver com nada do que escrevi, Zazie. Limito-me a referir exemplos de ideias com consequências. Não proponho um governo de filósofos à Platão ou à Marx (mais ou menos a mesma coisa, como denunciou o Popper), tão pouco ideias «liberais» para um mundo «liberal». Tenho mais que fazer e os liberais com ideias interessantes também. Aqui não se navega na sociologia constructivista. Agora, não vale a pena negar que algumas ideias têm consequências. Umas são boas, outras são más. Só isso.
Oh Rui, Reagan?
.
ahahahah
.
Essa é uma boa piada. Controlou o defice DOBRANDO divida; a divida publica.
.
Mais Keynesiano não podia ter sido.
.
Ao ponto de Hayek ter dito, taxativamente, que aconselhava os seus subditos a NUNCA entrarem para a politica.
.
E a razão dessa recomendação é simples. Hayek sabia que não era possivel aplicar no mundo real as suas recomendação. Tratava-se apenas de modelos académicos, coerentes é certo, mas sem consubstanciação com a realidade.
.
Rb
E que medidas «keynesianas» do Reagan conhece você, caro Ricciardi?
.
A questão de não levar o liberalismo para o governo não tem nada a ver com o que vc. diz. O liberalismo não é, na verdade, uma filisofia de governo, mas sobre o governo. Tenho escrito umas coisas sobre isso.
Margaret Thatcher, Ronald Reagan, Václav Havel, Berlin 1989, Chile, Brasil de FHC, Boris Yeltsin, Jose Maria Aznar, entre outros factos e...
.
Cuidado,
que enquanto os capitalistas digo neolibrais chineses comenzarem a anhadir os seus propios neliberais na ilustre lista citada isto vai ser um frente ou choque de muito pae e sr. nosso a menos que alguem intente escondelo como outro chque de. civilizacoes 2
Algum chines caridosso (leitor) deste blog oderis indicarmos come se vai traduzir Hayek e Mises em aquela milenaria jerga?
Um par de Yeltsins a la chinesse?
- Chamando a Houston. POR AQUI PDRCEBEMOS QUE VAI HAVER UM QUALQUER PROBLEMA...
Pena do Sr. Hayek nao podido chegar a alcançar o ano 2008 para poder comprovar a aplicaçao das receitas post-hayek ou post-keynesianas o lá o que for...e nao só teorica pura. Aplicaçao practica para poder contornar um buraco negro da economia GLOBAL.
E como prosperaram o passarino Margaret Thatcher, Ronald Reagan, Václav Havel, Berlin 1989, Chile, Brasil de FHC, Boris Yeltsin, Jose Maria Aznar,
Sobre tudo este ultimo citado. Prosperou e bem.Que venha o Murdocha confirmar...Que e dos que ultimamente lhe dao para merendar...
E as asneiras do Alan Greenspan devem-se ao socialismo, só pode.
Na visão do Rui A antes do neo-liberalismo não havia capitalismo e, com ele, foi só riqueza para todo o mundo.
Do Friedman é verdade que não suporot. Quanto ao Haeyk nem fazia ideia que tivesse andado a fazer política e muito menos o Mises que é só "passarinhos", como lhe chamou o Rui.
Não cheguei a entender em que medida o Hayek e o Mises influenciaram o Reagan, ou o FHC, no Brasil. O rui a. está mesmo a par das politicas deles?
Enviar um comentário