10 janeiro 2013

quando eu era «fascista»


http://multimedia.fnac.pt/multimedia/PT/images_produits/PT/ZoomPE/6/7/3/9789896264376.jpg?201210232009



«Quando se tem vinte anos, em momentos revolucionários e de grande agitação política, ou se é comunista, ou fascista, ou parvo», dizia-me, com ironia, há muitos anos, o Jaime Nogueira Pinto, de quem acabei de ler o excelente e irrepetível (a nossa história pessoal não se conta duas vezes) primeiro romance, Novembro, numa altura em que, por coincidência, um velho amigo me fez chegar às mãos duas colectâneas de músicas perdidas do José de Campos e Sousa, uma delas o célebre Cancioneiro da Resistência, gravado nos idos de 75 e 76, e a outra as Lágrimas de Portugal, com canções desse tempo e outras mais tardias.

Foi quanto me bastou para regressar aos meus tempos de «fascismo», quando tinha 15, 16, 17 anos, na segunda metade da década de 70, numa época em que quem não fosse do PC ou da extrema esquerda era mal tolerado (se fosse do PS), ou perseguido e importunado, se estivesse um pouco mais à direita (ainda que o PPD, nessa altura, se dissesse “socialista” e de “esquerda”, e o CDS, do sempre titubeante Professor Freitas, não se considerasse de direita, mas um partido “rigorosamente ao centro”...), sendo que os incómodos, por esses tempos, não se ficavam pela oratória, assumindo argumentos um pouco mais palpáveis e físicos… 

Eu andava pelos liceus do Porto e era visto pelos meus colegas adversários como um «fascista», e pelos meus «camaradas» e por mim próprio como um «nacionalista revolucionário», numa primeira fase, e apenas como «nacionalista», numa fase mais tardia e madura. A minha geração não apanhara, com maturidade, o fim do marcelismo e o 25 de Abril, nem tinha bem a consciência pessoal e política do que significava a ideia de Portugal para além do rectângulo, a ideia do “Império” de que os mais velhos falavam. Assistimos conscientemente, claro, à queda do regime, à sucessão de inventonas e golpes e contra-golpes, ao PREC, ao Verão Quente e à descolonização, mas estávamos ainda, por esses dias, a sair da infância para uma adolescência politicamente precoce e muito agitada, para podermos ter ideias firmes e fundamentadas sobre o mundo que tinha acabado de desaparecer bem à nossa frente.

Para além de termos apanhado a revolução na sua fase thermidoriana, o que nos distinguiu das personagens dos “nacionalistas” de Novembro foi não termos tido essa percepção do que era o «Ultramar», o «Portugal de Minho a Timor», a ideia de um Portugal maior do que o rectângulo europeu que não se confinava à geografia europeia, um ideal com objecto desaparecido, mas que tinha sido, muito pouco tempo antes, o divisor de águas entre os que «defendiam» o regime (muitos dos quais sem simpatizarem com ele, nem na forma salazarista, muito menos na versão marcelista) e aqueles que queriam o seu fim. Mais do que a discussão das liberdades contra a ditadura, foi o Ultramar que dividiu o país e separou os que queriam manter ou derrubar o regime. E foi, de resto, o Ultramar que o fez cair em 25 de Abril de 1974.

Quando chegámos ao pleno da nossa adolescência, já o «Portugal Ultramarino» não existia, nem tinha forma de voltar a existir. O “Império Português” já não existia. A guerra colonial já não existia. A incorporação para África já não existia. Tínhamos ficado no e com o rectângulo, e o Partido Comunista abrandara a marcha da revolução, não apenas por ter sido obrigado a fazê-lo pela resistência popular que o livro do Jaime relata muito bem, mas, sobretudo, porque a descolonização fora feita, em pleno, pelo diapasão dos interesses soviéticos, aos quais o seu internacionalismo proletário devia obediência. O objectivo principal fora cumprido e o resto podia aguardar.

O nosso «nacionalismo revolucionário», ou «fascismo» (conforme as perspectivas) do pós 25 de Abril foi, assim, mais reactivo e romântico, do que programático ou sequer pragmático. A ideia de um Portugal maior pelo qual valeria a pena lutar e dar a vida e a alma, a utopia que exacerbara os nacionalistas das gerações anteriores, já era, e ninguém de senso imaginava que pudesse voltar a ser. Verdadeiramente, não nos podia mobilizar, portanto, a não ser pela proximidade temporal da utopia e o fascínio que ela pudesse ainda exercer em nós. O «rectângulo», por sua vez, começava a entrar na modorra habitual do dia-a-dia a que Salazar o habituara, e os olhos e as cabeças pensantes há muito que se tinham voltado para a «Europa», e já não pensavam noutra coisa: o bom nível de vida da «Europa», que contrastava com o nosso provincianismo; a necessidade de deixarmos a «cauda da Europa» e avançarmos, “rapidamente e em força”, para o “pelotão da frente”; as promessas de entrarmos na “Europa rica”, na CEE. A “Europa” foi a utopia política que o regime saído do 25 de Abril democrático contrapôs à utopia do “Ultramar”, que marcara os últimos anos do regime anterior. Nenhuma delas poderia entusiasmar-nos: a primeira, porque, aos vinte anos, ou se é comunista, ou fascista, ou parvo, a segunda, por ter já expirado no tempo.

É certo que existia ainda a União Soviética e a cortina de ferro, e que, em Portugal, o domínio das instituições e das opiniões pertencia totalmente à esquerda e à extrema-esquerda. Também é evidente que, embora ainda muito jovens, tínhamos valores e conhecíamos princípios, e que uns e outros estavam nos antípodas do que a esquerda comunista nos tinha oferecido: uma revolução. Essencialmente, e ao invés do que chegamos a acreditar, éramos verdadeiros contra-revolucionários e mesmo até conservadores, no sentido político mais elevado que a expressão pudesse ter nas nossas idades. E tinha.

Para combatermos uns e defendermos os outros, fomos para a rua, actuamos nos liceus, fizemos o "10 de Junho" e o "1º de Dezembro". Mas isto, por si só, não constituía uma ideologia, menos ainda quando a nossa maior proximidade intelectual se encontrava na defesa de um Ultramar que já não existia, e na utopia de um Portugal integracionista, que nunca chegara verdadeiramente a estar nos planos dos decisores políticos anteriores ao 25 de Abril (se tivesse estado, talvez a descolonização não tivesse sido a tragédia que foi). O nosso «fascismo» foi, assim, essencialmente reactivo, mesmo “reaccionário”, se preferirem, e por isso mesmo, e antes de tudo, uma forma de afirmação da nossa liberdade individual, contra a «liberdade» que os novos senhores dos vários “regimes” que começavam a florescer em Portugal nos pretendiam impor. Muito distantes de qualquer programa político, tão pouco de uma ideia pragmática de Portugal, sabíamos, contudo, muito bem o que não queríamos, e tínhamos como muito firme a necessidade de defender a liberdade de dizermos e de pensarmos o que nos apetecesse. Esse era o nosso verdadeiro “programa” político.

Julgo que o tempo veio depois a ensinar-me alguma coisa, e aquela de que tiro maior proveito é a da volatilidade das paixões políticas, sobretudo quando combatemos, até ao extremo, por uma ideia que queremos que seja reconhecida por todos, como quase sempre sucede nos períodos de revolução.

Na verdade, o domínio do político é o do que é comum a nós e aos outros, pelo que é absolutamente insensato querermos impor a quem pensa de modo diferente de nós aquilo que nós pensamos e em que acreditamos. A virtude duma sociedade livre não está tanto da democracia stricto sensu considerada, já que esta é essencialmente um método e não um fim, mas na pluralidade, isto é, na coexistência pacífica de todas as opiniões, e no respeito pelas escolhas do próximo, que devem ser tão livremente assumidas e decididas quanto as nossas. Há valores que são «melhores» do que outros? Não duvido. Por isso tenho e defendo os meus. Mas o que uma sociedade livre – e mais nenhuma outra – permite é que eu possa pensar de modo distinto dos outros, sem que isso signifique que nos excluamos reciprocamente.

As revoluções, no meio das suas imensas tragédias, têm, porém, algumas virtudes. Talvez a maior seja a de constituírem lições de humildade para todos os protagonistas, os que mandaram antes e que deixaram de mandar, e os que passaram a mandar, mas que deixarão de mandar no dia seguinte. A utilização do estado e do aparelho de poder para impormos aos outros a nossa visão do mundo, um dia pode ser-nos útil, mas amanhã poderá condenar-nos à mesma brutalidade que impusemos aos outros. Também por essa razão, cheguei, com naturalidade, à necessidade do estado mínimo, não como afirmação minarquista da necessidade de um aparelho de cocção para podermos viver uns com os outros, mas como reconhecimento objectivo da existência desse aparelho de poder e a necessidade de o reduzir, de modo a podermos viver pacificamente. Só um estado neutro em relação às opções individuais de vida, isto é, um estado que não seja programático, é tolerante para com a liberdade. Tudo o mais são imposições autoritárias de uma «ideia» do que devemos ser, logo, limitações inequívocas da liberdade individual. E essas coisas acabam, mais tarde ou mais cedo, por dar mau resultado. Uma vez para uns, outras para os outros, quase sempre para todos.

37 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom texto Rui A.
Filipe

Vivendi disse...

Salazar só tinha um peso do estado na economia de 15% e muito respeito pelo dinheiro de todos os contribuintes.

Se isto não é um estado mínimo vou ali e volto já...

O resto faz parte de um contexto histórico de uma época que foi bastante difícil e foi preciso ter jogo de cintura...

Duarte Meira disse...


Caro Rui Albuquerque:

O seu texto é o testemunho de como se cresce em sabedoria, desde os primeiros até ao último - e excelente - parágrafo final.

Infelizmente, receio que o o seu liberalismo da maturidade chegue tão tarde e tenha de ser apenas tão reactivo como o nacionalismo da juventude.

O Estatismo tecnocientífico em constituição imperial sobre o mundo globalizado - varre as nações, como varre a liberdade.

Tem o caro Rui vivido na resistência? Está mais bem preparado para o que vem aí.

Duarte Meira disse...


Caro Rui Albuquerque:

O seu texto é o testemunho de como se cresce em sabedoria, desde os primeiros até ao último - e excelente - parágrafo final.

Infelizmente, receio que o o seu liberalismo da maturidade chegue tão tarde e tenha de ser apenas tão reactivo como o nacionalismo da juventude.

O Estatismo tecnocientífico em constituição imperial sobre o mundo globalizado - varre as nações, como varre a liberdade.

Tem o caro Rui vivido na resistência? Está mais bem preparado para o que vem aí.

muja disse...

Não quero hostilizar ninguém, mas eu não vejo sabedoria nenhuma. Vejo acomodação e resignação aos "ventos da história", é o que eu vejo...

O Rui A. começa assim:

Mais do que a discussão das liberdades contra a ditadura, foi o Ultramar que dividiu o país

e acaba assado:

Só um estado neutro em relação às opções individuais de vida, isto é, um estado que não seja programático, é tolerante para com a liberdade.

Ou seja, passa do passado para o presente. Mas um presente perfeitamente acomodado e adaptado à realidade. A cantiga é a mesma de sempre, mas aqui a falta de coerência intrínseca da peça musico-palavreal evidencia-se mais, pela maneira como começou.

Então se o que esteve em causa nunca foi verdadeiramente a falta de "liberdade", mas antes o destino a ser dado à esmagadora maioria do povo e território português, porque é que o importante agora é a "liberdade"?

A mim, só me evidencia uma coisa: o bom senso que ainda havia nesses tempos (embora acossado e sitiado de todos os lados) em que o importante eram as gentes e o território - a Nação; e a vacuidade do pensamento moderno (simultaneamente liberal, comunista, socialista, social-democrata,etc - em suma, anti-nacionalista e ilusionista) que se prende com abstracções vagas e difusas mas que, não obstante, são continuamente postas em causa de cada vez que se vislumbram na realidade e a práctica (seja por uns media tudo menos independentes, seja por um Tomahawk no focinho).

Olhem só como o Vivendi tão simplesmente deitou por terra toda a espampanante lógica da "liberdade" e do "estado mínimo", que parece ter até iludido o normalmente sapientíssimo e muito perspicaz Duarte Meira!

Tenham dó, meus senhores! Nunca - mas nunca! - teremos liberdade (seja ela qual for e como a entenderem), enquanto não recuperarmos completamente a nossa nacionalidade.
Eu também não vi Ultramar nenhum. Nem Império, nem nada. Só conheço o Portugal de hoje - o "rectângulo". E o que vejo, amigos amantes da liberdade; o que vejo é Portugal a acabar, a cessar, a findar. O Eduardo do romance dizia que assistia ao fim do Império. O pai dele falava em retardadores do inevitável. Pois eu cada vez mais vejo o fim de tudo e, desta vez, nem retardadores há: é o fim a uma velocidade vertiginosa. Havemos de recuar para o tempo do condado - ou sobado, se preferirdes - e Vs. ainda a falar da "liberdade"... Há-de ir tudo, ficando apenas a liberdade. A liberdade de obedecer a quem estiver para nos aturar... e alimentar. Tenham dó...

Anónimo disse...

Portugal só vive e existe enquanto Estado-nação na Europa e neste momento está a definhar, em breve e por questões demográficas e imigração os portugueses vão começar a se tornar uma minoria na sua própria terra. Isso será o fim, por isso mesmo é que o nacionalismo é o único caminho viável.

Vivendi disse...

Não adianta Mujahedin.... Enquanto as pessoas quiserem olhar para a história com os olhos do presente estarão sempre condenadas ao disparate.

Deu-lhes para estabelecer um linha imaginária de um país e de um povo que existiu antes e depois de 74, quando o país vai a caminho de quase 900 anos de história...

Liberdade, é uma utopia no mundo mundano, mas fica bem acreditar nela.

Hoje em relação ao passado podemos ser mais livres numas coisas e noutras somos menos livres.

E para mim a melhor opção de procura de liberdade que existe é aquela que está dentro de uma tradição moral, que nos permite ter um exemplo a seguir para não estar a cair sempre nos mesmos erros.

A história sempre repete-se.

Portugal já faliu no maravilhoso mundo novo 3x só na conversa mole e corre sérios riscos no futuro enquanto projeto nação.

Vivendi disse...

Como se destrói a tradição de um nação...

http://monumentosdesaparecidos.blogspot.com

Em nome de quê? Da liberdade de um qualquer burro? Pelo menos Salazar foi um burro contido.

zazie disse...

A Liberdade é uma palpitação; um estado de espírito que os liberais têm quando falam nela

ahahahahahha

Anónimo disse...

Renasceram os 3 P’s de
A.F.S. ???

Portugal já foi escrito com Um P de País . Agora é escrito com Um M de M... E é governado por Um P com Um C de C... e ainda, por Um C Sem P de P ... Por Um P com Um M de M... e por Um P com Um R de Rei vai nu e a Corte estupidamente aplaude !...



José Domingos disse...

EXCELENTE. Já é tarde, a Nação, já não existe, só o país " eu sei, estive lá"

Ciro disse...

Aqui no Brasil o discurso Liberal se vê também assim: charmoso e moderno, embora sem esta melancolia que, aliás, cai melhor que o rancor que os setores médios projetam na mídia. Os comunistas se casaram com católicos de esquerda e, gostando da paisagem foram ficando pelo caminho, os nacionalistas fizeram uso de bandidos e estupradores e perderam qualquer audiência. Os Parvos daqui procriam impunemente seus quereres mundanos sob a proteção dos liberais, que surgiram para justificar a lei da entropia.

Nestes tempos medíocres em idéias e gestos, crônicas oportunistas ajudam a encurtar o caminho a lugar algum.

rui a. disse...

Caro Duarte Meira,

Muito obrigado pelas suas palavras. Não estamos em tempos bons, de facto. E, já que me faz a pergunta, mais do que na "resistência" tenho verdadeiramente vivido no "exílio"...

Saudações cordiais,

rui a. disse...

Caro Vivendi,

Um "estado mínimo" não é apenas o que cobra baixos impostos...

Vivendi disse...

Viva Rui A.,

Defina o que mais pretende de um estado mínimo...

rui a. disse...

Vivendi,

Por exemplo, não ter a PIDE a entrar-me porta dentro, a meio da noite, por eu estar a conspirar contra o governo.

Vivendi disse...

Tirando isso? Alguma coisa mais?

Unknown disse...

parece-lhe pouco Vivendi?

Vivendi disse...

E deita-se tudo resto a perder só por uma coisa estar mal?

Sou contra a perseguição política também mas temos de atender à luz da época, guerra mundial, guerra fria, guerra do ultramar, não eram tempos fáceis e viu-se bem após o abril de 74 o que o outro lado pretendia impor ao país, uma solução ainda pior, e o outro lado não era tão fraco quanto isso.

rui a. disse...

Não é só "uma coisa estar mal", Vivendi. Em regra, quando "uma coisa está mal", muitas outras também estão. No caso vertente, o sistema em si era perverso. Ora diga-me lá, por que razão há-de um honrado chefe de família, contribuinte e pagador de impostos, levar com o mesmo tipo a governá-lo por 40 anos seguidos, arriscando-se a ter chatices se não gostar dele? Independentemente dos méritos que o Salazar possa ter tido e da inteligência superior que inequivocamente o caracterizava, eu não gostaria de viver 40 anos num regime, digamos, no mínimo, paternalista, em que os meninos que dizem mal do paizinho levam uns bofetões no rabo. Era tratar-nos, a nós, portugueses, como atrasados mentais,e foi muito devido a essa mentalidade que, na verdade, somos o que somos hoje. Dito de outro modo: quem contribui para desresponsabilizar uma sociedade, como o fez o Salazar e o fazem todos os modelos paternalistas de governo, não pode, depois, queixar-se por lidar com irresponsáveis. E a irresponsabilidade é, a meu ver, a primeira característica da sociedade portuguesa - que continua a pedir tudo e a tudo querer do estado -, e o primeiro factor que explica a situação em que vivemos e para a qual nos deixámos levar.

Vivendi disse...

Caro Rui A.,

Salazar até poderia ter saído mais cedo do poder e teria até sido melhor para a sua imagem. Porque hoje já nos cansamos de um político ao fim de 1 ano quanto mais pensar levar com um por 40 anos. Mas a transição essa já estava em curso com Marcelo Caetano e as derivas radicais e caminhos alternativos que pareciam mais coloridos deu no que deu. Quanto ao papel do estado tem de entender os valores culturais de onde estamos. No dia que os portugueses estiverem prontos para chumbar o aumento de dias férias tal como fazem os suíços aí poderemos estudar novas abordagens. Até lá tudo como dantes. O povo continua o mesmo. E basta ler Eça de Queiroz para entender que as causas das coisas já vem de tempos mais passados...

muja disse...

Por exemplo, não ter a PIDE a entrar-me porta dentro, a meio da noite, por eu estar a conspirar contra o governo.

Pois é curioso. E eu que pensava que que a actuação da PIDE estava enquadrada legalmente, e que obrigava à instrucção de processo, e, como tal, não fazia exactamente o que queria, incluindo entrar pela casa das pessoas adentro a meio da noite...

Devo estar mal informado. Mas ainda hei-de voltar a este assunto.

por que razão há-de um honrado chefe de família, contribuinte e pagador de impostos, levar com o mesmo tipo a governá-lo por 40 anos seguidos

Também curiosamente, há quarenta anos que vivemos, se não com o mesmo tipo a mandar, com os mesmos tipos pelo menos. Uma pessoa só se vê livre deles - que é dizer, deixa de os sustentar - quando eles morrem. Para mal dos nossos pecados, engendram-se logo dois ou três piores ainda para ocupar o lugar do outro. Ainda por cima, nada fazem que se aproveite... Porque é que o contribuinte tem que andar a sustentar isto?

muja disse...

quem contribui para desresponsabilizar uma sociedade, como o fez o Salazar

Desresponsabilizou, ou assumiu a responsabilidade que mais ninguém queria assumir? Note-se que digo "responsabilidade", e não "cargo". Porque, na verdade e durante este século, apenas durante o Estado Novo as duas palavras eram sinónimas, nem antes o eram, nem depois o são. Ou é alguma mentira o que acabei de escrever?

muja disse...

Fui investigar essa questão da PIDE e encontrei algumas coisas.

Começando pelo que diz Marcello Caetano, no livro "Depoimento" de 1974:

‹‹A partir de 1945 teve estatuto legal com os seus quadros, sendo os respectivos dirigentes e agentes nomeados no Diário do Governo como quaisquer outros e usando no exercicio de muitas das suas funções uniforme próprio.
A ideia, a partir dessa data, foi organizá-la como Polícia Judiciária, nos moldes da Polícia Judiciária dependente do Ministério da Justiça.(...)
Efectivamente em 1945 os crimes contra a segurança do Estado deixaram de ser do foro militar onde eram julgados por Tribunais Militares Especiais.
A competência para o seu julgamento passou para os tribunais comuns.
(...) concentrou[-se] o julgamento dos crimes contra a segurança do Estado nas comarcas de Lisboa e do Porto, em cujos tribunais criminais, além dos vários juízos, funcionariam "tribunais plenários", sob presidência do desembargador presidente do tribunal criminal da comarca tendo por assessores dois dos corregedores desta, designados periodicamente segundo um sistema de rotação estabelecido por lei. Junto do tribunal plenário funcionava um ajudante do Procurador da República da Relação, nas funções de Ministério Público.
Os tribunais plenários eram, por conseguinte, tribunais judiciais comuns de competência especializada, formados por juízes togados.››

Para referência, fica o parágrafo 1 do Artigo 1.º do decreto-lei n.º 35:046 publicado em 22 de Outubro de 1942, no Diário do Governo n.º 234 - Série I, que "cria a polícia internacional e de defesa do Estado - Revoga o decreto-lei n.º 22:992":

§ 1.º No que não for expressamente regulado no presente decreto-lei são extensivas à polícia internacional e de defesa do Estado, na parte aplicável, as disposições que regulam a organização e funcionamento da polícia judiciária, assim como a competência, regime de serviço, nomeação, promoção e direitos e deveres dos respectivos funcionários.

http://dre.pt/pdfgratis/1945/10/23400.pdf

Continua Caetano:

‹‹Após as eleições de 1969 foi extinta, em 24 de Novembro, a PIDE e substituída pela Direcção Geral de Segurança, cuja lei orgânica levou algum tempo a publicar pela preocupação de a ajustar às alterações que iam ser introduzidas no Código de Processo Penal, após a revisão constitucional, no sentido de dar maiores garantias aos arguidos e que só vieram a ser publicadas em 31 de Maio de 1972.
A lei orgânica da DGS saiu a seguir, em 30 de Setembro de 1972, e nela o Ministro Gonçalves Rapazote procurou incluir o mais possível do novo regime processual. A polícia, porém, levantou objecções a que se aplicassem certos preceitos, como o da faculdade de assistência de advogado aos interrogatórios dos detidos. E fundamenta-se na práctica em todo o mundo quanto a crimes de traição e contra a segurança do Estado (...). Aceitaram-se as razões e ficou sendo facultativa a presença de advogado mas sempre obrigatória a de testemunhas.››

Alguns artigos relevantes da lei supra-citada da DGS, Decreto-Lei n.º 368/72, publicado no Diário do Governo nº 229 - Série I, de 30 de Setembro de 1972:

Art. 4.º A Direcção-Geral de Segurança, como organismo autónomo de polícia judiciária, tem, quanto às infracções que são objecto da sua competência, os mesmos poderes e funções que a lei confere à Polícia Judiciária.

Art. 6.º Na instrução preparatória dos processos da competência da Direcção-Geral de Segurança serão observados os preceitos do Código de Processo Penal e as disposições constantes dos artigos seguintes.

Art. 12.º Nos processos por crimes contra a segurança exterior e interior do Estado a acusação cabe ao adjunto do procurador da Républica designado para prestar serviço no tribunal criminal e a instrucção contraditória e o despacho de pronúncia ou não pronúncia compete aos juízes dos juízos criminais.

http://dre.pt/pdfgratis/1972/09/22900.pdf

muja disse...

Mais uns fragmentos do Depoimento:

‹‹Note-se, porém, que nunca se consentiram (nem consta de transgressão dessas ordens) perseguições ideológicas: não houve prisões de pessoas pelo mero facto de professarem estas ou aquelas ideias. A intervenção da DGS operava-se em relação a factos, quer para os prevenir, quer para os reprimir.
Mais de uma vez fui procurado por pessoas da família de detidos que atribuíam a mera arbitrariedade a detenção: exigida à polícia a explicação do acto, verificava-se que havia fundamento para a detenção.››

‹‹Os detidos eram examinados por médicos no momento da detenção e à saída da prisão.››

Com tudo isto, e tendo em conta o enquadramento legal da polícia, tenho muitas dúvidas que a PIDE, e especialmente a DGS, entrassem por casa das pessoas adentro a altas horas da noite, muito menos sem mandado judicial, já que a PJ também o não faz, nem tenho conhecimento que fizesse; muito embora não me tenha apetecido ir ver da lei que regula(va) essa polícia. Mas a ter havido, certamente haverá registos disso e do correspondente processo que é forçoso que existisse - venham eles.

rui a. disse...

mujahedin,

Li o Depoimento do Marcello Caetano há muitos anos. Tenho grande consederação intelectual por ele e um grande respeito pelo seu papel na História de Portugal. Todavia, não me parece que ele possa ser, nesta matéria, uma fonte primária para apurarmos a verdade histórica.
Quanto ao assunto da PIDE, conto-lhe apenas uma história passada com o meu Pai, salazarista toda a vida e servidor do regime até o dia 25 de Abril de 1974. Estavamos, no fim dos anos 60, na Madeira, onde o meu Pai exercia funções de grande responsabilidade política, e, um belo dia, foi chamado à DGS para prestar declarações sobre uns comentários que lhe foram atribuídos sobre o regime. O meu Pai lá disse o que tinha a dizer, nunca se queixou de nada, morreu salazarista, mas, em minha opinião, um regime que trata assim os seus concidadãos e os seus serventuários só podem ter um destino: irem para a puta que os pariu. E note três coisas: o meu pai era um homem do regime, pelo que, se não fosse, imagino que o tratamento não tivesse sido tão «agradável»; a desculpa da época não se aplica, posto que, nessa altura, só as ditaduras tratavam assim as pessoas; e eu estou longe de ser um «anti-fascista» traumatizado. Mas se tivesse idade e uns gajos destes me tivessem aparecido pela frente, era capaz de não ser hoje tão tolerante quanto sou.

Cumps.,

BLUESMILE disse...

"Era"?????

Anónimo disse...

Rui, será que pode avaliar-se um regime por historietas dessas como a que conta?
Nesse caso, porque não julgar o actual regime pelo mesmo critério?
Acaso faltam neste ilegalidades e abusos, desses ou piores?
Falta neste a corrupção, a incapacidade, o desrespeito pelos direitos dos cidadãos?
Por acaso, comparando o regime salazarista com o período que o antecedeu e aquele que lhe sucedeu parece-me que ele se sai muito bem da comparação. Se houve algum que fez um enorme esforço no caminho da moralização e da submissão de toda a actividade pública ao império da lei, esse foi precisamente o regime de Salazar e Marcelo.

Anónimo disse...

A grande questão, a que não se pode fugir, pode resumir-se nisto: com todas as suas insuficiências, o regime que Salazar construiu serviu Portugal infinitamente melhor do que aquele que lhe sucedeu.

rui a. disse...

Anónimo das 11:18,

Claro que é por «historietas» destas que se avaliam os regimes e os seus responsáveis. Ou você acha que eles são destinados a quem? Aos deuses? À «sociedade»? Aos amigos? Não meu caro, os regimes e os políticos servem para, perdoe-se o pleonasmo, servirem as pessoas e servirem-nas com decência e dignidade. Se você abre excepções, depois não se pode queixar do que lhe possam fazer os do «actual regime» ou doutro regime qualquer do qual você não goste. Tem que engolir e calar, porque, no seu altíssimo critério, sempre apoiado, de resto, por muita gente (há sempre gente disposta a apoiar quem manda), o que eles fazem está bem feito. Já ouviu falar em direitos fundamentais? Não lhe parecem um bom critério para aferir da civilidade de um regime, qualquer que ele seja? Acha civilizado uns saloios quaisquer, apenas e só por serem polícias, inquirirem um cidadão sobre as suas convicções políticas?

muja disse...

Ó Rui A., V. Diz que o Sr. seu pai, foi chamado a esclarecer alguns comentários que teria feito sobre o regime. Pelos vistos, a polícia ficou esclarecida e nada se passou de mais grave.

Permita-me algumas observações. A primeira é que o seu pai foi convocado, diz V., por alegadamente ter comentado alguma coisa, quiçá no exercício das suas funções, e não pelas suas convicções. Ou seja, está em linha com o que Marcello diz da polícia agir sobre factos. V. pode evidentemente discordar que factos desses sejam puníveis, por tal práctica atentar contra o princípio liberdade de expressão. No entanto, devo lembrar-lhe que essa liberdade continua limitada, activa como passivamente. Um exemplo da limitação passiva são os media que não dão eco a determinadas ideias e opiniões fora da ideologia dominante. Um exemplo da limitação da liberdade de expressão activa é o crime de racismo. Ignoro a legislação em Portugal, mas no RU, por exemplo, é crime proferir comentários entendidos como sendo racistas, mesmo que não sejam insultos propriamente ditos. Outro ainda mais flagrante é o facto de em vários países da Europa, ser crime questionar, tão pouco, o denominado Holocausto. Na Alemanha, a coisa atinge tamanha esquizofrenia, que é crime sem defesa possível. O advogado que queira apurar a verdade dos factos para defesa do seu cliente, incorre automaticamente no mesmo crime.

V. pode agora dizer que há justificação para esse estado de coisas, mas a liberdade é limitada e de forma bem menos clara do que no EN, que é o que interessa. E justificações várias podem ser dadas (e foram) para justificar essa práctica no EN.

Outra coisa a observar, é o facto de o seu pai deter um cargo de grande responsabilidade política não ter impedido que lhe fosse aplicada a lei como aos demais cidadãos. O mesmo não pode ser propriamente dito acerca do regime vigente. De relevar ainda que é de lei que estamos a falar e não de decisões arbitrárias! V. pode não concordar com a lei, mas as leis mudam-se (e estavam a mudar). Uma lei não vale por todas e muito menos pela constituição. Invocar isso para justificar uma revolução e subversão na sociedade, é perigoso. Porque desse ponto de vista, há agora razões de sobra, sobretudo comparando com o regime anterior, para uma revolução completa do estado de coisas.
Incluindo encostar muitos dos que nele participam à parede... Relembro que é a terceira vez que as mesmas pessoas desgraçam o país pelo qual são responsáveis, com uma bancarrota (pior até, porque no fundo é mais dívida) sem que nada aconteca. Consegue imaginar o que se diria caso semelhante coisa acontecesse durante o EN?

rui a. disse...

mujahedin,

V. continua a tentar justificar o injustificável. É o que fazem os defensores do actual regime. Não se queixe, pois então.

Vivendi disse...

Caro Rui A.,

Faça um simples exercício:

Quais são todas as forças que existem atualmente que atentam contra a sua liberdade, tanto no âmbito nacional como no âmbito internacional e compare-as com a do passado... O tal passado que o deixava brincar na rua quando era criança.

Estar vivo é uma luta permanente pela liberdade. E nem com uma atitude anarca o mesmo se irá resolver.

Queixa-se de um estado policial que defendia os valores de Deus, Pátria, Família e Propriedade mas compare-o com o atual estado policial que existe nos EUA precisamente contra esses mesmos valores. Em que ficamos?


muja disse...

Permita-me uma pergunta de índole mais pessoal: alguma vez perguntou a seu pai porque era ele salazarista, como diz, e porque, mesmo depois desse episódio com a polícia, continuou a sê-lo até ao fim?

Caro Rui A., é V. quem pretende defender o indefensável; e, até certo ponto, é compreensível. Acredito que não seja nada agradável verificar que toda a esperança que se tinha ir por água abaixo. Que, afinal, não se conseguiu fazer melhor do que o que estava. Constatar que, afinal de contas, não basta a "liberdade" (quantas vezes ilusória, como já tive oportunidade de demonstrar acima) para melhorar automaticamente a vida de todos.
Mas creia, e pode constatá-lo facilmente na serenidade e honestidade dos seus próprios pensamentos, que V. está errado. Que por pior que pudesse ser o EN, por comparação com o que havia dantes e o que há depois, é incomparavelmente superior - não só num plano abstracto de ideias e princípios (melhor ou pior aplicados, sem dúvida) - mas também na práctica. Na vida do dia-a-dia das pessoas, na realidade quotidiana. Vivia-se, talvez não melhor que hoje, mas cada vez melhor. Hoje vive-se cada vez pior. O que havia também era melhor e a melhorar. Desde as infraestructuras à qualidade da vida. Hoje é cada vez pior. Em breve não haverá dinheiro para manter todas as infraestructuras necessária e desnecessariamente construídas que, ao contrário de antes, foram construídas para durar apenas uns poucos de anos, na esperança criminosa de providenciar mais mama aos mamões do costume; pelo que a breve trecho ficaremos com um país arruinado e em ruínas.

Enfim, a lista continuaria indefinidamente e é difícil, se quisermos ser completamente honestos, encontrar uma coisa de grande aproveitamento para o país, concebida e executada depois de 74, que não seja mais fruto da inovação tecnológica do mundo - essa sim, imparável e inescapável - do que fruto da excelência e inteligência de quem a fez.

Eu sou filho deste regime Rui A. Nasci com ele e cresci com ele. E não gosto dele. A cada dia que passa mais o abomino. Curiosamente, ao ouvir as críticas (que após investigação, superficial que seja, se apresentam infundadas) ao anterior regime, cada vez mais as reconheço como justas, mas aplicadas, isso sim, ao presente! Este regime, esta "democracia", atirou com as pessoas para a miséria. Destruiu o espírito de corpo nacional. Abandalhou a instrução pública ao ponto de ser hoje pouco mais que uma fraude. Substituiu, em quase todos os domínios, a quantidade pela qualidade, embora sejamos poucos. A obra portuguesa é, hoje em dia, mal-amanhada, descuidada, sem brio, sem orgulho. Somos um país que não é levado a sério e que se não leva a sério. Somos, numa palavra, medíocres.

Mas sai-nos cara a mediocridade! Veja-se o que pagamos para a sustentar!

muja disse...

Olhe Rui A., é táctica comum dos proponentes da mediocridade instalada apontar, acusar as pessoas como eu (e como V. foi um dia, pelo menos) de serem fascistas, ou então saudosistas. É patente o absurdo de tal despropósito: o fascismo morreu há muito tempo e hoje é mais rara a pessoa que conhece e compreende essa doutrina a partir da origem (como o Henrique do Novembro) do que diamantes. Afirmar-me fascista é o mesmo que me afirmar unicornionista, por exemplo. Seria desprovido de qualquer significado. Seria um anacronismo na melhor das hipóteses.

Ser saudosista já tem mais que se lhe diga. Eu tenho saudade, sim. Não de Salazar, nem do regime - que nunca vi. Mas do Portugal-Nação dessa época, do que significava e era ser português.
Dizem que a saudade é uma coisa muito portuguesa. Pois bem, eu tenho saudades do que nunca vi. Do que nunca vivi - poder-se-á ser mais português, neste aspecto? - Mas porque o sinto ainda presente. Está escondido, amordaçado, manietado, drogado. Mas ainda existe. Quero crer que ainda existe. Creio! O espírito português - o verdadeiro, que ainda escapa pelas pequenas coisas, alegre, aventureiro, nobre, airoso e melancólico ao mesmo tempo; não esta afectação complexada de gente medíocre e aparvalhada que se vê na tv - ainda existe. Não é o Salazar, nem o Estado Novo que se quer que volte. É esse espírito, essa alma que eu quero novamente. E este regime, Rui A., esta chamada "democracia" que o estrangeiro - sim! com a conivência e cumplicidade de quem tinha o dever de fazer melhor - nos impingiu e forçou pela goela abaixo, consome esse espírito; é contrário a ele, é inimigo dele. Se a democracia é o caminho, então percorramo-lo, mas à portuguesa. Venha uma democracia portuguesa! Sem ideologias e doutrinas cujo propósito é aproveitar aos outros, aos que nada sentem por nós e pelos nossos. A liberdade portuguesa não é dizer e tolerar baboseiras e papaguear falácias e sofismas estrangeiros da moda. Não! - é olhar para o horizonte e dizer: não sei o que ali há, mas vou lá ver e não há Adamastor algum capaz de me tolher o caminho!

Livremo-nos desta coisa que nos tolhe a vida! Esta coisa que nem é portuguesa, nem é democracia!

Nas suas palavras, Rui A.:

um regime que trata assim os seus concidadãos e os seus serventuários só pode ter um destino: irem para a puta que os pariu.

Já ontem era tarde.

BLUESMILE disse...

Quanto aos slazarentso, "m regime que trata assim os seus concidadãos e os seus serventuários só pode ter um destino: irem para a puta que o pariu."

lusitânea disse...

Pelos vistos os Portugueses genuínos(há já muitos e demasiados por falsos afectos e por caridade internacionalista) vão ter que escolher entre duas modalidades:a actual internacionalista que tão bons resultados apresenta e que descaracteriza o "Português" ou a antiga nacionalista que colocava a Nação acima de tudo.E que se inseria na mesma no mundo...mas numa de reciprocidades...