23 janeiro 2013

o Estado e a saúde


Como libertário eu sou visceralmente contra o envolvimento do Estado na economia, aqui incluindo, claro está, a saúde, a educação e a segurança social, que são actividades económicas como quaisquer outras. Sou favorável ao Estado mínimo, embora abra a porta a que o Estado desenvolva, a título subsidiário, algumas actividades socialmente relevantes que não estejam a ser disponibilizadas pelo sector privado. Mas apenas de forma pontual e temporária.
Julgo que o breviário libertário dá ampla cobertura teórica a esta minha perspectiva que, aliás, não me parece diferir substancialmente da visão católica que o PA tem vindo a desenvolver.
Se dúvidas subsistissem, porém, há uma outra razão ponderosa que o PA também aqui tem exposto de forma clara. Os portugueses não são capazes de analisar os problemas de forma fria e racional e de adoptar estratégias colectivas minimamente coerentes. Cada um tem a sua opinião e não tem em conta os argumentos contrários, por mais fundamentados que estejam. Daí que seja melhor que o colectivo, através do Estado, interfira o mínimo possível na economia e na sociedade em geral. Um Estado omnipresente e omnipotente, em Portugal, é um desastre, quod est demonstrandum. O socialismo é fatal para a nossa cultura.
Vêm estas reflexões a propósito do debate sobre a ADSE. Eu apresentei alguns dados, o PA pediu-me referências e eu dei-as, os comentadores acharam que as referências oficiais não eram fiáveis, o Luís Lavoura tratou logo de afirmar que eu não o convencia e o Helder Ferreira apresentou outras contas com dados que não são comparáveis porque os gastos dos doentes da ADSE no SNS são inferiores aos dos outros utentes, por terem a facilidade de ir ao privado (não se verifica o ceteris paribus). O PA achou logo que estas últimas contas até pareciam mais fiáveis, porquê? Mistério.
Ora se meia dúzia de pessoas inteligentes não se consegue entender minimamente sobre o básico, como é que os responsáveis políticos vão definir estratégias e tomar decisões quando não há uma base mínima de consenso? Nem dentro do PS, o partido fundador do SNS há consenso sobre a ADSE...
Melhor, portanto, é o Estado deixar mas é estas áreas e dedicar-se às tarefas sobre as quais não há grandes dúvidas: defesa interna, externa e administração da justiça.

30 comentários:

BLUESMILE disse...

"Melhor, portanto, é o Estado deixar mas é estas áreas ."

E permitir livremente a eutanásia.

BLUESMILE disse...

O Japão é um exemplo paradigmático e aproxima-se da realidade portuguesa. O envelhecimento populacional e a pressão que este fenómeno exerce sobre o Estado social é o resultado de décadas de funcionamento de um sistema de saúde universal e gratuito. Ou seja, há mais velhos porque o Japão tem ( e teve durante cinco décadas) um SNS muito eficaz e gratuito para toda a população. Tão eficaz que se traduziu numa explosiva baixa da taxa de mortalidade e num aumento dramático da esperança média de vida numa única geração.
No Japão a longevidade aumentou extraordinariamente desde a década 50 do século passado e são cada vez mais as pessoas que ultrapassam os 100 anos.
É este o paradoxo de um SNS de qualidade e altamente eficaz - uma rápida transição demográfica e uma alteração da pirâmide demográfica, Quanto mais velhos houver numa comunidade, mais elevadas as necessidades de cuidados de saúde devido às patologias crónicas associadas ao envelhecimento e maior a pressão (económica ) sobre a capacidade de resposta dos SNS. Em suma, quanto maior a eficácia e qualidade do SNS, quanto mais fácil a sua acessibilidade, maior a probabilidade deste sistema ter dificuldades de sustentabilidade a longo prazo.
Dito de outra forma, a dificuldade de sustentabilidade económica dos serviços de saúde não resulta do despesismo ou da má gestão , mas da sua eficácia e qualidade.
É a este paradoxo que as sociedades desenvolvidas têm de dar uma resposta civilizacional, nomeadamente quanto a novas formas de financiamento e organização dos SNS.
Ou então optar pela eutanásia em massa associada a um aumento programático da mortalidade por falta de assistência médica como opção política. Acabar com o SNS é um meio para atingir esse objectivo.

zazie disse...

Como comunistas, há outros com pancadas idênticas.

Anónimo disse...

Hola Zazie,
:-)

BLUESMILE disse...

Chamam-se a si mesmos libertários, os amantes do mercado livre a mando do cifrão, dizem-se contra a intervenção do Estado na defesa dos mais fracos e na defesa dos direitos humanos básicos, e a coisa vai lá dar - aos planos quinquenais e soluções finais para os improdutivos, velhos e doentes.

O fim do estado é isso - Eutanásia inevitável e com valor de mercado.

Anónimo disse...

Joaquim,
estive para escrever um post muito parecido com o seu.
Está é muito difícil convencer o Joaquim de que a ADSE é um privilégio.
Eu, para os meus luxos da saúde, tenho um seguro privado. Estou pronto a trocá-lo pela ADSE. Tenho acesso aos mesmos luxos, e pago uma fracção daquilo que actualmente pago.
Mas quem é que não gostaria de ter a ADSE?
Nem este argumento o convence que a ADSE é um privilégio.
Mas então se a ADSE é, em parte financiada por um subídio do Estado é o quê, senão um privilégio.
Quanto às contas, deixe-me dizer que as do Hélder Ferreira é que são as certas.
Abçs.
PA

Anónimo disse...

Joaquim Couto,
O Estado faz, em tese, o que coletivamente dicidirmos. Não é uma entidade estática.Também cada um de nós pode ter uma opinião sobre as suas funções. Devo acrescentar que os estados desaparecem mesmo na sua forma mais minimalista(segurança externa e interna).
Não tenho uma opinião acabada e definitiva sobre as funções do estado. Parece-me que essas funções se devem adaptar de acordo com algumas circunstâncias(falta de soberania; incapacidade para decidir sobre a sua economia devido a acordos perigosos, enfim falta de autonomia)mais ameaçadoras à sua estrutura.
Agora sou totalmente contra a captura do estado por oligarquias e nomenclaturas que deturpam o regime. Na minha opinião é o que está a acontecer-nos com uma máscara de democracia e uma propaganda sobre o estado social. Isso é para desviar a atenção sobre quem detem o poder e o comando do estado e não o quer perder. Alguém sabe quem são os deputados do seu circulo eleitoral, o que anda a fazer e o seu grau de autonomia face ao partido?
Bem, já agora e com um pouco de pilhéria diria que o "meu estado" minimo fazia um contrato de outsorsing para a defesa com os americanos às quintas sextas, sábados e domingos e com os iranianos nos restantes dias.
Vale sempre a pena discutir e tomar decisões sobre o estado(organização política e administrativa) de nossa soiedade e já agora do regime que temso e queremos sem pré condoções. Todos ganharemso ou perderemos.
O Japão tem o seu estado ameaçado pela estrutura demográfica. Nós também já temos algumas manifestações desse problema.
Os japoneses no passado já deslocaram comunidades de velhos para outros países. É bom saber história. Mas parece que não ficou resolvido.
Temos de reformular o regime e malhar nestes políticos para os fazer saír da toca, ou seja da sua zona de conforto de que acisam os jovens.
Fique bem

zazie disse...

Façma-me um favor:

espreitem se o cocanha do blogger já está desbloqueado.

http://cocanha.blogspot.com

Entretanto criei outro

http://cocanha.com

Mas perdi o template antigo.

Anónimo disse...

Zazzi

Diz isto
O presente blogue encontra-se em fase de avaliação devido a possíveis violações das Condições Gerais do Blogger, encontrando-se disponível apenas para os respectivos autores
http://cocanha.blogspot.com/

Anónimo disse...

Zazie,
Parece apenas um problema de configuração.

zazie disse...

Obrigada

Estranho porque eu já mudei de template e pedi reavaliação e consigo ver sem fazer login

Bem, tenho o outro no wordpress

Ricciardi disse...

«Melhor, portanto, é o Estado deixar mas é estas áreas e dedicar-se às tarefas sobre as quais não há grandes dúvidas: defesa interna, externa e administração da justiça.» Joachim
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Não não, eu sou mais libertário do que vc. E tenho sérias dúvidas, praticamente nenhumas, sobre se a defesa interna e externa e justiça devam estar nas mãos do estado.
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Aliás, não tenho dúvidas algumas. Por que raios não podem os privados assegurar a defesa e a justiça?
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Não estou a ver o problema. O meu mentor libertário, o Hayek, dizia que a saúde podia ser excepção à lógica de mercado porque o equilibrio (preço) era distorcido por uma procura inelástica. Ele lá tem as suas razões. É um libertáriozinho, no fundo, esse hayek.
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Mas eu, libertário de grau 22, loja do medio-oriente, considero isto uma treta. Saude, Defesa, Justiça, patrimonio cultural não devem estar nas mãos do estado. Jamais (em francês). A saúde, a educação, a justiça e a própria segurança devem ser ministradas para quem tem rendimentos para as comprar. De outro modo socializamos ineficiencias. E nós não queremos isso.
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E não compreendo os meus colegas da luta libertária (frequentemente, todos eles trabalhadores do estado) ao dizerem que o estado tem que sair da frente, mas estar por trás a pagar as contas. Do tipo, não façam hospitais nem tratem doentes, mas passem para cá a massa para eu fazer isso por vós.
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Assim não dá. Ou se é libertário ou não se é. Não podemos ser hibridos libertários.
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Um verdadeiros libertário (que é quase tão lunático como um troikista) não precisa do estado para NADA. Nem pela frente, nem por trás.
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Rb

Anónimo disse...

À bocado dois rapazes discutiam a ida ao mercado (não é do Bolhão)e a dívida.
Um diziam que o resgate não foi à grega quando outro acusava que estavamos longe da irlanda.
deviam ler mais e pensar mais e nomeadamente ler isto:
http://www.infowars.com/rising-energy-tensions-in-the-aegean%E2%80%94greece-turkey-cyprus-syria/

Também quan se fala de dívidas moedas unicas e outros temas e estado social.
O poder não se negoceia, exerce-se.
Quando não se pode exercer então negoceia-se até se poder ganhar e mandar.
O resto é----

zazie disse...

AHAHAHAHAHAHAHAHA

Anónimo disse...

Ri-te, rite.

zazie disse...

Ri-me da loucura que o morgadinho escreveu

":O))))))

muja disse...

Zazzie,

que quiser muito, pode recuperar o template antigo por esta versão antiga na cache do Google:

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache%3Ahttp%3A%2F%2Fcocanha.blogspot.com&oq=cache%3Ahttp%3A%2F%2Fcocanha.blogspot.com&aqs=chrome.0.57j58.6347&sourceid=chrome&ie=UTF-8

muja disse...

* Zazie

s disse...

Por falar em funções do Estado, um apontamento curioso: a Áustria referendou no passado domingo o serviço militar obrigatório. Ganhou o sim (pela manutenção). E esta, hein?

zazie disse...

muito obrigada, Mujah.

Era tão lindo mas foi-se. Tinha código com erros e depois já nem dava para abir posts antigos.

Eu guardei-o mas não se pode instalar nem no blogger, nem no wordpress.

Por agora fica assim: wu-wei

muja disse...

Melhor, portanto, é o Estado deixar mas é estas áreas e dedicar-se às tarefas sobre as quais não há grandes dúvidas: defesa interna, externa e administração da justiça.

Não há grandes dúvidas???

Na admnistração de justiça?? Na defesa externa?? Na defesa interna??

Joaquim, desculpe mas acho que se um Estado não é capaz de operar uma simples rede de hospitais, não vejo como pode estar responsável pela rede logística de um dispositivo de defesa, interna ou externa. Nem da administração de justiça.

zazie disse...

Já pedi a este chinoca canadiano para me vender aquele template

http://equivocality.com

O raio dos chinocas são bons nisto.

BLUESMILE disse...

RB:
Grande aplauso para o seu post.

Anónimo disse...

Acabar com o SNS, ADSE para todos.

Rui Silva

Helder Ferreira disse...

Caro Joaquim,

assim eh de facto dificil.Repare que se os dados não são comparaveis, e aceito que não são caso a caso, implica ir ainda mais longe. Desde 1996 que a despesa do SNS comigo eh absolutamente zero (dou de barato que como no caso da ADSE o Joaquim descarta a capacidade instalada, etc). Nem comparticipações com medicamentos. A despesa do SNS com as pessoas que têm seguros de saude privados tambem não eh igual ah que tem com que não tem mais nada a não ser o SNS. Essa discussão não leva a lado nenhum, nem vale a pena tê-la na minha opinião. Não contraria em nada que o custo do estado por utente da ADSE seja 1355,8€/ano.
O que lhe tentava demonstrar eh que não eh verdade (porque não eh)que a despesa do estado com os beneficiarios da ADSE fosse a que afirmou e mais baixa que a dos que não têm direito ah mesma. So isso.
No entanto, isto não significa que com um sistema do tipo da ADSE alargado a toda a população não se conseguisse um melhor serviço e mais barato do que o actual.

joserui disse...

Que é isso de libertário?... é um tipo que considera a saúde, a educação e a ss actividades económicas como qualquer outras, vá lá, as rolhas, o comércio por grosso de bacalhau e a apanha de bicha para a pesca?... não diga mais nada Joaquim!... -- JRF

joserui disse...

O Estado dedicar-se à defesa interna e externa Joaquim?... se onde está demonstrado sem margem para qualquer dúvida que o Estado não tem capacidade é na defesa... no 25 de Abril foi o que se viu... e hoje em dia, até Alexandre o Diminuto nos conquistava com uma perna atrás das costas...
Joaquim, os privados devem assegurar a defesa... veja nos EUA, a Blackwater e outras... atiram primeiro, perguntam depois... em caso de necessidade, a primeira coisa que devemos fazer é contratar privados para nos defenderem... sob pena de capitularmos antes da guerra propriamente dita começar!... -- JRF

joserui disse...

O Estado administrar a justiça Joaquim?... se há área onde o Estado já demonstrou até à náusea que não tem qualquer competência é na justiça... aliás, é praticamente uma pescada de rabo na boca... se tivesse, provavelmente hoje ainda seríamos independentes e os Sócrates et al estavam na cadeia... se há área onde um libertário deve propôr a iniciativa privada é na justiça... nesse aspecto estou com o RB... sou muito mais libertário... -- JRF

Pedro Sá disse...

Joaquim para sermos honestos num Estado desses nem saberíamos como avaliar a prestação dos governantes.

zazie disse...

Quais governantes?

Esses são fantoche. O Estado libertário tem de existir para eles poderem ser lobby com poder de mudar as leis e espatifarem uma Nação.