18 janeiro 2013

O direito à posse de arma

Imaginemos que no futuro a tecnologia permitirá a produção em massa de bombas nucleares, ao ponto de poderem ser vendidas em supermercados ao preço de uma refeição de restaurante. Dificilmente alguém verá este como um futuro risonho. Poucos serão aqueles que aceitariam de bom grado viver num país em que qualquer um pudesse ter o dedo no botão vermelho. Provavelmente, qualquer país que permitisse o livre acesso a bombas nucleares não resistiria muito tempo. O argumento de que não são as bombas que matam pessoas, mas as pessoas que o fazem, seria quase ridículo numa discussão sobre a legalização do acesso a bombas nucleares. Sendo assim, é mais ou menos claro que o direito à auto-defesa e posse de arma, não é um direito absoluto e que há que ser traçada uma linha algures.

Mesmos os mais libertários defendem que é função do estado garantir a defesa e segurança do território e dos seus cidadãos. Para o fazer, o estado típico atribuiu-se o monopólio da violência. Claro que o Estado não é, nem é desejável que seja, omnipresente. Nenhum estado consegue, ou alguma vez conseguiu, garantir a segurança de todos os seus cidadãos em todos os lugares, a todo o tempo. Parte desta garantia de segurança individual é delegada no próprio indivíduo e ele deve ter acesso aos meios para o fazer. Querer acabar com os crimes com armas de fogo, proibindo-as completamente, é como aspirar a eliminar o crime, ilegalizando-o. A proibição absoluta, portanto, também faz pouco sentido e daria uma vantagem aos criminosos para quem, certamente, a ilegalidade de posse de arma não seria factor dissuasor. Ilegalizar as armas e esperar que criminosos não façam nada de ilegal é, no mínimo, um pouco ingénuo.

 Parece-me fazer pouco sentido tomar posições absolutas nesta discussão. Os indivíduos devem ter direito a possuir armas para se defenderem a si e aos seus bens. Por outro lado, num estado civilizado, dificilmente alguém precisará de uma arma automática para esse fim. O tipo de defesa garantido por armas automáticas, tanques, mísseis e bombas nucleares, deve ser um monopólio do estado. Quanto maior a capacidade de destruição de uma arma, menos provável é que essa arma venha a ser usada exclusivamente para defesa pessoal. A posse de armas de morte em massa é ainda um factor de risco para uma sociedade, naturalmente composta por seres humanos susceptiveis a doenças mentais e abalos emocionais temporários. A proibição de posse de armas que possam servir para outros fins que não o de garantir a segurança individual faz parte da função do estado em garantir a segurança de todos, e deve ser um mecanismo usado para tal.

24 comentários:

CN disse...

E o direito a ter meios para se defender do monopólio do estado que tantas vezes na história tem sido o maior assassínio em massa que se conhece?

o problema é o grau de centralização de uma imposição de uma preferência comunitária aferida por referendo, digamos.

Qualquer comunidade de proprietários pode regular permitir ou restringir a posse de armas. Num nível territorial alargado como os EUA é absurdo que exista uma solução nacional.

Ou o mundo.

É sempre o problema do grau e amplitude geográfica e humana decisão que está em causa que faz a diferença.

Carlos Guimarães Pinto disse...

O maior assassino da história, sem dúvida. Mas ninguém se conseguirá proteger desse assassino com uma arma automática. A utilização do monopólio da violência por parte do estado é um risco com que temos que viver. Já outros riscos são evitáveis.

De resto, concordo, o nível a que estas proibições são feitas deve depender da capacidade de destruição da arma em causa. O estado central deve poder proibir o acesso a bombas atómicas e o dono de um restaurante deve poder proibir o acesso de pessoas com canivetes suiços.

CN disse...

"Mas ninguém se conseguirá proteger desse assassino com uma arma automática"

Uma correcção, tanto quanto sei, as armas automáticas não são permitidas nos EUA, a arma mais vendida é uma arma que parece uma automática mas que precisa na mesma de ser disparada uma a uma, a arma é muito eficiente e uma pessoa com mais jeito consegue disparar várias por minuto.

CN disse...

Seja como for, o modelo de defesa mais apropriado parece-me ser o Suiço.

manel z disse...

Eu não posso ter uma pistola na mesa de cabeceira porque se as bombas nucleares forem liberalizadas morremos todos. Acho que sim, é razoável.

lusitânea disse...

Gostei de ver defender o modelo Suíço.Os maiores defensores do desarmamento em Portugal são da família política do Rosa Coutinho que desarmou os "colonos" que assim viram o seu papel ser apagado da história.E com a actual colonização africana querem cá fazer o mesmo...
Neste capítulo são muito mais ditadores do que o Salazar ou não?

Anónimo disse...

"o maior assassínio em massa" é a religião.

Mário

Ricciardi disse...

O direito a usar armas para defesa só se justifica em sociedades aonde a segurança pública é ineficaz.
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Usa-se em angola, na guiné, no iraque e, também nos EUA.
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É natural que, à falta de segurança publica eficaz, as pessoas sintam necessidade em se defender.
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O caso dos EUA é uma perversão. Existe segurança publica eficaz, mas a quantidade de armas em circulação é tão facilitada, consagrado que é o direito de posse, que toda a gente tem medo se não possuir uma. É, pois, o próprio sistema que cria a necessidade de ter uma arma.
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A proibição de armas automomáticas e semi-automaticas é mais do que evidente. São armas de matança em massa. A proibição de armas ligeiras tambem deve ser mantida com excepção das armas para desporto (tiro ao alvo e caça).
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E nestas armas para desporto, os titulares tem de ser muito bem avaliados. Periodicamente. Sujeitos a registo e bem controlada a propriedade transmita por herança (coisa que não é feita em portugal, infelizmente).
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Se há coisa que me chateia é pensar que qualquer idiota maluco me pode aparecer com uma arma nas mãos.
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Rb

muja disse...

Ora bem, já que estamos numa de competição para ver quem é o maior assassino da história, também vou dar a minha achega:

O maior assassino da História na é o Estado nem a religião. São e foram os bancos.
E é por isso que os Estados sob a tutela dos quais se matou mais gente são liberais sob domínio desses mesmos bancos: Reino Unido e EUA.
Seria até interessante ver-se quantos anos da sua história é que ambos os países passaram sem estarem em guerra.

Ora para a guerra (sobretudo no estrangeiro, onde esses países sempre as travam) é preciso massa, guito, cacau... And who has the cacau? That's right...

O Estado... Balelas...

muja disse...

E isto para falar apenas na morte por violência física. Porque se entrarmos pela morte pela miséria, então não restam dúvidas nenhumas...

Cfe disse...

"Se há coisa que me chateia é pensar que qualquer idiota maluco me pode aparecer com uma arma nas mãos."

O que mais me chateia é saber que mesmo com a proibição do porte qualquer idiota consegue a arma - porque o mesmo está se borrifando para o estado e sua normatividade - e me ameace por eu ser um cumpridor de leis e por isso desarmado legalmente.

Anónimo disse...

Ninguém manda ninguém seguir à risca essa treta do "bom cumpridor de leis". Desde sempre que as normas foram "feitas" para exercer poder, ou seja fazer os outros cumprir aquilo que nós próprios não estamos dispostos a fazer. De "La Palisse"!!!
Além disso haverá sempre "ingénuos" e predadores, e cada um assume a postura que quiser e puder!
Mas convinha que também se olhasse para a história e daí se tirassem lições.
O fim do império romano também teve a ver com um problema de fobia pela segurança, ou seja desarmou-se tudo e todos. Resultado: quando os barbaros e os islamitas vieram foi mais fácil que faca em manteiga!...
É da história e bem velha!...

joserui disse...

O maior assassino da história... em comparação com quem?... não é o Estado que mata pessoas, as pessoas é que o fazem...
Mas pronto, escrever de calçadeira é assim mesmo... a cartilha encaixa sempre num cantinho qualquer... -- JRF

joserui disse...

Numa outra nota, a NRA não quer saber de estudos científicos sobre armas e posse de armas... exactamente os mesmos a desinformar, exactamente as mesmas técnicas, exactamente os mesmos Catos Institutes na campanha do tabaco e mais recentemente das alterações climáticas... que pessoas inteligentes não considerem isto suspeito, está para além da compreensão... -- JRF

joserui disse...

Por falar em alterações climáticas... tenho de me lembrar de avisar o Joaquim que 2012 foi o ano mais quente desde que há registos nos EUA (NOAA)... decerto quererá fazer um destaque, como quando neva, por uma simples questão de honestidade intelectual, mesmo não sendo comparável em importância um faît divers e estudos sérios que estão a ser efectuados constantemente... -- JRF

joserui disse...

A NRA não quer mas os números vão aparecendo, o exemplo australiano (NYT, como o primeiro)... -- JRF

Ricciardi disse...

Carrega JRF. Tambem vi essa noticia acerca do ano 2012.
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Os terroristas ambientais andam caladinhos como ratos, porque será?
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Rb

Euro2cent disse...

> massiva

Isso agora já é português, à custa de ser repetido pelos analfabetos da televisão?

> dificilmente alguém precisará de uma arma semi-automática

Disparate. Uma arma semi-automática é toda a que, após um disparo, põe a bala seguinte pronta a disparar com uma nova pressão no gatilho.

Ou seja, tudo o que é vendido, desde pistolas a armas de caça. Quase só os mosquetes do século 18 escapam. As armas automáticas, que são as que disparam rajadas, são armas de guerra proibidas a civis.

Asneiras a mais, escreva menos.

menvp disse...

-> Criminosos e mercenários... irão continuar a ter aceso a armas.
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-> Com o fim do serviço militar obrigatório... o cidadão corre sérios riscos de ficar à mercê de criminosos e mercenários...

joserui disse...

É inacreditável caro RB... quando a NOAA publicou, fui ao Junk Science do ex-desinformador do tabaco Milloy e sabe qual era o destaque do dia? Que a Califórnia ia enfrentar uma vaga de frio...
É mau demais para poder ser inventado... estes tipos fazem-nas com dolo e depois têm uns patetas úteis a replicarem as baboseiras. E está feito... o que interessa é o business as usual para os que lucram com isso no presente... o futuro é daqui a muito tempo... -- JRF

Cfe disse...

"Ninguém manda ninguém seguir à risca essa treta do "bom cumpridor de leis"."

Pois. O que eu quero dizer é que a primeira coisa que a proibição total faz é colocar na ilegalidade cidadãos honestos que desejem ter uma arma.

BLUESMILE disse...

Os cidadãos honestos não querem ter armas.

João C. Flores Campos disse...

Eu considero-me um cidadão honesto e não gostaria de ter um dia uma faca ou uma arma encostada à cabeça, ou a minha família ameaçada por um criminoso desesperado. Basta de apadrinhar a delinquência que está constantemente a sair impune dos seus actos. Todas as pessoas têm o direito de se defenderem, se os criminosos continuam a obter as armas de forma ilícita, os cidadãos cumpridores têm o direito de obter armas de forma legal, para sua defesa.

loja de armas online disse...

Tudo depende do uso e finalidade que damos queremos dar às armas e da sanidade mental que possuímos.