07 janeiro 2013

Hospital de S. João

Em directo:
Prof. António Ferreira, presidente do CADM do Hospital de S. João, afirma que há cerca de 1200 funcionários a mais nesta instituição.

Em diferido:
O presidente do conselho de administração do Hospital de São João, no Porto, revelou na TVI24 que podia dispensar mais de mil trabalhadores, se os funcionários trabalhassem 40 horas semanais e em regime de exclusividade.
“Se tivéssemos pessoas em dedicação exclusiva, todos com horários de 40 horas semanais, totalmente motivadas e dedicadas ao hospital, creio que seguramente poderíamos fazer mais do que o que fazemos com menos 20% das pessoas”, afirmou António Ferreira na TVI24.
O Hospital de São João emprega 5.600 pessoas. António Ferreira reforçou que, com “dedicação exclusiva” e uma abordagem onde fosse permitida a recompensa aos ganhos de produtividade, “estou tranquilo em dizer que podíamos dispensar à volta de 20% das pessoas”.

Comentário:
António Ferreira é um mestre do lugar comum que esgrime os dados como lhe convém. Há três semanas afirmou que, no Hospital de S. João em 2010, trinta cirurgiões não tinham ido ao bloco operatório. Ontem esclareceu que esses trinta cirurgiões eram médicos em situação de pré-reforma que já não estão no hospital.
A sua ideia de um hospital do tamanho do S. João, com 4.000 funcionários totalmente motivados e dedicados, recompensados de acordo com os ganhos de produtividade, é de um portuguesismo notável. Estabelece uma dicotomia entre o real e o ideal, desprezando o primeiro e idolatrando o segundo. Isto na Terra é uma chatice, no Paraíso é que é bom...
Esta abordagem, normalmente, justifica a inacção porque como estamos sempre longe do ideal não vale a pena tratar do real.
António Ferreira queixa-se, por exemplo, de que no Hospital de S. João, todos os dias faltam 10% dos funcionários. O que fez para resolver este problema concreto? Aparentemente nada. No Paraíso ninguém falta e Deus recompensa os que não pecam.
António Ferreira faz-me lembrar alguém que tem andado muito nas notícias ultimamente, por ter soluções para todos os problemas do País, avalizadas pelas mais altas instâncias internacionais. Quando me recordar deixo aqui um link.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ninguém entre nós tem dúvidas de que há funcionários públicos a mais, porque não podem ser despedidos. São proprietários dos lugares que não podem ser expropriados. Este é um tabu de tal força que ninguém se atreve a pô-lo em causa, nem os mais ferozes liberais. Mas alguém pensa que com este não mercado de trabalho é possível aguentar uma economia e um Estado social avançado, como o nosso? É puro sovietismo laboral.
Vai custar-nos muito caro!
Fernando C.

Anónimo disse...

Este tipo diz que a medicina privada é dispensável. É, para a família dele é que talvez não!

Anónimo disse...

Eu acredito que o SN de Saúde deveria ter sido chamado "SN de Doença" porque, em saúde ninguém precisa de ajuda, de subsídios. Enquanto quando doente tem de os ter, bem como a Família que depender economicamente dele.
A Saúde é um Luxo. A Doença é uma Maldição.
Quando comecei a trabalhar, vai para meio século, o "acto médico" passava por boas Anamnese e Exame Objectivo. Porque assim se reduziria a necessidade de Exames Complementares de Diagnóstico e Terapêutica que eram pagos pelo doente, bem como os remédios.
Nunca esquecerei as duas histórias (diferentes mas semelhantes) que me foram contadas por homens de meia idade. Em adolescentes (após a II guerra mundial) tinham tido Pneumonia (coisa muito grave) e que os Pais tinham encomendado e pago as doses de Penicilina para os tratar. Era uma novidade eficaz à época, quando os micróbios ainda não tinham aprendido as regras de sobrevivência aos antibióticos (toda a Vida "faz pela sua vida"); aí umas 4 ou 5 injecções por dia, durante uns 5 dias. O que espantava era o preço — cerca de 300 contos (300000 escudos, 1500 euros) que equivaleriam hoje a valores 100 a 200 vezes maiores. Um Pai faz sempre todo o impossível para salvar um Filho.
Com o Estado sem dinheiro quem vai ter uma Doença tratada? Quem for para Medicina Privada. Até não lhes vai ficar caro.