Não faltam dados que o sustentem: em Portugal trabalha-se mais horas e ganha-se menos do que em outros
países europeus. Não é por deficiência genética que tal acontece, porque uma
vez lá fora os portugueses são tão ou mais produtivos do que os outros. Como
não se cansam de nos lembrar, 20% da força de trabalho de um dos países mais
produtivos da Europa, o Luxemburgo, é portuguesa. Eliminada esta hipótese, a
razão que costuma ser apontada é o empresário português. Diz o senso comum que
o empresário português é mal preparado, inculto e que apenas quer fazer
dinheiro rápido a explorar o trabalhador. Mas perante isto, coloca-se a
pergunta: com tanta gente bem preparada no desemprego, como é que não se criam
mais empresas que arrumem com estes patrões mal preparados do mercado? A
resposta é simples: não há capital.
“Não há capital”. Dito
assim, ninguém entende exactamente qual é o problema. O predomínio da retórica
de esquerda na política e nos mídia nos últimos anos fez com que o capital se
tornasse numa entidade esotérica, cruel, que “explora o trabalhador” e
empobrece o país. Nada que se queira ter por perto, portanto. Mas a economia
não se compadece com esoterismos retóricos. A acumulação de capital, através da
poupança e de uma alocação eficiente de recursos, é condição necessária para o
crescimento económico sustentado. Quanto mais capital acumulado, mais rico e
produtivo será o país, e mais emprego existirá. O capital complementa a
qualificação humana: sem capital não é possível aplicar as qualificações
adquiridas e aplicá-las de forma produtiva. Em linguagem simples, sem aviões
para pilotar, um piloto será tão produtivo como um empregado de mesa. Um
engenheiro a trabalhar ao balcão de um restaurante será tão produtivo como
alguém com a quarta classe. Sem capital, não emprego nem criação de riqueza.
O país anda há tantos anos
a perseguir esse homem de palha do grande capital que acabou por conseguir o que
sempre quis: expulsar o capital privado, ficando apenas com o grande capital
que depende do estado e com o capitalzinho das nano-empresas familiares que
sobrevivem de mês a mês. Os resultados estão à vista: desemprego e emigração de
pessoas qualificadas porque a “geração mais bem preparada de sempre” não pode
ficar num país sem capital para a empregar.
12 comentários:
Não anda há muitos anos a expulsar os capitalistas portugueses.
Foram todos expulsos de uma penada no PREC
Daí para cá tem-se feito capitalistas partidários e por encosto ao Estado.
Isso da "geração mais bem preparada de sempre" é outro chavão de patapoufs
um dos países mais produtivos da Europa, o Luxemburgo
Hmmm, produtivo em quê?
Que eu saiba o Luxemburgo é acima de tudo um off-shore ao serviço dos alemães ricos. Não produz grande coisa.
Mas posso estar enganado.
E agora, sim, o empresário explora o trabalhador. Paga-lhe mal, muitas vezes a más horas (pois se o Estado o faz...) e ainda o faz trabalhar horas extraordinárias sem o trabalhador ver um tusto por elas. Ou não parecesse mal sair do trabalho a horas...
Só que já não é o patrão português. É o patrão sem cara, o patrão das boards internacionais e dos offshores. Mas não são os únicos com "esperto no cabeça". O funcionário, sabendo que tem que ficar mais do que o que lhe pagam, evidentemente não vai trabalhar de graça. Vai-se desleixar, vai-se encostar. Para que há-de dar o litro, se ao fim e ao cabo lhe pedem mais (sem lhe pagar) quer dê quer não dê...
Aí tem a razão da falta de produtividade. Ponham-se os funcionários a sair a horas e a receber pelas horas de trabalho (como nesses países produtivos), a ver se a produtividade não sobe.
Isto de racionalizar teorias sem dados que as sustentem tipo filósofos- protestantes ja nao dá mais de sim...
Queremos dados.Factos. Se em dinheiro n de milhoes de euritos, se em empresas, n de empregados e qualificacao dosCEOS.
Isto de falar sempre por boca de e com dados de empresas estrangeiras. E uma peste...
Anónimo, estão aqui os dados http://oinsurgente.org/2012/10/25/90208/
Esta lógica do Capital, ajusta-se em economias baseadas na Indústria. Já não tanto em economias baseadas em Serviços. Tb. na primeira, é mais importante a ligação do Conhecimento à Indústria do que propriamente o Capital.
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Uuuuu... Cuidado anónimo... Os dados estão no insurgente... -- JRF
> Daí para cá tem-se feito capitalistas partidários e por encosto ao Estado.
São os chamados capitalistas por conta de outrém.
O CGP tem toda a razão, EXCEPTO quanto à perseguição ao capital privado. Porque o grande capital sempre esteve aí (e ainda bem), o que falta é aquilo a que provavelmente chamaria o médio capital.
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