20 janeiro 2013

Dos 4 aos 40



Os EUA declararam recentemente a sua intenção de reduzir efectivos na base das Lages, uma indicação clara de que o seu interesse militar no Atlântico se está a desvanecer. Isto acontece, enquanto reforça a sua presença no Médio Oriente e, especialmente, no Pacífico.

Não é só o centro de interesse militar, mas também comercial e económico do Mundo que passou do Atlântico para o Pacífico. Cada vez mais o comércio mundial se centra na Ásia e menos na Europa. Em 2002 existiam 3 portos europeus e 1 americano entre os 10 maiores do Mundo. Hoje existe apenas 1 porto europeu nesse top10: Roterdão, em 10º lugar. Nos EUA, os portos com mais trâfego localizam-se na costa do Pacífico e não no Atlântico. A Europa, que foi o centro económico, político e comercial do Mundo durante vários séculos passou agora para a periferia de um mundo cada vez mais centrado na Ásia e no Pacífico. As evoluções demográfica e económica recentes só tenderão a reforçar este efeito.

As implicações para Portugal deste movimento são dramáticas. Portugal que, apesar de sempre ter estado na periferia da Europa, beneficiava da sua plataforma Atlântica para estar no centro do Mundo, deixou de o poder fazer. A emergência económica e comercial das potências asiáticas arrumou com Portugal para a periferia mundial. Portugal é hoje um país periférico num continente também em vias de se tornar periférico .

Infelizmente Portugal está muito longe de se ter preparado para esta situação. Embora a desmaterialização da economia trazida pelas novas tecnologias possa ajudar a suavizar este efeito de periferia, será necessário capital para aproveitar os benefícios dessa nova tecnologia. Como irá então um país pequeno, periférico, sem grandes recursos naturais, atrair capital que lhe permita sobreviver na periferia do Mundo? Da mesma forma que o fizeram a Coreia do Sul ou Singapura no passado: baixando drasticamente os custos de contexto e a carga fiscal, e digo drasticamente porque não bastará que esses custos sejam os mesmos que os de outros países, terão que ser muito mais baixos do que os países do centro para compensar a situação periférica do país. Isso implicará cortar bastante as despesas do Estado, muito para além do que qualquer estudo do FMI recomendará. Quatro mil milhões será pouco. Provavelmente o corte necessário estará mais próximo dos quarenta.

12 comentários:

zazie disse...

A plataforma dos Açores nunca teve qualquer intenção comercial para ninguém, a começar pelos americanos.

Sempre foi e é uma plataforma de interesses estratégico-militares.

Acerca disso, nada se alterou- os países não mudam de lugar e a forma de os atingir também não.

Carlos Guimarães Pinto disse...

Zazie, mudou-se o interesse da Europa para os EUA. A Europa é um lugar relativamente menos interessante do que há uns anos atrás.

zazie disse...

Mas que tem isso a ver com uma plataforma de interesse militar?

Nada. V. escolheu mal o exemplo. Porque o interesse dos Açores mantem-se e os americanos têm tido azar nas tentativas de arranjarem plataformas idênticas- com o mesmo fim- lá para o Oriente

zazie disse...

Se v. queria ir por aí, fazia como eu estou fartinha de fazer- mostrava as rotas dos principais gasodutos e de quem os controla ou está no caminho.

Nós não estamos e podíamos estar com Marrocos

zazie disse...

Agora a ideia de fazer disto um centro de lavagem de dinheiro agrada a muito cretino mas não interessa a nenhum português, digno desse nome.

zazie disse...

O principal são as energias.

V.s esquecem-se sempre disso.

O resto é finança- principalmente.

A economia europeia já é controlada pela Alemanha- que, por acaso, ou não, também faz a ponte entre a Rússia e o resto da Europa, através de gasoduto.

Ricciardi disse...

«Nós não estamos e podíamos estar com Marrocos» zazie
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Nem mais. A realidade podia ter sido essa. Portugal e Espanha com a torneira do gas e do petroleo; enfim, como receptores do magrebe e distribuidores para a europa.
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Esse desiderato foi feito, efectivamente, pela alemanha em parceria com a gasprom russa. São os boches que detém a torneira.
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E para a terem, em regime de exclusividade, a estratégia foi simples: 1) boicotar os gasodutos promovidos pela UE (votando sistematicamente contra) e 2)obrigar os paises do sul da europa a gastarem e endividarem-se através dos co-pagamentos dos fundos estruturais.
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Rb

Ricciardi disse...

Quanto ao interesse dos Açores. Pois bem, o interesse poderá vir a ser muitissimo maior no futuro. Vai deixar de ter interesse militar por parte dos gringos, para poder ser umas ilhas de interesse supremo COMERCIAL entre a asia e a europa. Recorde-se que o novo canal do Panama (por onde vão passar super-navios) está em linha recta com os açores rumo à europa.
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Mais do que nunca Portugal pode ser uma excelente plataforma comercial entre blocos. Mas é preciso ter paixão pelo país, e inteligencia estratégica, e abdicar de vende-lo sem ganharmos nada com isso.
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Rb

zazie disse...

Olha nem tinha pensado nisso.

É uma boa.

O que nunca é ideia que se aproveite são estas pancadas neotontas à Four Yorkshiremen

muja disse...

Eu acho que Vs. têm razão.

Mais do que dinheiro, os países necessitam de energia.
É muito por aí que as coisas se desenham.

E realmente, estar na periferia pode não ser tão mau assim. Por um lado pode ser que nos chateiem menos e nos deixem estar sossegados. Por outro, é como diz o Rb, para se chegar ao centro tem de se passar na periferia, e oportunidades há sempre para quem tem olho para elas e mão para as agarrar.

joserui disse...

"à Four Yorkshiremen"... hehehe...
Ou à "lumberjack"... -- JRF

BLUESMILE disse...

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=j9lsc5P9Nkw