10 janeiro 2013

constitucional


O Serviço Nacional de Saúde não é um fim, mas um meio. Esta observação, tão simples, é um verdadeiro ponto de partida para a sustentabilidade do sistema de saúde.
O SNS, que tem agora cerca de 30 anos, foi criado para realizar o estado de bem-estar social, de acordo com os desígnios constitucionais, expressos no Artigo 64º:

1.Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.
2.O direito à protecção da saúde é realizado: a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito.

O SNS é, portanto, um meio para proteger e defender a saúde dos cidadãos.
Nesse sentido, o SNS não pode limitar-se a dispensar todo o tipo de produtos e serviços de saúde à população, sem assegurar que está a “proteger e a defender” a saúde.
Infelizmente, tal como acontece nas empresas, as organizações têm tendência a focar-se em si próprias e esquecem, com muita facilidade, a “visão fundadora”.
No sector privado, esta deriva é imediatamente penalizada pelo mercado. O SNS, porém, está isolado dos mecanismos de mercado e, portanto, só pode corrigir a sua trajectória quando as autoridades políticas se consciencializam de que existe uma deriva do projecto inicial.
E existe uma deriva do projecto constitucional? Estou convencido que sim. O SNS há muito que deixou de dispensar todos os produtos necessários à promoção e defesa da saúde, para passar a dispensar todo o tipo de serviços de saúde a toda a gente, mesmo quando estes produtos e serviços podem estar a prejudicar a saúde. Uma ironia trágica e muito dispendiosa.

Post de Março de 2009

Comentário: definir um pacote básico de serviços de saúde, a prestar pelo SNS, não só vai de encontro ao propósito constitucional de proteger e defender a saúde dos cidadãos como é essencial para este fim. Veja-se, por exemplo, o que se passa com o exagero do consumo de medicamentos que provoca complicações, desperdiça recursos e contamina o meio ambiente.


4 comentários:

Ricciardi disse...

Ora aí está como se deve começar a tratar do assunto. Estudar as funções essenciais do sistema.
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É por aí. Não é fazendo o contrario.
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Rb

Anónimo disse...

O Arnault era burro. E se não era burro era aldabrão. Desde a criação do SNS, com lápis e papel (não era preciso máquina de calcular) se previa que em menos de 10 anos estaria falido.
Por "engenharia" financeira foi-se aumentando os privilégios da malta. A dívida passou a ser paga pelos impostos e não pelos "descontos". E a malta de nada soube. Ainda mal. Até diziam aos médicos do SNS "eu é que lhe estou a pagar o ordenado". Como no resto, viveu-se à tripa forra. Agora paguem o que, legitimamente, devem.



Unknown disse...

Interessante que nos indicadores de saúde, não se inclua a taxa de pessoas com incapacidades que não tenham acesso a cuidados básicos...
Uma vez vi um caso paradigmático disto. Um homem a quem foi colocado um CDI (a custar vários milhares de euros) mas que não tinha sequer forma de lavar-se em casa. Isto diz tudo sobre as prioridades na Saúde em Portugal

Ou então: há maior facilidade em prescrever uma ressonância magnética do que ter acesso a educação para a saúde a um familiar que cuide de um seu familiar doente.

Querem falar no básico?

Vamos a isso...

BLUESMILE disse...

Embora lá.

Quanto pouparíamos com programas de educação para a saúde eficazes, abrangentes, devidamente estruturados, implementados e avaliados para públicos-alvo?
Quanto poupamos, a longo e média prazo, com uma elevada cobertura vacinal relativamente a certas patologias?

Quanto poupamos com programas de rastreio e diagnóstico precoce?

(De notar que todos estas intervenções estão a ser postas em causa pelos mercantilitstas e mercenários que pretendem acabar com o SNS)