24 janeiro 2013

a vida é aquilo que te acontece enquanto estás ocupado a fazer outros planos

disse John Lennon, citação que me foi lembrada recentemente. E assim aqui estou, num espaço de liberdade intelectual (fica sempre bem dizer isto): um espaço da propriedade virtual de alguém, o editor do blog, que utiliza um serviço da propriedade da google e para o qual tem o domínio absoluto sobre o critério com que convida ou desconvida - parece uma contradição - domínio absoluto e liberdade, mas faz parte do defeito o qualidade de ver a propriedade como o elemento básico da vivência humana incluindo a generosidade e humanidade, e, para ser ainda mais curriqueiro e socorrer-me de filosofia da tasca, só podemos dar aquilo que nos pertence.

Foi-me assim dado este espaço para escrever umas coisas, o que é uma seguramente uma honra para mim ficando-me a dúvida o aceitar pertencer a um clube que me aceite como membro, embora a minha experiência no VentoSueste (com frequência intermitente) é muito positiva, devido certamente ao carácter excepcional do Miguel Madeira. Escrever num blogue pessoal de esquerda (e extrema-esquerda) é repousante, é à direita e nos liberais onde tenho mais ânimo para suscitar mais polémica, e isso marcou desde o início a minha presença na Causa Liberal, essencialmente porque precedeu a invasão do Iraque, numa altura em que já era imensamente crítico do intervencionismo e dos neoconservadores, de resto como a interpretação da história dos conflitos em geral e das duas guerras mundiais em particular.

A minha presença actual no mises.org.pt é claro, lógica, e reconfortante que a iniciativa tenho surgido por alguém que não conhecia, João Cortez, e que faz parte de uma nova geração que prova como a linha austríaca-libertária do Mises Institute é de longe, a mais motivada e estruturada dos movimentos actuais, e que conta, curiosamente, com uma proporção de católicos (alguns tradicionalistas) acima da média. E já agora, sempre posso comentar que assumindo frequentemente a defesa da Igreja, não sou tradicionalista embora muito os aprecie (tal como aos monárquicos integralistas e reacionários diversos... também aprecio alguma esquerda em alguns domínios), sou um católico dos tempos que correm, com os defeitos e qualidades dos tempos que correm, pai de 3 filhos, divorciado, numa relação estável, vivo entre Lisboa e Porto. Sou extremamente adverso a falar da minha vida pessoal, mas acho que o faço como defesa preventiva. Em tempos o PA procurou caracterizar uma série de bloggers e quase chegou a minha vez, desta forma fico um pouco mais caracterizado pela minha própria mão.

Comecei nestas lides com Milton Friedman, porque o meu pai, economista, guardava as suas obras, vi a sua série "Liberdade de Escolher" na RTP com 15 anos e vivi a década de Reagan e Thatcher intensamente sendo insuportável na sua defesa (mais tarde tornei-me crítico de ambos, mas foi uma grande década!) em todos os sítios onde estava, reuniões de família (5 irmãos, e todos gostam de discutir desde muito cedo) ou o que fosse, podia ser em casa de desconhecidos - acho que era, e quem sabe sou, uma verdadeira praga. E sim, sou um dos que teve a graça de acompanhar os escritos de Pedro Arroja na Vida Económica, o meu pai também os lia (até creio que já tiveram contacto). E Henri Lepage claro.Quando comecei a minha carreira no mercado de capitais fiz um intervalo até que, fruto da actividade de gestão de activos e trader em derivados precisei de compreender os fenómenos dos ciclos económicos, das bolhas e crises (e o carrossel das bolsas) e isso conduziu-me à escola austríaca de Mises, dei de frente com Ayn Rand ("it usually begins with Ayn Rand") e depois com Rothbard e todo o movimento libertarian americano que começou nos anos 60. A descoberta de uma escola de pensamento económico não-anglo-saxónico nascido em Viena (e Menger, o fundador foi perceptor do Príncipe), com antecedentes nos escolásticos ibéricos e nos economistas franceses (bem mais avançados e corrrectos que Adam Smith) foi muitíssimo gratificante. Rothbard também ele, foi responsável pela recuperação da obra produzida por católicos (Hayek também), e disse mesmo de Adam Smith - onde estava correcto já tinha sido produzido, onde produziu de novo estava errado. Em seguida aparece a Causa Liberal que impulsionou uma fornada inicial de liberais clássicos e libertarians onde tive a sorte de encontrar pessoas como o André Azevedo Alves, o Luis Aguiar Santos e muitos outros (tal como o Rui. A). O meu primeiro texto é Alexandre Herculano, o Axioma da Aquisição Original e Como a Desigualdade Social Emana da Igualdade Civil e onde fiz o meu primeiro post há 10 anos, do qual nem me lembrava mas é um dos meus assuntos de economia preferidos:

"Os benefícios da Deflação

Afinal como é que é? o FED e o BCE combatem algo que aumenta o rendimento?
A razão para os problemas económicos de hoje não deve ser encontrados na descida de preços em si mas noutro fenómeno - na expansão que a precedeu.
Não há espetáculo mais irónico do que ver uma entidade monetária estatal combater a descida de preços dos produtos e serviços, a própria manifestação da melhoria das condições de vida (os preços caiem e novos produtos são produzidos e consumidos com a poupança gerada)"

Ora em 2003, estavam ambos os bancos centrais a tentar curar a crise da bolha do Nasdaq com taxas de juro baixas e expansão monetária. Ron Paul dizia:
"Like all artificially-created bubbles, the boom in housing prices cannot last forever. When housing prices fall, homeowners will experience difficulty as their equity is wiped out. Furthermore, the holders of the mortgage debt will also have a loss. These losses will be greater than they would have otherwise been had government policy not actively encouraged over-investment in housing."
E agora estamos aqui outra vez (bancos centrais a tentar curar mais uma crise com taxas de juro baixas e expansão monetária), e eu por aqui, e agradecendo as palavras e todas as polémicas com o Rui. A. (ainda terei oportunidade de escrever sobre ética e moral, cuja separação, ou não-separação, constitui o cerne das ideias, porque as concretizam). Recordo-me de uma troca de posts com o PA acerca da questão das reservas de moeda, sendo eu claro, um defensores de reservas de 100% para todos os depósitos à ordem, tema para o qual ainda poderei falar (ou também aqui).  Mas aprecio muito a sua viagem pessoal e afastamento da economia pura. Tal como muito aprecio os restantes bloggers que compõem presentemente o PC.

Este deverá ser o meu post mais longo, espero bem.

10 comentários:

Anónimo disse...

Seja bem-vindo, CN.
PA

Anónimo disse...

Bem-vindo,

Anónimo disse...


Caro Carlos Novais,

Seja bem vindo. Da minha parte não vou perder nenhum dos seus posts.
Não conheço nada nem ninguém na blogosfera por isso também não conheço a sua "obra".

"Sou extremamente adverso a falar da minha vida pessoal" - CN

Só esta afirmação, para mim, já o qualifica como uma pessoa de bem.
Bem haja

D. Costa





Anónimo disse...


"sendo eu claro, um defensores de reservas de 100% para todos os depósitos à ordem, tema para o qual ainda poderei falar (ou também aqui)"

Seria óptimo se falasse aqui sobre esse tema.
Gostaria também de saber a sua opinião sobre o actual sistema monetário e o clássico padrão-ouro.

D. Costa

muja disse...

Mais do isso, era interessante falar de como era antes do padrão-ouro...

Anónimo disse...

Pedindo desculpa, o título não é de Lennon.
Thomas La Mance: Life is what happens to you when you have other plans
abraço do eao

Vivendi disse...

Bem-vindo!

CN disse...

É capaz, como em muitos casos, resultam de citações de terceiros depois atribuídas ao segundo:

"it's one of the lines from "Beautiful Boy," a song that John Lennon wrote for Sean Lennon."

luis_v_silva disse...

Boa! Venha de la Esses esclarecimentos sobre o padrao ouro

Unknown disse...

"(...)só podemos dar aquilo que nos pertence".

No geral, cada indivíduo só possui realmente uma coisa, e não é nada que se possa dar...

Se a "tasca" tem estas fundações, vou ali e já venho... :-)