15 janeiro 2013

a origem da Ética


O sentido do Bem e do Mal faz parte do nosso hardware biológico.

Joaquim,

Não concordo com isso e de resto nem é muito compatível com a ideia católica de bem e de mal, e a capacidade da razão a conhecer e do livre arbítrio poder escolher entre um e outro (o pecado original).
Seguramente as formas como se concretiza são o resultado da história, costumes, cultura, etc.
O bem e o mal ser uma espécie de produto do acaso utilitarista (é assim porque se demonstrou mais útil à espécie) não é compatível com a capacidade de julgamento e de razão.
E de uma forma ou outra voltamos à discussão da Ética (de Rothbard ou outra)... e da capacidade de descobrir a ética, não de a receber "assim porque é assim".
O que quero dizer é que os princípios universais são capazes de ser descobertos pela reflexão, mas a concretização nos hábitos, normais específicas, etc, sim, são o resultado da cultura, e assumem características próprias.
"Princípios universais localmente aplicados" (frase de Rothbard) se quisermos.

Comentário do CN, aqui

Caro CN,

Certamente que a nossa capacidade de julgamento e a razão nunca poderiam avalizar quaisquer princípios éticos que determinassem o fim da espécie, seria um absurdo total. Pelo contrário, um comportamento ético contribuirá sempre para o que eu chamo "o sucesso da espécie".
Aceitar que os sentimentos de Bem e de Mal são um produto da evolução não prejudica a nossa capacidade de julgamento. Do mesmo modo que aceitar a existência da gravidade não prejudica a nossa capacidade de a analisarmos.
Tal como não podemos escapar à lei da gravidade, também não podemos escapar à natureza humana. Tomás de Aquino considerava o Decálogo como o conjunto de leis naturais que são conhecidas de todos os seres humanos e Agostinho afirmou até que estas leis tinham sido inscritas no coração dos homens, muito antes de serem escritas nas tábuas. A minha interpretação é que as leis naturais, ou direito natural, são o produto de centenas de milhões de anos de evolução.
Os conceitos de Bem e de Mal são fruto do acaso (ou de Deus)? Com certeza, de aceitarmos que a vida na Terra surgiu por acaso (ou por criação Divina), então é muito fácil de aceitar que as leis naturais que a regem têm a mesma origem e servem os mesmos fins.

ABÇ

Joaquim

12 comentários:

zazie disse...

Vamos ter sessão de Filosofia de Tasca e o Baptista da Silva não diria melhor.

Anónimo disse...

Hola Zazie,
:-)
Sempre a considerar-me.

Anónimo disse...

Nietzsche propõe que pensemos para além do Bem e do Mal: "Perguntai aos escravos quem é o "mau"?, e apontarão a personagem que para a moral aristocrática é "bom", isto é, o poderoso, o dominador".
. Então, o Bem e o Mal, dependem da perspectiva e dos interesses de quem julga. Deveríamos colocarmo-nos no lugar do outro. Por exemplo, por que é que Bin Laden é um homem "mau" para o ocidente-cristão e é herói "bom" no oriente islâmico?
.
Anyway, antes de Deus ter criado a bicheza, humana ou não, o Bem e o Mal já exerciam funções??
.
Rb

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

......the thin red line......

muja disse...

Caro Joaquim,

V. diz que

Aceitar que os sentimentos de Bem e de Mal são um produto da evolução não prejudica a nossa capacidade de julgamento.

Mas para julgar é necessário ter noção do Bem ou do Mal, do justo ou do injusto; portanto, a capacidade de julgamento é produto da evolução.

Pelo que quando V. afirma:

Certamente que a nossa capacidade de julgamento e a razão nunca poderiam avalizar quaisquer princípios éticos que determinassem o fim da espécie, seria um absurdo total.

está a afirmar implicitamente que o resultado da evolução nunca poderá ser o fim da espécie. Penso que o facto demonstrado - através de fósseis - de que houveram espécies que já não hão - estão extintas - é suficiente para demonstrar a falha na sua teoria.

Não existe "bem da espécie", homem! Convença-se disso!
Ou melhor: existe. Existe um que é o nosso. Mas fomos nós que o inventámos, não foi a evolução (a evolução dos genes, pelo menos).

Anónimo disse...

isso muja~
.
rb

CN disse...

Joaquim

Fico-me pela acepção católica que a lei natural está ao alcance da razão do Homem (e sim, não sem que a revelação esteja presente também de alguma forma).

Eu embirro com esse conceito do "espontâneo" da mesma forma que embirro com alguma interpretação que os Hayekianos (mais do que o próprio Hayek provavelmente) fazem do espontâneo.

Se as instituições caminham num certo sentido de forma espontânea resultam também do exercício e acções por pessoas específicas de exercer julgamentos e aplicar a sua razão, e de uma reflexão e conhecimento acumulado ser formado.

Ou seja esse exercício é parte de processos ditos "espontâneos", interpretados erradamente julgo eu, quase como um carácter aleatório e trial-and-error não consciente.

Quase que podemos passar a discussão para o utilitarismo versus a ética, e saber se as coisas são assim por serem "úteis" ou serem "justas". Ou serão "justas" porque são "úteis"?

Na acepção do homem como mais do que outro qualquer ser vivo, no domínio da escolha entre o bem o mal, o justo e injusto, essa tal acepção tem de existir interiormente (uma capacidade avaliação, uma escolha, um julgamento que produz uma doutrina) e não de quase um jogo aleatório de que resulta uma simples observação empírica de quais as melhores condições de sobrevivência, resultando isso no Bem e no Mal.

PS: Zazie, suponho que seja isto a filosofia da tasca. Por aqui, cada um tem a sua.

muja disse...

Ah pois deve ser de certeza...

O facto de se fazer uma discussão filosófica citando economistas(!) é claramente sinal disso...

CN disse...

"O facto de se fazer uma discussão filosófica citando economistas"

Quer Hayek quer Rothbard passaram muito além da economia. Pode tentar consultar bibliografia. Mais a tradição intelectual católica sobre livre arbítrio, lei natural, pecado original, etc.

zazie disse...

Resposta:

Eu também gosto muito do CN.

Portanto, assim seja, cada um tem a sua e quem quiser dá-la, dai-la.

BLUESMILE disse...

Inda gostava que algum erudito me explicasse o que é essa treta da "lei natural"....
Sem ser com terminologia simplista de tasca filosófica, claro...