16 janeiro 2013

a espécie é uma comunidade?

O que faz do Portugal Contemporâneo um blogue diferente é a genuína troca de ideias entre os autores e entre estes e a comunidade de comentadores. Quando se referem a nós como aqueles tipos que andam à procura da Verdade — normalmente até se referindo mais ao PA, eu não critico. Sempre é qualquer coisa com uma aura positiva e se um dia descobrirmos uma luz ao fundo do túnel, tanto melhor.
É nesse espírito que eu acho que vale a pena concretizar um pouco melhor o que pretendo dizer quando me refiro à espécie humana. Talvez seja falar por falar, ou como diz o PA, ‹‹uma conversa interminável e sem conclusão certa››, mas a vida é uma peregrinação e "a virtude está no caminho, não está na chegada", daí que o falar e discutir, ‹‹ainda que ninguém saiba ao certo aquilo de que está a falar ou a discutir››, também faz parte do processo. Eu até argumentaria que é a parte mais importante do processo e a que mais falta faz nas culturas católicas.
PA define a comunidade como um conjunto de pessoas: ‹‹Por exemplo, o conceito de comunidade. A comunidade é um conjunto de pessoas que têm certa(s) caraterística(s) em comum. E posso continuar a dar exemplos concretos de comunidades: a minha família, os Franciscanos, a comunidade portuguesa›› (sic). Assim sendo, a comunidade ibérica seria outro exemplo de comunidade ou a comunidade europeia, ou a comunidade africana. A Commonwealth é outra comunidade e os PALOP's também, porque são um conjunto de pessoas que têm em comum a característica de falar português. Chegados a este ponto, o que nos impede de olhar para o conjunto dos seres humanos como uma comunidade? Desde logo, todos temos uma característica em comum, e não é pequena: todos somos filhos de Deus, todos somos irmãos. Jesus não se cansou de repetir isto mesmo.
Ora essa comunidade global de todos os seres humanos é a espécie Homo Sapiens. Quando nos referimos à espécie humana, todos sabemos do que estamos a falar, pelo menos tão bem como quando nos referimos à própria família, embora o PA tenha razão quando afirma que o conceito de espécie é tão abstracto que é difícil, ou impossível, definir com rigor matemático.
Falar do sucesso da espécie, como sendo o Bem Comum, não é portanto mais esotérico do que falar do sucesso de uma família, de uma aldeia ou de um país. Pode ser é muito mais difícil de concretizar, a cada momento, qual é o sentido desse Bem Comum.
Mas é por isso mesmo que é a falar e a discutir, mesmo quando pouco se sabe sobre os assuntos, que um dia vamos chegar à Verdade.
É o caminho, não é a chegada.

8 comentários:

marina disse...

para se pertencer a uma comunidade é necessário seguir um mínimo de regras sejam formais ou informais . expulsavam-me num instantinho das carmelitas se me apanhassem com o franciscano do convento ao lado , da família se batesse na avó e tal :) ora nimguém me pode expulsar da "comunidade abstração taxinomia espécie " por isso , há aí qualquer coisa que não está bem.
de resto, bonito post .

JoaoR disse...

Falar e discutir...
Quando o que é preciso é sentir.

:)

obg

joserui disse...

Se o sucesso da espécie é o Bem Comum, então estamos bem... não diria isso Joaquim? Ah... mas o que é a espécie? O PA nunca jantou com a espécie...
Mas terá o PA jantado com a economia alguma vez?... deve ter sido no Canadá... eu aqui nunca a encontrei...
Para que serve a discussão nestes termos?... uma vida dedicada à economia e nada... resolve moer ligeiramente a biologia...
Se é para colocar em causa conceitos abstractos que de uma forma ou de outra têm sido úteis à nossa evolução, nunca mais daqui saímos... abre-se outro blogue, junto ao dedicado ao Dr. Mário Soares o "Comam que eu gosto"... até já tenho nome: "Bases arrojadas da metafísica e da moral"... -- JRF

zazie disse...

ehehe

Eu cá acho o título óptimo. Tirava-lhe apenas as "bases"

Francisco disse...

Comunidade, Espécie, Cultura, Deus, etc, o problema de definir estes conceitos é sempre o mesmo, é uma questão de método.

O PA pode gostar mais da palavra Comunidade do que da palavra Espécie, mas são as duas igualmente difíceis de definir e igualmente fáceis de identificar.

Eu posso facilmente identificar comunidades (família, nação, etc), e também posso facilmente identificar espécies (homem, gato, cão, etc).

Mas tenho dificuldade em definir de forma absoluta e abstracta estes conceitos, de forma a que se aplique a todos os casos da realidade. Ou porque há certas famílias disfuncionais que não se sabe bem se são uma comunidade, ou porque é difícil traçar a fronteira entre certas espécies, etc. Mas isto é a mesma coisa para todos os conceitos, seja Espécie, Comunidade, Deus, Cultura, ou até mesmo lápis.

E também em termos morais, é sempre mais fácil identificar se uma certa acção em concreto é boa ou má do que propriamente identificar o que é o bem ou o mal.

Mas isto obviamente não quer dizer que os conceitos abstractos não servem para nada. A função dos conceitos abstractos não é representarem 100% da realidade, é simplesmente serem úteis para perceber pequenas fracções da realidade.

Anónimo disse...

… a conceptual model is a model that exists only in the mind. – From Wikipedia

Cmpts
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Anónimo disse...

Karl Marx intentou uma pequena aproximaçao do mesmo lá quando tentou fazer um tandem de caracteristicas afins a especie burguesa hoje tao fossilizada...

BLUESMILE disse...

A espécie é biologia, a comunidade
è cultura.