21 dezembro 2012

não é o caminho

A eugenia não é o caminho para o sucesso da espécie, porque "Deus escreve direito por linhas tortas". O caminho é a tradição.
A tradição da comunidade, o que significa que temos de aceitar tradições diferentes em diferentes pontos do globo.
A questão dos incapazes e de um modo geral das pessoas improdutivas tem de ser resolvida pela tradição e a verdade é que não há culturas com a tradição de os excluirmos. Curiosamente, as culturas que o PA considera mais sectárias são as que mais recursos dedicam às pessoas com deficiências e as que mais esforços fazem para as incluir na sociedade.
Voltando à questão do Bem Comum, o respeito pela tradição há-de ter um objectivo, ou não?

8 comentários:

Carlos disse...

Como pai de uma criança com T21, agora com 4 anos, a viver na Dinamarca há cerca de 6 meses, depois de ter passado os primeiros 3 anos em Portugal, posso assegurar, no que diz respeito à minha experiência individual, que a sua afirmação não é acertada. Mesmo de um ponto de vista puramente formal não encontro por estas paragens nem mais recursos nem, sobretudo, maior esforço na integração da deficiência. E se sairmos do plano formal posso agora dizer, sem qualquer margem para dúvidas, que o esforço, e parte importante dos recursos, são dedicados em primeiro lugar à exclusão.

Anónimo disse...

Joaquim
Tem sido a minha batalha tentar provar o contrário. Falhei.
Mas o comentário acima talvez diga mais do que eu conseguiria dizer em mil posts.
Abc.
PA

Anónimo disse...

Caro Carlos,

O seu caso é muito importante, mas é um caso. Nomeadamente é o caso de um estrangeiro na Dinamarca.
Há 20 anos, quando saí dos EUA, já se fazia mais por lá para ajudar os deficientes do que se faz agora em Portugal. E o mesmo se pode dizer do Canadá, onde o PA tem experiência directa.

Anónimo disse...

E que com 4 anos de experencia adquirida o Carlos, sem duvida, um europeo de pró ,pensa que ja deveria ter os mesmos "direitos adquiridos" de um dinamarqués...
Iluso.

Carlos disse...

Joaquim:
O meu caso, a minha filha, aquilo que fez foi colocar-me numa situação de confronto directo com as instituições e, mais que isso, com a própria sociedade a lidar com esta questão. Depois de 3 anos a lidar com outra sociedade, outras instituições. Em Portugal a resposta do estado, seja do ponto de vista formal, seja do ponto de vista efectivo, é mediocre, mas em contrapartida a disponibilidade que existe para acolher a diferença é bastante maior que por aqui. Um exemplo claro é a educação inclusiva. Em Portugal é já um dado aquirido, na Dinamarca, para minha surpresa, ainda há muita resposta no sistema educativo sob a forma de "ensino especial" (que mais não é que uma forma de exclusão).
E mais significativo que ser eu a dizer isto tudo foi uma conversa com uma responsável por uma associação local de pais com filhos com T21. Essa responsável, como representante da associação num congresso internacional sobre o tema, na África do Sul, e ela própria como profissinal do sistema educativo, confessou ter ficado chocada com aquilo que se faz no mundo (que não se faz na Dinamarca). E a maior luta dela nem é sequer com o estado, as suas instituições, é mesmo com os pares no sistema educativo.
Garanto-lhe que aquilo que em Potugal se faz com 1,53% do PIB é muito mais que aqui com os 3,78. Quando eu falo daquilo que se faz estou, claro, a pensar na possibilidade destas pessoas fazerem parte integrante da sociedade, não estou a pensar em equipamentos ou trabalhadores sociais que apenas mexem em papeis (e aqui há muitos).

muja disse...

Carlos, desculpe perguntar-lhe, mas o que entende por "ensino especial"?

Está a dizer que quer que a sua filha tenha aulas exactamente iguais à dos outros alunos não-T21?

Mas porquê, se ela é diferente? Porque não há-de ter uma instrução especial, melhor adequada às suas circunstâncias? Com professores que saibam e estejam preparados para lidar com a sua diferença? Nos recreios, nas refeições - enfim, nas situações de cariz social - então sim, parece-me lógico não "excluir", como diz. Mas uma sala de aula não é um evento social. Os alunos, ao contrário do hoje parece acreditar-se, não estão lá para conviver. Estão para aprender. Se estão em conjunto, é por uma razão de índole prática mas que qualquer outra.

Não quero com isto sugerir de forma alguma que uma pessoa com T21 vale mais ou menos do que uma sem. Que fique bem claro.
Mas existe uma diferença objectiva. Umas pessoas têm, outras não. Não compreendo porque se não há-de agir de acordo com essa diferença.

José Lopes da Silva disse...

Ainda não se delimitou a diferença entre sociedades luteranas/socialistas e calvinistas/liberais. Talvez se estivesse a falar de fenómenos diferentes.

Carlos disse...

Caro mujahedin,

Ensino especial é a fórmula "antiga", nem em Portugal, nem na Dinamarca, nem em lado nenhum civilizado, ainda se acredita que toda a deficiência deve seguir esse caminho. Nas últimas décadas o ensino inclusivo, ou seja, a integração, consoante o nivel de deficiência e, sim, com acompanhamento especifico e orientado por profissionais competentes para isso, tem sido a orientação. Do ponto de vista legislativo suponho mesmo que Portugal e Dinamarca estão no mesmo plano.
Atenção que T21 é uma deficiência moderada. E como tal beneficia, e muito, da inclusão no ambiente "normal". Ha grandes beneficios (óbvios no caso da minha filha) na integração, os outros constituem um estimulo valioso. Por outro lado a presença da diferença é também bastante positiva para os outros, ajuda-os a serem seres humanos mais completos.
Dito isto, que me parece bastante válido para os graus ligeiros de moderados de deficiência (como é o caso da maior parte das T21) não tenho tantas certezas das vantagens no caso de deficiências profundas (como muitos autismos por exemplo), nesse caso, a integração poderá ser mais prejudicial para eles e para os outros.