... estamos resumidos ao que Deus nos deu. Sol, oliveiras,carapaus e vinhas. É obsceno - mas de uma monumental honestidade - culpar os portugueses de se terem esquecido das pescas, da agricultura e das fábricas que tanto forneciam o mercado interno como exportavam.
Foi Cavaco, embalado pelas miragens europeias, que levou a esse esquecimento. Foram os transigentes nas pescas e na agricultura, a troco de euros, que pagaram aos pescadores e aos lavradores para não pescarem nem lavrarem. Quando o economista doutorado em York nos incita a virarmo-nos para os nossos recursos naturais, é razão para nos preocuparmos.
Portugal está a ser devolvido à geografia, ao clima e ao povo. Estamos a ser devolvido pré-historicamente à nossa sorte. Perdida. Perdemos o nosso futuro.
MEC, hoje no Público
5 comentários:
Apesar de eu não compartilhar o tom e a conclusão pessimista do MEC, chamo a vossa atenção para os arquivos e os comentários acessíveis através deste ligação.
Eles complementam este post do Sr. Joaquim.
Pf, prestem atenção especial aos testemunhos deixados por Zephyrus.
http://lnk.nu/portadaloja.blogspot.fr/28rd.html
Caro José,
Obrigado, já fui ver.
"Domina ou cala. Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias? Goza
Bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido."
Ricardo Reis, in "Odes"
Não tenho procuração do Presidente da Républica para o defender, mas como felizmente apesar de sexagenário, ainda tenho boa memória, convém colocar as coisas no seu lugar.
Alguem se lembra o que era a economia portuguesa em 1985? As grandes industrias, CUF, Siderurgia, construção naval, etc tinham sido destruidas pelo PREC e o que restava estava nacionalizado, assim como a banca e os seguros; a agricultura do Alentejo, e de parte do Ribatajo estava ocupada pela "reforma agrária", e no centro e norte tinhamos o minifundio das duas vacas e das leiras das couves e das batatas. A fruta que produziamos era de má qualidade em termos europeus, e 90% do vinho era produzido em Adegas cooperativas e praticamente todo vendido a granel . Em relação às pescas, o governo do Bloco Central deixou cá entrar os arrastões espanhóis, que fizeram o que quiseram.
O que é que restava? restavam alguma fabricas texteis no norte, sendo que algumas como a Manuel Gonçalves esteve anos ocupada pelos comunistas. Tinhamos uma inflação nos dois digitos, os juros eram superiores a 3o% e pagos à cabeça, e quase 400 mil trabalhadores com salários em atraso.
Foi este "paraíso" que Cavaco Silva é acusado de ter destruido. Cometeu talvez o erro de ter antecipado o fim do periodo de transição em três anos para alguns produtos agricolas e para as pescas a troco de 150 milhões de contos. Mas limitou-se a antecipar o que seria inevitavel mais cedo ou mais tarde.
Mas dando de barato que foi verdade que os seus governos destruiram a economia portuguesa. Que diabo: então os socialistas não tiveram quinze anos para corrigir os erros do cavaquismo? ou só tiveram tempo para aumentar as despesas do estado para valores estratosfericos e deixar uma divida publica que as netas do Dr Arroja é que hão-de pagar? E ninguem fala do Guterres, e da responsabilidade que ele tem em tudo o que se está a passar? os seus governos foram sete anos de felicidade?
Os portugueses gostam muito de "ódiozinhos de estimação": Cavaco é um deles. Mas eu sei quando é que esta ódiozinho começou: foi no dia em que Cavaco Silva disse que se os portugueses queriam chegar a ter indices de desenvolvimento europeus,tinham de trabalhar muito mais. Nesse dia estragou tudo, e o Mário Soares (que gajo porreiro!!!)veio logo responder com o "direito à indignação".
Cavaco Silva cometeu na minha opinião um enorme erro politico: foi em 1992/93, quando Soares começou a falar do Portugal dos pobres e o PS estava feito em cacos, ele não lhe ter apresentado a demissão e ter deixado o então PR com o menino nos braços. Mas há gestos que só estão ao alcance de grandes Homens de Estado e Cavaco Silva, infelizmente não chega a sê-lo.
Também é obsceno culpar os portugueses da dívida e da despesa pública.
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