Desde
há já vários anos que o problema da humanização dos cuidados de saúde começou a
preocupar as sociedades mais desenvolvidas.
E
isto porque começou a ser patente que de uma "medicina do tratar", dotada
de muito pouca tecnologia e baseada essencialmente na relação humana entre o
doente e o médico se tinha passado a uma "medicina do curar" em que a
análise, o exame instrumental, a tecnologia de ponta substituíam cada vez mais
essa antiga e essencial relação humana.
A
Medicina ganhava assim cada vez mais eficácia e capacidade de cura sobre
doenças até então incuráveis, acrescentando anos à vida, mas correndo o risco
de deixar de considerar o doente como um semelhante pedindo ajuda, mas apenas
como um portador de uma doença que tinha que ser curada.
E
se do lado dos prestadores, nos seus centros médicos, hospitais e consultórios,
o poder científico e técnico, a capacidade de intervenção e a permanente aposta
de vencer a doença a todo o preço, fazia diminuir perigosamente a capacidade de
diálogo com o doente, como ser em sofrimento, necessitando de ajuda, pelo lado
da sociedade, do homem comum, aumentava a confiança nesse poder médico, às
vezes até desmedidamente, mas ao mesmo tempo aumentava também o medo a esse
universo técnico poderoso e desconhecido e a desconfiança para com os
profissionais de saúde que apenas tratavam a sua doença.
Acrescentemos
a tudo isto a massificação dos cuidados médicos, a vulgarização do Hospital, do
Centro de Saúde, do dispensário, o contacto permanente e intenso entre estes
dois interlocutores em crise de entendimento e teremos razões suficientes para
explicarem a desumanização que permanentemente ameaça os serviços de saúde.
Desumanização
que se encontra nos utilizadores que os frequentam, muitas vezes com medo e
falta de confiança, mas ao mesmo tempo com a exigência da cura da sua doença,
do alívio do seu sintoma, porque “a saúde é um direito e os serviços existem
para me satisfazerem esse direito”.
E
nos prestadores, que tratam os doentes como anónimos portadores de uma doença
ou de uma patologia que seria muito melhor tratada se fosse possível isolá-la
do seu portador, se fosse possível não aturar o ser queixoso que dela padece.
Contra
esta desumanização que sorrateiramente foi invadindo os serviços médicos desde
que foi aumentando a sua capacidade de intervenção, foram-se levantando os
espíritos mais inquietos e preocupados.
E
em todo o mundo começaram a surgir os movimentos de humanização dos serviços de
saúde e de apoio aos seus doentes e clientes, tentando tornar mais humanos e
acolhedores os ambientes dos serviços, recebendo os doentes, orientando-os e
apoiando-os nos circuitos burocráticos e em todas as situações, tão frequentes,
de medo, isolamento e dor.
Movimentos
quase sempre voluntários e não profissionalizados, Ligas de Amigos revestindo
diversas formas de organização e de actuação, todas elas convergindo no entanto
para os mesmos fins e mesmos objectivos: Criar um clima de humana compreensão e
de delicado e civilizado entendimento entre os profissionais de saúde nos seus
locais de trabalho e a população que os procura, especialmente os doentes.
Para
que a "úlcera da cama oito" seja substituída pelo "doente Sr.
Martins", para que a doença seja curada, mas o doente seja também sempre
tratado.
Por
isso os profissionais de saúde, sobretudo médicos e enfermeiros, têm que considerar
a delicadeza, simpatia e disponibilidade face aos doentes como qualidades
essenciais, não menos importantes que a capacidade profissional
Trata-se
de um comportamento que tem que ser exigido a todos os profissionais que lidam com doentes e que
o Voluntariado não pode substituir e muito menos corrigir.
3 comentários:
não leve a mal , mas adorava saber quanto custa , em percentagem de salário mínimo , uma consulta de especialidade na alemanha , na suécia ou na inglaterra. em portugal é prái entre um quarto e um quinto , uma roubalheira.
e essa coisa de acedermos a um hospital rapidamente , sem lista de espera , após a consulta privada do médico que trabalha no hospital...uma vergonha.
A questão chave da humanização dos cuidados há décadas que está no core da preocupação dos mèdicos e enfermeiros. O voluntariado não pode substituir esta competência clínica no contexto das ligações interpessoais de relação e de cuidado á pessoa com doença. Concordo em absoluto que tem d eexistir uma formação básica e pós graduada nesta área. Sobretudo poque sabmos que os jovens que hoje entram nas faculdades de medicinasão alunos brilhantes mas com muitas lacunas de competências sociais, comunicacionais e de relação pessoal. O treino de competências comunicacionais e relacionais básicas devia ser tão importante como o ensino de anatomia.
No entanto, a gentileza, a competência relacional e o cuidado holístico não dependem apenas dos cuidadores. Dependem também do recursos disponíveis e da organização hospitalar, da cultura institucional de cada serviço e dos estilos de liderança. Se a preocupação for apenas economicista ou de redução de custos, esta dimensão fulcral da humanização dos cuidados desaparece.
Este é um recado para o PA. So papa himself;
"O papa Bento XVI pediu hoje que em tempos de crise económica se evite pensar na saúde como uma mercadoria, temendo que esta se torne num direito de apenas alguns.
Numa mensagem dirigida aos membros do Conselho Pontifício dos trabalhadores de saúde, hoje recebidos em audiência papal, citada pela agência Efe, Bento XVI mostrou assim preocupação relativamente aos tempos de crise económica, que estão a levar “à diminuição de recursos disponíveis para o setor da saúde”.
O papa exortou assim os hospitais e as estruturas de assistência que evitem que “a saúde deixe de ser um bem universal, que se deve assegurar e defender, para passar a ser uma mera mercadoria, sujeita às leis do mercado e reservado apenas a alguns”.
Nem mais.
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