18 outubro 2012

um cachecol de Portugal


“Permita-me chorar, odiar este país por minutos que sejam, por não me permitir viver no meu país, trabalhar no meu país, envelhecer no meu país. Permita-me sentir falta do cheiro a mar, do sol, da comida, dos campos da minha aldeia”, lê-se. 
Em entrevista à Lusa, Pedro Marques conta que vai ser enfermeiro num hospital público de Northampton, a 100 quilómetros de Londres, que vai ganhar cerca de 2000 euros por mês com condições de progressão na carreira, mas diz também que parte triste por “abandonar Portugal” e a “família”. 
Na mala, Pedro vai levar a bandeira de Portugal, ao pescoço leva um cachecol de Portugal e como companhia leva mais 24 amigos que emigram no mesmo dia 
Mónica Ascensão, enfermeira de 21 anos, é uma das companheiras de Pedro na diáspora.
Na Maria No Público

Comentário: Se eu tivesse 22 anos e estivesse na situação do Pedro, eu até pagava para ir trabalhar para Northampton, na companhia da Mónica de 21 anos.
Estes jovens não são emigrantes, no sentido clássico do termo. Estão a dar os primeiros passos nas suas carreiras profissionais e só têm a beneficiar com o contacto com outras culturas.
É uma pena que o Público se tenha abandalhado tanto. Como é que se pode falar de diáspora dentro da UE? Estará tudo louco?

25 comentários:

Anónimo disse...

Caro Joaquim,

Começo por agradecer a partilha continua que faz aqui no blog que, na quase ausência de RA e do JM, é o único e exclusivo motivo que leva a este blog.

Como emigrante que sou, o tema da "nova vaga de emigração" e as perguntas sobre o meu processo de emigração (e não expatriação, no meu caso) são uma constante. A minha resposta é aproximadamente a mesma que aqui dá. Que a maioria da emigração de hoje, é simples mobilidade de trabalho dentro do verdadeiro mercado único. Para quem é do Porto, entre ir trabalhar para Lisboa, ou ir trabalhar para Madrid, ao fim de algum tempo, pouco difere. Ou melhor, difere nas perspectivas de evolução que podem ser (eram?)inclusive melhores.

O argumento da de que esta vaga é de emigração qualificada, em oposição ao que se passava antes, também não tem tracção. Hoje o ensino superior é quase dado. O problema é que a maioria dos cursos superiores administrados são hoje o equivalente ao liceu de há 30 anos atrás.

Aquilo com que eu me cruzo de realmente diferente na emigração de hoje, e representativo da crise que se vive, são os emigrantes de um determinado extracto social médio que seria impensável encontrar antes. Eles têm tipicamente entre 35 e 45, são quadros técnicos que levam com eles as suas famílias muitas vezes instalando-se em condições algo precárias... num "tudo ou nada" arrepiante.

Abraço e obrigado

AAS

Anónimo disse...

Caro AAS,

Obrigado pelo seu comentário.

José Lopes da Silva disse...

Essa história prova que, no geral, os portugueses gostam mesmo de Portugal. Até se dão ao trabalho de escrever ao dr. Cavaco.

Luís Lavoura disse...

Totalmente de acordo com o Joaquim.
Bem-aventurados estes jovens que podem emigrar, que conseguem arranjar emprego estável e com futuro no estrangeiro, num país onde são bem pagos e onde se vive melhor que cá.
Deviam estar a bem dizer da sua sorte.
Nós todos só temos que os aplaudir pelo seu sucesso.

Bmonteiro disse...

Evidente, está tudo louco.
Não de agora, que a teta acabou, mas das últimas brilhantes três décadas.
Sob o domínio de sobas reformados, instalados no palácio de Belém e no circo de S. Bento, Cavaco & Assunção SA Lda,
passando pela secção de Economia do Tribunal Constitucional,
que esperavam?
Quanto aos novos emigrantes, secedem-se ás levas dos anos 60/70.
Nada de novo na frente doméstica.

João André disse...

Também sou emigrante. Há já 10 anos. Não saí por falta de trabalho. Talvez me faltasse hoje, caso tivesse permanecido em Portugal, mas na altura estava bem. Saí, pura e simplesmente, porque em Portugal não tinha condições para gostar do meu trabalho, com patrões com 4ª classe, corruptos e que fugiam aos impostos ao mesmo tempo que me dirigiam um desdenhoso "deixe lá isso engenheiro..." quando propunha tentar optimizar algum processo.

Sair do país pode ser, de facto, a primeira etapa num percurso profissional. Mas apenas e só se for esse o desejo. Tive vários colegas que me disseram, olhos nos olhos, que achavam que eu tinha feito muito bem, que se pudessem faziam o mesmo. O não poderem teve pouco a ver com oportunidades: apenas e só com o não serem capazes de abandonar o país, a família, os amigos, etc.

Note-se que ir para a Inglaterra pode soar a simples. Saberemos a língua, vimos os filmes e séries, a coisa deve ser simples. Certo? Errado. A cultura é diferente, as atitudes também. A falta de sol vai moendo. E isto num país relativamente conhecido. Tente agora ir para países dos quais conhece pouco. Experimente a Alemanha ou Áustria. A Holanda ou a Dinamarca. É tudo o mesmo? Não, nem por sombras. A língua é apenas o primeiro obstáculo numa Europa mais diversa do que o que poderá imaginar da sua secretária a ver o google maps.

Sair do país é um acto de coragem e cobardia. É um motiveo de orgulho e de vergonha. Faz-nos felizes e dói. Sair por vontade própria ajuda (foi o meu caso) mas não elimina os sintomas. Sair porque não há alternativas agrava-os. Pior ainda quando nada se fez para essa falta de alternativas.

Quando não se conhece a realidade, o melhor é estar calado.

Anónimo disse...

Caro João André,

Eu passei quase uma década nos EUA, em Nova Iorque. Quer cultura mais diferente da nossa?
O PA tb passou muito tempo no Canadá.
Estas experiência são muito importantes. São até necessárias para o processo de amadurecimento.

Luís Lavoura disse...

Sair do país é um acto de coragem e cobardia. É um motivo de orgulho e de vergonha. Faz-nos felizes e dói.

Eu fui cinco anos emigrante (dois na Alemanha e três na Pensilvânia). Nunca considerei que fosse cobardia sair de Portugal, muito pelo contrário. Nunca tive vergonha de o ter feito, muito pelo contrário. E nunca me doeu ter saído, pelo contrário, o que me doeu, e muito, foi ter que voltar para Portugal.

Se pudesse, teria ficado lá fora toda a vida. Não tenho pena nenhuma dos emigrantes, tenho pena é daqueles que, como eu, são forçados (por motivos vários que não interessa aqui enunciar) a ficar em, ou a regressar a, Portugal.

Luís Lavoura disse...

A falta de sol vai moendo.

Em todos os países há sol. O que é preciso é aproveitá-lo quando o há.

Não há praia, mas há relvados. Eu na Alemanha, quando havia sol ao fim de semana (o que não era raro), ia estirar-me, só em calções, num relvado perto de minha casa.

E isto num país relativamente conhecido. Tente agora ir para países dos quais conhece pouco. Experimente a Alemanha ou Áustria.

Eu experimentei e dei-me muitíssimo bem. Os alemães são europeus como nós. Têm, essencialmente, a mesma forma de ver o mundo que nós. É muito melhor ser-se emigrante na Alemanha do que, por exemplo, nos EUA, uma vez que as culturas são mais próximas. A língua é apenas uma barreira, que se ultrapassa.

zazie disse...

Estar 5 anos a estudar no estrangeiro não é ser-se emigrante.

São apenas umas férias alargadas.

zazie disse...

Ainda por cima em Ciência- ficam fechados a tudo o resto e nem falam de mais nada.

O meu pimpolho está há cerca de 12 anos fora e nos 4 que esteve apenas a estudar, reconhece ele agora que nunca se apercebeu de nada.

E, é claro que se pudesse voltar mais cedo, voltava.

zazie disse...

4 anos entre Cambridge, Oxford e Lyon, a fazer teses dá apenas para conhecer os computadores e muito mal até os colegas.

zazie disse...

é preciso entrar no mundo do trabalho, sem ser o académico- que são outras torres de marfim-, para se aperceber as diferenças e sentir o efeito de ser emigrante

Hugo Monteiro disse...

E alguém vai ter de explicar a esta mocidade que o Presidente da República não "cria impostos".

zazie disse...

Enganei-me: vive há 14 fora de Portugal.

Atento disse...

Como é fácil falar de barriga cheia.

A emigração é o espelho da falência de um país.

A continuar assim seremos um país de velhos e políticos...

Um benefício como alguns dizem...

CCz disse...

O Pedro será mormon ou adepto do free-love?

"uma das companheiras de Pedro"

Msc A disse...

De acordo ainda com o João André. Qualquer saída e adequação da vida num novo meio, ainda para mais se implicar nova cultura, é repleta de obstáculos e incontáveis hidden costs.

Independentemente de enriquecer material e moralmente, custa sempre.

Mas questão aqui é que a realidade do mercado de trabalho mudou. Estamos numa União Europeia, e quer queiramos ou não, existem múltiplas implicações, e obrigam a repensar o modelo de vida.

Já agora... dois outros apontamentos:
Se tentar mudar-se de Nova York para o Mid-West, o choque cultural pode ser mais forte do que de Lisboa para Berlim. No entanto, nunca será visto como emigração.

E... já agora, acredite que no Porto chove muitíssimo mais do que em Lisboa!

AAS

Luís Lavoura disse...

zazie,

não estive no estrangeiro a estudar. Estive a trabalhar. Em empregos pagos (pelos estrangeiros), embora temporários.

Anónimo disse...

Zazie,

Se o seu filho foi para fora com 17 anos e já lá está há 14, tem pelo menos 31 anos.
Se o tivesse tido com 20, isso coloca-a imediatamente acima dos 50.
Isto é, uma matriarca que eu devia escutar mais. É que há uma coisa chamada experiência de vida.

Ramos disse...

Privilégio é privilégio. Ele próprio o diz:

"Como posso explicar à minha sobrinha que tem um ano que eu a amo, mas que não posso estar junto dela? Como posso justificar a minha ausência? Como posso dizer adeus aos meus avós, aos meus tios, ao meu pai? Eles criaram, fizeram-me um Homem. Sou sem dúvida um privilegiado. Ainda consigo ter dinheiro para emigrar, o que não é para todos. Sou educado, tenho objetivos, tenho valores. Sou um privilegiado.
E é por isso que lhe faço um último pedido. Por favor, não crie um imposto sobre as lágrimas e muito menos sobre a saudade."

Markus disse...

Aposto que defende a emigração morria se tivesse de emigrar.

SOS CLIENTS VW disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José** disse...

> Embora haja adversidade em todos lugares, não devemos ignorar o pernicioso racismo que os trabalhadores portugueses podem encontrar fora do rectângulo.

> Obviamente, emigrar no meio académico não é equivalente a emigração económica.

> Como no caso do jovem enfermeiro, sair do pais com contrato negociado desde Portugal não é a mesma coisa que ir là fora a ventura sem contactos sérios.

> O portugueses do exterior, às vezes, podem mostrar um espirito de solidariedade pouco católico.

> No estrangeiro, as possibilidades de ensino em português as crianças de emigrantes são inexistente ou sem relação com a metrópole (como os casos dos Lycées Français). Isso corta o vínculo com as origens e é uma perda humana que não deve ser negligenciada.

> Por terminar, a tradição era migrar para o hemisfério sul e as terras portuguesas. Era outro destino que a Europa do Norte...

zazie disse...

ehehehe

Seu malandro de Birgolino.

Pois se já falámos de cenas antes do 25 de Abril, devia ter percebido que o meu filho não foi nada aos 17

":OP

( sou um niquinho mais nova, mas tão pardaloca quanto v)