O Futuro desejado
Quando andava na instrução primária, nos anos quarenta, os meus colegas da
aldeia andavam descalços ou de chulipas de madeira que uma tira de couro
segurava ao pé nu e calejado.
As mulheres, quando no fim da festa da paróquia, regressavam a casa, tiravam
os sapatos ou as chinelas que punham à cabeça, para irem mais depressa e mais à
vontade.
Hábitos de pobreza e adaptação à
miséria que, uma vez perdidos, nunca mais se voltarão a suportar.
Ninguém que andou descalço tem agora pés que tal suportem.
O mesmo sucede com tudo que se foi abandonando ou perdendo ao longo dos
tempos e que desapareceu para sempre como possibilidade de regresso.
Por isso, quando ouço dizer que temos que passar a viver de acordo com as
nossas curtas possibilidades de pobres, sei bem que nunca deixaremos de exigir
viver sem perda dos benefícios, comodidades, trabalho e segurança que sempre os políticos da
democracia nos prometeram.
O futuro é, para todos, cidadãos e partidos, esquerda e direita, o
desenvolvimento da nossa economia: é a construção da sociedade rica e protegida
que nos foi prometida e de que tivemos suficiente conhecimento para expulsar
das nossas memórias os tempos do pé descalço.
Voltar ao escudo? Nem pensar
Reduzir a protecção social? Era o
que faltava…
O que todos queremos é um desenvolvimento que não pare, que nos dê
dinheiro, emprego e proteção, que nos iguale aos países ricos
Os políticos prometeram. Que cumpram!
A “troika” deu a receita? Que os resultados apareçam.
Depressa!
Mesmo que o desenvolvimento constante que os poderes prometem e nós
desejamos seja um suicídio queremos que a crise passe para
voltarmos ao antes da crise em direcção… à crise maior!
30-10-2012
Paulo Mendo
16 comentários:
Boa estreia Dr. Paulo Mendo. A sua presença valoriza o blog.
Miguel A. Baptista
Em letra maior que os outros e tudo... já tomou o blogue de assalto!... é assim mesmo...
E eu achar que não é necessário assinar e colocar a data no corpo do texto... -- JRF
Ah. E o título, convinha estar no *título do post*... -- JRF
ehehe
Em relação ao post, pode-se apenas perguntar.
Se esta inevitabilidade (que ninguém explica de onde caiu ou como se impõe, como inevitável), é assim em clima de paz, o que seria se houvesse guerra.
E já vivemos tempos de guerra sem que o horizonte se apresentasse como algo de retrocesso obrigatório, porque sim.
Porque parece que até os triunfalistas da riqueza global para toda a gente, perderam a imaginação para inventarem mais coisas e acham que o mercado já está saturado.
É um tipo de cinismo que curto desmontar com os Four Yorkshiremen, dos Monty Python.
Com onze letrinhas apenas se escreve a palavra "necessidade".
C.E.P
Assustador este texto.
lucklucky
assustador, sem dúvida
só a gritaria que o texto exala
porque é que não fala (escreve) com o mesmo tom (tamanho) de voz (letra) que os outros?
Os "problemas" de Paulo Mendo com a tecnologia do blog não são nada quando comparadas com os problemas que o actual ministro da educação, Nuno Crato, tem com os computadores. LOL
PS - Não sei mas esta mensagem não ficou publicada há pouco. Aqui vai agora.
Em qualquer dos casos considero isso um pormenor sem qualquer importância e, aliás, de resolução muito simples.
O importante é o conteúdo, não a forma.
Mas parece que a alguns dos comentadores anteriores a forma é muito mais importante do que o conteúdo.
Para ti também, uma vez que apenas dizes isso e nem justificas com qualquer argumento.
Qual foi o conteúdo do post que te agradou tanto e porquê?
O conteúdo também se espelhou na forma- foi cinismo exuberante.
Tão exuberante que se boldou todo e terminou com ponto de exclamação.
"Mas parece que a alguns dos comentadores anteriores a forma é muito mais importante do que o conteúdo."
Com assustador estava a apontar o contraste entre a maior parte do texto e depois o último parágrafo. É um bom ponto.
Não fiz crítica ao formato, letra etc.
lucklucky
Este post está confuso e eu própria caí no engano.
É melhor ler-se esta entrevista ao autor:
http://apontamentos.blogspot.pt/2011/11/paulo-mendo-entrevista-131111.html
Eu não me referia a si, lucklucky. ;)
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