26 setembro 2012

na direcção oposta

Uma família sai de Coimbra para Lisboa, mas em vez de tomar a direcção Sul vira para Norte. O pai, ao volante, lá segue muito determinado pela A1, mas, obviamente, a afastar-se do seu destino final. O Zéquinha, o puto mais reguila, a certa altura exclama: ‹‹Ó pai, tu estás a ir é pró Porto››. ‹‹Tá calado que não tens carta de condução››, respondeu-lhe o pai. Lá prosseguiram no erro até que tudo se esclareceu... o pai, chegados à Mealhada, parou no Pedro do Leitões, voltou-se para a família e disse: ‹‹ Vamos aqui encher a mula que a viagem para Lisboa é extenuante e quando chegarmos... chegamos››.
...
Se me permitem esta metáfora, o mesmo se está a passar em Portugal com a estratégia económica que o governo está a prosseguir: vai na direcção exactamente oposta à que devia ir. Em vez de nos conduzir a um equilíbrio orçamental, o governo está a conduzir-nos a uma espiral recessiva que nos afasta do objectivo inicial.
Está na cara que é assim. Sobra apenas uma pergunta: quem é que vai ao volante e onde é que vão encher a mula?
O únicos leitões quentinhos e estaladiços que eu vejo são as privatizações, a começar pela CGD. Será?

8 comentários:

Anónimo disse...

Um fenómeno curioso desta espiral recessiva é que parece existir:

- inflação nos alimentos, energia em geral e telecomunicações;

- mas, por outro lado, parece-me que estamos a assistir a deflação no imobiliário (venda e arrendamento) e, sobretudo, na generalidade dos serviços prestados ao mercado interno.

Alguém mais tem esta percepção empírica? Ou estarei completamente errado?

Caso esteja certo, existe alguma explicação para este fenómeno e, sobretudo, ele poderá ser premonitório de deflação tipo Japão, hiper-inflação ou algum outro cenário?

Obrigado a quem souber responder.

Luís Lavoura disse...

onde é que vão encher a mula?

Não devem certamente ir à Mealhada, que é de toda a Bairrada o sítio onde os leitões são mais caros.

O mesmo leitão pode ser saboreado na Anadia ou em Oliveira do Bairro a um preço bem mais em conta.

Euro2cent disse...

> um preço bem mais em conta

Suponhamos que a conta é paga com cartão "de empresa" (não sai do bolso do comedor).

Suponhamos também que esse cartão tem um esquema de "recompensas" proporcional ao gasto efectuado, recompensa essa que beneficia o comedor não pagador.

Explica muita coisa.

Anónimo disse...

Inflação v. deflação!!! Fácil. Lei da oferta e da procura. Temos demasiado imobiliário para vender: os preços baixam. Temos pouca energia, pouca comida e um mercado de telecomunicações fechado e blindado: os preços sobem. Acresce que são mercadorias e serviços de primeira necessidade e elevada rotatividade!...
Isto só significa que, muito naturalmente, as pessoas sabem tomar decisões de consumo racionais. A necessidade obriga!...

Anónimo disse...

Encher a mula c/ leitões quentinhos e estaladiços é na casa de pasto das PPP's

Anónimo disse...

"Alguém mais tem esta percepção empírica? Ou estarei completamente errado?"

Nos serviços - normalmente não sujeitos a concorrência externa - existe uma enorme pressão deflacionista.
Os bens transaccionáveis estão sujeitos a cotações internacionais.
Aí sim existe uma pressão inflacionista.
É apenas uma explicação simplista mas fundamental.
Tema muito interessante.

D. Costa

Anónimo disse...

"Nos serviços - normalmente não sujeitos a concorrência externa - existe uma enorme pressão deflacionista."

É precisamente essa a minha constatação empírica nos últimos anos.a

Numa primeira fase algumas empresas (de serviços para o mercado interno) a manterem os preços inalterados apesar da inflação.

E, mais recentemente, a baixarem os preços significativamente.

Mas, como em muitos casos são promoções, etc tenho dúvidas se o cabaz do INE (que mede a inflação) capta com rigor este fenómeno.

Anónimo disse...

Na questão da inflação/deflação há também os fenómenos monetários.
O intervencionismo dos bancos centrais alteram diariamente todos os dados da equação.

Quanto ao INE concordo. É um organismo do estado. Não vale a pena perder tempo com isso.
O simples facto de haver uma quebra de rendimento na população portuguesa (via deflação salarial) é por si só um factor de aumento da inflação - ou perda do poder de compra.

D. Costa