24 setembro 2012

muitas cigarras e poucas formigas

À latitude a que nos encontramos a sobrevivência é fácil. A terra é generosa, o mar é abundante e o clima é ameno. Em Portugal sobrevive-se com muito pouco, um caldo verde, broa a sair do forno, umas sardinhas assadas, cebolas, azeitonas e um copo de vinho, é tudo quanto precisamos.
As tribos que se sedentarizaram por cá não necessitaram, portanto, de investir demasiado tempo com o problema da sobrevivência. Tiveram é que se defender dos bárbaros que invejavam a nossa sorte.
Os “senhores da guerra” lideraram essa defesa do território, garantindo a uma população submissa (elevado Índice de Distância ao Poder) a tranquilidade necessária para desfrutar da qualidade de vida (baixo Índice de Masculinidade) que o meio ambiente lhe proporcionava.
O indígena ficou com tempo livre para se dedicar à família, para “dar uns chutos na bola” e ainda para se rebolar na areia das muitas e maravilhosas praias que temos.
Os portugueses não são preguiçosos, mas apreciam tirar tempo livre para o convívio e até para o lazer. Não somos como a cigarra, mas também não queremos ser formiguinhas. Nem precisamos de ser, porque vivemos numa espécie de paraíso na Terra.
Quando o Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, afirma que Portugal não pode ser ‹‹um país de muitas cigarras e poucas formigas››, está a cometer um erro. Em primeiro lugar porque não somos ‹‹um país de muitas cigarras›› e, em segundo lugar, porque não queremos ser ‹‹um país de muitas formigas››.
Queremos ser quem somos.


7 comentários:

Pedro Sá disse...

Exacto. Contudo, este Governo tem na cabeça uma perigosa ideia de criação de um "homem novo", um workaholic doente.

Anónimo disse...

Serei eu o unico que me lembro do Joaquim a dizer que se trabalhava pouco em Portugal, que na Alemanha e nos EUA, etc etc...

Elaites

Anónimo disse...

Caro Elaites,
De facto trabalha-se pouco em Portugal, mas os portugueses não querem trabalhar mais.
Eis o problema.

Anónimo disse...

Penso que não se trabalha pouco em Portugal. A organização do trabalho é que é deficiente.

Anónimo disse...

Joaquim,
Tudo certo mas não podemos é querer ser quem somos mas ter casas, carros, plamas e férias nas Caraíbas comprados a crédito e pago pelas formigas do Norte.
Para sardinhas, broa e copo de vinho nós cá nos safamos. Mas quando queremos (muito) mais do que isso temos mesmo que arregaçar as mangas...
Cump.
Lopes

Lionheart disse...

Não há problema em trabalhar menos, mas então não se pode pensar que se pode ter o PIB per capita das "cigarras". Se Portugal for um país de remediados, se calhar tem melhor qualidade de vida que os outros, mas de certeza que não pode ter o nível de consumo dos alemães, nem um Estado social semelhante. Temos é mais olhos que barriga.

Os portugueses sujeitam-se a trabalhar mais lá fora, porque ganham muito mais. Mas colectivamente cá também não ganham mais cá porque não querem trabalhar como lá fora. Pescadinha-de-rabo-na-boca. Lá por estarmos no Euro não haverá convergência salarial se Portugal não enriquecer. É mais uma ilusão propagada pela nossa classe política.

Além disso, o país sujeita-se a experimentalismos impostos de fora porque também não soube decidir que soluções eram mais adequadas para que a sua economia fosse mais produtiva, de modo a não ser um peso para os outros. Foi preciso o escândalo por causa da TSU para que outros se dispusessem a apresentar alternativas, como se o problema fosse a TSU.

Bmonteiro disse...

Qué isto? de os portugueses não trabalharem, nem gostarem de?
Tipos de um governo a dizer destas bacoradas, deviam ser levados para a frente de um espelho.
Talvez fossem assim capazes de se ver a si próprios
e aos democraques* que os antecedem há trinta anos.
Não há pachorra.
*Democraques, um misto de craques e democratas.