Death is a beautiful woman, always by my side. She’ll kiss me one day, I know. She’s a companion who reminds me not to postpone anything — ‘Do it now, do it now, do it now.’ Her voice is not threatening, just constant. It tells me what matters is not how long I live, but how I live.
Paulo Coelho, no Spectator
29 comentários:
Devíamos ler este mantra "o que importa é como vivemos" todos os dias.Obrigada Dr Joaquim por nos lembrar disso!
Bem, não sei se um paraplégico concordaria...
É das tais coisas- o "mundo como representação" Cada um lhe atribui os valores e sentido que quer.
Este Coelho vende assim e pensa curto.
A vida é bela, como diria o anti-heroi do Benini
De outro modo tínhamos de perguntar quem julga e quem atribuiu o tal valor da forma como se vive, em oposição ao ir vivendo.
Ninguém. Felizmente. O nazismo é que achou a considerar que um bom médico, ao abrigo da "qualidade de vida dos cidadãos" e do seu valor social, poderia decidir e seriá-los.
chegou a considerar.
De qualquer modo, a mensagem é a do curto-prazismo que o Joaquim tanto critica...
Né?
Olá Zazie,
Não interpretei como uma mensagem "carpe diem". Podemos decidir iniciar hoje um projecto de longo prazo. Aliás foi o que fez o Paulo Coelho. Escrever um romance não é uma tarefa de curto prazo, digo eu.
Esse tolinho não escreve, borra.
A mensagem é que é melhor não protelar o presente porque a morte espreita.
E depois lá acrescenta aquela frase à Mafaldinha, que é melhor viver que durar.
Agora pense: essa ideia pode justificar plenamente aquilo que v. diz que é perigoso- um pobre ir atrás de crédito fácil e não ficar à espera eternamente de vir a ser rico para viver com mais qualidade.
A pulsão vital é uma coisa muito grande.
Mas, a qualidade ou valores que determinam o que é a vida, é outra representação (como dizia o Schopenhauer, ainda maior).
Foi mais ou menos isto que lhe respondi.
Outra coisa- a morte não ensina nada. Não diz nada. Nem poderia ser a morte que dizia que o que importa não é quanto tempo se vive mas como se vive.
E foi por isso que me lembrei da Vida Bela do Benini.
Inventa-se a vida e os valores. Precisamente porque o mundo não é a tal realidade objectiva a régua e esquadro e muito menos seria o que não é vida que poderia estimular pulsões vitais.
Se quiser falar disto como médico, numa boa. Porque até tenho um caso próximo que observo.
É um caso em que a demência consegue inventar a vida e não há pena nem dor nem sofrimento pela forma "objectiva" em que vive.
Penso no assunto porque o que veja ali é que a nossa cabeça, mesmo doente, consegue truques enormes de adaptação e sobrevivência.
Se for preciso, inventa o mundo.
Se for preciso, inventa o mundo.
Não é "se for preciso" , é sempre. Os desenvolvimentos em neurociência dos últimos anos, particularmente desde que se começou a encarar esse estudo de uma perspectiva multi-disciplinar, sobretudo com contribuições da área de Inteligência Artificial, sugerem que essa representação ocorre a todo o momento.
Poder-se-ia dizer até, e já sei que isto vai levantar polémica, que a consciência é um produto dessa representação.
Posto de outra forma, nós não vemos o mundo tal como ele é, mas como nós (o nosso cérebro e a nossa mente) o representamos.
A mente seria uma espécie de software do hardware que seria o cérebro. Existe necessariamente causalidade entre um e outro, mas nos dois sentidos e com uma expressão extremamente complexa. Essa complexidade não pode ser compreendida na totalidade sem se considerar o sistema cérebro-mente no seu todo.
É um assunto fascinante.
Neste caso, os aspectos que me fascinam dizem respeito ao modo como a personalidade da pessoa não se perde totalmente, mesmo perdendo a consciência de quase tudo.
Mesmo inventando o tal mundo, há variâncias que mudam de pessoa para pessoa. E essas parece que mantêm lá a matriz.
Depois há outros aspectos que os defensores da eutanásia deviam ser obrigados a conhecer.
Por exemplo- essa questão do "durar" ou da "qualidade de vida" é coisa que não se pode atribuir por quem está de fora nem de acordo com nenhum estandartização de "felicidade".
Mais, os remédios também nada têm a ver com isso. Mas as sensações sim. A ligação aos mais simples prazeres que são Natureza e vida devem te ter um papel extraordinário no nosso equilíbrio.
Mas os médicos não estudam isto. Nem acreditam. Agora até apenas se lembram de fazer política de cortes de acordo com a idade do paciente.
Por exemplo- neste caso com que lido de próximo- é impossível falar-se em separação entre o que é racional e irracional; o que é consciente e inconsciente. Porque a imaginação é mil vezes maior.
E, em entrando a loucura, essa imaginação parece que se torna pulsão vital de sobrevivência.
Lembro-me do S. João da Cruz a inventar as delícias estéticas do mundo, fechado numa cela.
Outra coisa- a loucura não leva a dignidade.
O que mais curto observar é como ela, mesmo louca, corre com todos os estranhos, dizendo: "xô, esta gentalha toda daqui para fora"!
Mato-me a rir. E às vezes penso que sou capaz de ficar também assim.
":O)))))
Porque ela nunca se queixa- arranja sempre culpados e dá ordens mesmo estando completamente dependente
eheheheheh
E chama palermas a todos, incluindo a mim
ahahahahahahaha
Eu pergunto-lhe: então, como tens estado. E ela, andei por aí à tua procura (ela nem se aguenta em pé, mas diz sempre que nem sabe o que está ali a fazer aquela porcaria - a cadeira de rodas.
E depois acrescenta: "pressenti-te... e a seguir sobe o tom de voz e acrescenta: "percebes, palerma!"
aahhahahahahaha
"Escrever um romance não é uma tarefa de curto prazo...".
O 1º não deve ter sido, mas depois de "bolar" a fórmula foi um ver se te avias.
Quando a Zazie referiu o paraplégico fez-me pensar que o mantra se adequava a mim, mas provavelmente a ele não. No fundo inventamos todos um mundo à nossa maneira e a morte é sempre a dos outros, nunca a nossa. Em último reduto:"temos a arte para não morrermos da verdade"(frase com direitos de autor).
ehehee
Não foi nada a si.
Sabe qual foi o epitáfio do Duchamp:
"D'ailleurs c'est toujours les autres qui meurent"
Morreu esta semana:
"The father hesitated only a moment. He felt the vague pain in his chest. If I run, he thought, what will happen? Is Death important? No. Everything that happens before Death is what counts. And we've done fine tonight. Even Death can't spoil it." — Ray Bradbury (1920-2012) -- JRF
O único livro que li de Bradbury foi "Fahrenheit 451". Julgo que é também o mais conhecido. Nunca me entusiasmei muito com ficção científica, nem na literatura nem no cinema. Mas ele, como pessoa era bastante interessante e foi isso que me levou a ler o livro, que gostei.
o que importa não é como vivemos.
vive como um cordeiro se puderes escrever como um leão,já dizia flaubert
Tem piada que ficção científica também nunca fez o meu gosto.
Também não gosto de ficção a não ser a de Júlio Verne. Já se faz tanta ficção na realidade que não adianta de nada ficcionar muito mais a coisa.
A fc é como tudo... há coisas muito boas... mas de facto sou mais espectador (de cinema e tv) do que leitor... como género não me cativou para ler muito... estamos em sintonia!... -- JRF
Nisso de charmar os bois pelo nome (leia-se, palerma à tonta da Zazie) revela a lucidez dos perdidos.
Populaça, de sempre.
O meu problema com a ficção científica é que, normalmente, é ficção, mas pouco científica - do género little green men.
Mas porque haveriam os alienígenas de ser remotamente parecidos com o que quer que exista na terra? Demonstra falta de conhecimento ou imaginação.
Mas a ficção científica sobre foi terreno fértil para discutir o Homem. Não é por acaso que a melhor FC se centra no Homem e no seu âmago e.g. Clarke, Asimov e até, porque não, Douglas Adams.
No meio do espaço sideral, em que o Homem está perfeitamente despido e sem qualquer ligação a casa (aqui no sentido anglo-saxonico de home), literalmente um grão de poeira à deriva na escuridão infinita, não admira que se vire para o seu interior porque no exterior tudo é hostil e inumano. Penso que é por isso que a FC normalmente, mas não necessariamente, se centra no espaço.
Embora, hoje em dia, o destaque vá sobretudo para a especulação tecnológica e extravagâncias de engenharia à la Star Wars.
A última boa obra de ficção científica que li foi o Contacto do Carl Sagan.
Também só gosto no cinema e tv.
Não sei bem explicar. É sempre uma coisa demasiado previsível e alegoria do presente.
Gosto apenas para perceber as utopias e distopias. Mas, de resto, não tenho pachorra.
Não chega a ter fantasia livre- é sempre tudo muito controlado.
Mas, mesmo no cinema, prefiro mil vezes um policial, de série z, de preferência.
Tv é como o outro- só vejo em quartos de hotel
(sem outro sentido, claro. Em viagem).
"sem outro sentido, claro"... hehehe... quem pensaria noutro sentido? Eu não... nem o RB de certeza!...
Eu quando digo TV, é séries em DVD... não vejo TV... -- JRF
JRF, a ficção traz-nos luz. Em DVD ou k7; recomendo vivamente o meu filme de ficção preferido de sempre - Space Cow Girls. Vi-o com os meus, say, 15 aninhos e ainda hoje me lembro de todo o elenco. A historia é simples, como qualquer obra de arte. Simples e inovadora. Já não se fazem artistas daquelas.
.
Rb
Parece ser coisa fina caro RB... vou tomar nota... -- JRF
Enviar um comentário