20 maio 2012

realismo católico

Como o Joaquim sugere num post anterior, invocando o Peter Drucker, é necessário, no momento difícil actual, que é uma espécie de beco sem saída em que a sociedade portuguesa se encontra, procurar novas soluções aos problemas que afectam a comunidade portuguesa.

Exige-se a máxima racionalidade, quer no diagnóstico dos problemas, quer na procura de soluções para os resolver.  E a racionalidade significa em primeiro lugar realismo, olhar para a sociedade tal como ela é e não como nós gostaríamos que ela fosse. Só com realismo se podem diagnosticar os verdadeiros problemas e encontrar as soluções eficazes.

Encontramo-nos aqui no cerne de mais uma oposição moderna entre a doutrina católica, por um lado, e as várias doutrinas saídas do protestantismo, como são as ideologias. O catolicismo afirma categoricamente que todas as ideologias são falsas, porque não são realistas. Em que é que ele se baseia para fazer tal afirmação ou, de outro modo, em que é que consiste, e o que é que caracteriza, o chamado realismo católico?

As ideologias, como o próprio nome sugere, partem das ideias para analisar a sociedade. O catolicismo, pelo contrário, parte das pessoas, e começa por reconhecer que existem dois tipos de pessoas - homens e mulheres. Lutero foi, obviamente, o primeiro teólogo do protestantismo a afirmar que as mulheres são iguais aos homens. Ao fazê-lo, ele tornou irrelevante a distinção entre homens e mulheres e ao remover o culto de Maria, exaltando o de Cristo, ele assimilou as mulheres aos homens. Para o protestantismo,  e para as correntes de pensamento que dele emanaram, a sociedade é uma massa amorfa de pessoas em que, neste sentido, todas podem ser tratadas como homens.

Existem aqui duas questões. A primeira é a de saber quem tem precedente, se são as pessoas se são as ideias. A resposta é, seguramente, as pessoas e neste primeiro aspecto é a doutrina católica que é verdadeira. As pessoas precedem as ideias. As ideias existem como um dom de Deus, que é posto ao serviço das pessoas, e não o contrário. Não são as ideias que precedem as pessoas, não são as pessoas que devem ser postas ao serviço das ideias.  Na sua pretensão de fazê-lo, de pôr as pessoas ao serviço das ideias, as ideologias cometem o seu maior erro e o erro de base.

Assim, o liberalismo procura construir a sociedade em torno da ideia suprema de liberdade, e o socialismo procura fazer o mesmo mas em torno da ideia de igualdade. (Peter Drucker, fazendo uso do pragmatismo, que é típico da cultura anglo-saxónica, parece querê-la reconstruir em torno da ideia de funcionalidade). Depois, os respectivos ideólogos, procuram torcer as pessoas   por forma que elas serviam, respectivamente, cada um destes ideais abstractos. Mas como as pessoas não foram feitas para servir as ideias, foram as ideias que foram feitas para servir as pessoas, falham sempre nesta tentativa, mesmo quando utilizam a violência para tentar torcer as pessoas.

A segunda questão respeita aos sexos. É claro que existem diferenças profundas (mas também igualdades) entre homens e mulheres, caso contrário Deus teria apenas criado homens ou mulheres, e não ambos. As igualdades que existem entre os dois géneros esbatem-se perante as diferenças, a tal ponto que aquilo que os caracteriza é a sua complementaridade. Homens sozinhos ou mulheres sozinhas não conseguem fazer nada de produtivo, certamente não se conseguem em primeiro lugar reproduzir. Uma comunidade só de mulheres ou só de homens estaria irremediavelmente condenada à extinção. Uma comunidade humana não é, como pretende o pensamento moderno saído do protestantismo, uma comunidade essencialmente de homens, e onde  as mulheres são assimiladas aos homens. É uma comunidade feita de dois géneros complementares e, por isso, diferentes - homens e mulheres. É também a doutrina católica que está certa neste ponto.

Para o pensamento católico, então, para identificar os problemas de uma comundade humana e procurar a sua solução, aquilo que se deve começar por fazer é conhecer as pessoas e, em particular, o dois tipos de pessoas que existem - homens e mulheres. Só a pessoa humana, na sua variedade de homem e mulher, pode constituir o ponto de partida para uma análise realista da sociedade. O resto, as ideologias, são jogos de intelectuais, que são aqueles que acreditam, contra toda a evidência, que as ideias precedem as pessoas e que são mais importantes do que as pessoas.

Existem muito poucas capacidades que são exclusivas dos homens (v.g., ejaculação) ou exclusivas das mulheres (v.g., dar à luz). A maior parte das capacidades humanas, ou dons de Deus, são possuidas por ambos os sexos, mas em graus muito diferentes. Assim, a propensão para o abstracto é mais uma característica masculina do que feminina, sendo a propensão para o concreto mais feminina que masculina. É mais comum entre os homens dar mais importância às ideias do que às pessoas. As mulheres, pelo contrário, tendem a dar mais importância às pessoas do que às ideias. Neste ponto particular, e  como argumentei anteriormente, a verdade está do lado feminino, que é também o lado católico, por oposição ao lado protestante.

Uma sociedade é feminina ou masculina consoante o comportamento ou paradigma prevalecente seja o feminino ou o masculino. Uma sociedade feminina não é uma sociedade onde os homens são mulheres. É uma sociedade onde, quando chega a altura de optar entre o comportamento masculino e o comportamento feminino, ela defere perante o comportamento feminino. Na medida em que a maior parte das capacidades e comportamentos são comuns a homens e mulheres, e são muito raros aqueles que pertencem exclusivamente a um dos géneros, trata-se de uma diferença de grau. É claro que numa sociedade feminina os homens possuem em maior grau características femininas do que numa sociedade masculina.

Num post anterior, eu tinha prometido ilustrar esta característica com o comportamento do assédio. É isso que farei no próximo. 

 

3 comentários:

muja disse...

Eu gostava, já agora, de ver como se encaixam outras religiões neste enquadramento paradigmático que PA faz da(s) sociedade(s).

O Islão, por exemplo. E uma qualquer do extremo oriente. O Budismo ou o Taoísmo. Seria interessante ver até que ponto faz sentido fazer esse exercício e a que conclusões levará.

Vivendi disse...

Não são as ideias que precedem as pessoas, não são as pessoas que devem ser postas ao serviço das ideias. Na sua pretensão de fazê-lo, de pôr as pessoas ao serviço das ideias, as ideologias cometem o seu maior erro e o erro de base.

Frase brilhante.

Há uns anos atrás tive esperança nas mulheres na sua ascensão ao poder e na mudança comportamental da sociedade. Assim aconteceu. Muitas hoje são líderes. Não só na política mas nas empresas e nos comportamentos sociais.

Mas a sociedade atual invés de ter melhorado simplesmente falhou.

Pedro Sá disse...

Há várias coisas aqui que não batem certo:

1. Quando a nível da teologia católica se fala em REALISMO, o sentido da palavra é totalmente diferente. Nomeadamente vai parar à concepção jusnaturalista clássica.

2. Como bem disse a Zazie num comentário a post anterior, o liberalismo é que desde logo partiu da ideia de igualdade.

3. O PA está a esquecer-se que a teologia católica - e bem - parte do valor único e irrepetível de cada ser humano. Ora, qualquer um de nós é uma pessoa única e irrepetível antes de ser homem ou mulher.

4. Não vejo razão nenhuma para por exemplo uma empresa que por algum acaso tenha nos seus quadros apenas homens ou apenas mulheres não possa fazer nada de produtivo!