27 maio 2012

a propensão para o detalhe



Uma das ideias mais importantes saídas do protestantismo, e que o próprio Lutero foi o primeiro a promover, é a de que as mulheres são iguais aos homens. Muitas teorias modernas - económicas, políticas, sociológicas - são hoje construidas sobre este pressuposto da igualdade, às vezes radical, entre homens e mulheres.

A tradição católica, pelo contrário, sempre afirmou que os homens e as mulheres são muito diferentes, e que as diferenças principais nem sequer são as que estão à vista. São do foro espiritual. E são de tal modo grandes que um homem e uma mulher, longe de serem iguais, são complementares - aquilo que ele tem a mais ela tem a menos, e vice-versa.

Não se trata de afirmar que o homem possui capacidades que faltam radicalmente às mulheres, ou vice-versa. Na realidade, são muito escassas as capacidades que pertencem exclusivamente a homens ou a mulheres. A grande maioria das capacidades humanas são possuidas por homens e por mulheres. A diferença é de grau e é esta diferença de grau que é, por vezes, muito substancial.

Gostaria hoje de tratar uma delas, a forma como um homem e uma mulher apreendem um objecto e o processo pelo qual formam a imagem desse objecto - uma coisa ou uma pessoa. O homem fá-lo de uma forma rápida - tudo nele é mais rápido do que na mulher -, como que de sopetão, através de uma visão que capta o objecto na sua generalidade e que faz ressaltar aquilo que nele é mais importante ou essencial (em certo sentido, aquilo que salta mesmo à vista).

É muito diferente a maneira como uma mulher forma a imagem do mesmo objecto. Ela fá-lo passo a passo, de forma muito mais lenta - tudo nela exige mais  tempo - detalhe a detalhe, pormenor a pormenor, montando a imagem final do objecto sobre uma multiplicidade de detalhes e pormenores que, decisivamente, escapam ao homem: "Aquela rapariga era muito bonita". "Sim, mas aquele sinal postiço na cara não lhe ficava nada bem".

Desta diferença resulta a maior propensão do homem para a generalidade e a abstracção, e para se concentrar naquilo que é importante e essencial, e a maior propensão da mulher para o particular e o concreto, e para dar mais importância àquilo que é acessório e superficial. As duas propensões complementam-se e produzem o seu melhor resultado quando um homem e uma mulher observam juntos um objecto, ela chamando a atenção para os detalhes, ele para o cerne da questão.

Como referi num post anterior, a primazia das ideias sobre as pessoas é outra característica do espírito masculino, e em que ele difere muito do espirito feminino, o qual dá primazia às pessoas sobre as ideias. As ideias e as ideologias só podiam ter sido criações masculinas e próprias das sociedades masculinas.

É impossível discutir ideias numa sociedade feminina. Porquê? Porque a discussão rapidamente deixa de estar centrada nas ideias para se centrar em pessoas e, mais importante ainda, rapidamente se desloca da ideia central - ou tese - para se concentrar em detalhes.

Num post anterior procurei ilustrar como se reproduz uma cultura feminina. Pelo caminho, e como um mero à-parte que não era nem de perto nem de longe essencial ao argumento, disse que não sabia estrelar ovos. Pois a caixa de comentários ficou dominada pelo tema dos ovos estrelados e pela centralidade da minha pessoa, especulando os vários comentadores se, em realidade, eu saberia ou não estrelar um ovo. (A resposta certa a esta questão é a seguinte: eu próprio não sei, nunca experimentei). E  foi um homem  - um homem, e não uma mulher - o primeiro a trazer os ovos estrelados para o centro do debate.

E chegamos ao ponto  que pretendo atingir neste post. Aquilo que caracteriza uma sociedade ou cultura feminina não é as mulheres agirem como mulheres, porque essa é a sua natureza própria e feminina. Aquilo que caracteriza uma sociedade ou cultura feminina é existir nela um número desproporcional ou uma grande massa de homens - a esmagadora maioria - que possuem um espírito que é, largamente, um espírito feminino.

8 comentários:

fec disse...

não sei muito bem se isto é masculino ou feminino

mas julgo que a maior parte das pessoas têm imenso prazer de falar em bugalhos quando algum convencido insiste na importância e na essencialidade dos alhos

Anónimo disse...

Não sendo essencial ao debate caro PA, deixe-se de conversa... eu também nunca experimentei estrelar um ovo... aquela gordura a saltar para todo o lado intimida-me... mas dizer que não sei, só se fosse para os comentadores não ligarem à tese, só aos ovos... (e isso deve ser muito importante neste processo)... -- JRF

Ricciardi disse...

Bem, JRF, eu cá sou de uma feminilidade atroz. Sei fazer tudo. E, pior, adoro cozinhar caraças. Adoro o cheiro a esturgido. A sério.
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Em portugal adoro estar na cozinha com a minha mulher a fazer receitas especiais. Só me chateia muito arrumar as coisas sujas da cozinha.
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Duas geração anteriores, a da minha avó a coisa era bem diferente. Aí, nessa altura, a mulher não trabalhava fora de casa. Trabalhava muito mas dentro de casa. Mas era ao marido que cabia a obtenção de dinheiro.
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Essa situação não era boa. Por um simples motivo: havia uma complementaridade podre. A mulher estava pendente e dependente do marido. Se o marido morresse a viúva passava muito mal. Se a mulher precisasse de comprar uns sapatos tinha que pedir dinheiro ao patrão, digo, ao marido.
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Por trás deste problema das está o aparentemente irresolúvel caso da demografia da população Portuguesa e Europeia. As familias não tem filhos e não é preciso que a mulher fique em casa.
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Eu sugeria a terapia do escuro e do silêncio… medida bem africana… cortar a electricidade à noite parece-me ser uma boa medida; de uma assentada acabava-se com a televisão e com o computador e os miúdos no escuro adormeciam como anjinhos e ainda poupávamos na conta da luz.
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E lá está, sem qualquer hipótese de ver novelas ou o futebol da liga da Eslovénia, os casais podiam dedicar-se um ao outro, a bem da nação…
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Não sendo possível colocar em prática a minha sugestão, a solução passa por incentivar a natalidade de outras formas…
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A natalidade incentiva-se através de variadíssimas politicas desde logo a 1) isenção absoluta de impostos a casais com mais filhos 2) em vez de desperdiçarmos dinheiro em rendimentos mínimos a traficantes e ladrões e molengões, poderíamos deslocar essas verbas para o apoio à maternidade, o salário de mãe 3) Incentivar o mono-trabalho familiar…

... este último ponto sim, o mais importante de todos e o meu preferido, confesso.
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Pode parecer um tanto, digamos, machista, todavia aparentado-o não o é… sou mesmo da opinião que um dos membros do casal não devia trabalhar.
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Pronto, ok, acho que se fosse a mulher a não trabalhar fazia mais sentido… mas não por um questão machista, mas sim por uma questão natural, da natureza das coisas, quer dizer o homem tem mamas mas não amamenta, tem barriga mas não engravida… embora inche com a idade.
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E depois ninguém seria obrigado a nada e as coisas seriam feitas suavemente e de comum acordo. Muito importante, o rendimento seria da familia e não do elemento trabalhador e há formas de regular essas coisas… e precaver o futuro de um e de outro.

Apenas acho que mulher interpreta muitíssimo melhor as necessidades das crias do que os homens, que são mais broncos e abestalhados, vá, embora também existam aqueles mais, digamos, sensíveis…
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O resultado disto era fantástico; se todos os casais participassem no mono-trabalho, o desemprego cairia subitamente; aliás, o problema seria o inverso, sem um dos elementos de cada casal no mundo do trabalho, seriam precisos novos trabalhadores.
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Ora havendo falta de trabalhadores, a disputa pelos existentes far-se-ia a troco de melhores salários; Isto é, a quebra de emprego e de salário de um dos elementos do casal não significaria uma quebra de receitas do casal, pelo contrario.
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Ainda, resultaria a necessidade da sociedade precisar de mais gente, propiciando, olha que giro, o amor conjugal, gerando mais filhos… com a vantagem de um deles, o pai ou a mãe nos casais tradicionais, ou o pai ou o pai, ou ainda a mãe ou a mãe nos casais homossexuais, poderem acompanhar os seus filhos no dia-a-dia.
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Pronto rapaziada, já sei que vem aí chuva grossa e as palavras graciosas do costume… eu sei que sou, xa cá recordar… sou «machista, ultra-conservador, salazarista, totalitário, neo-liberal, comunista ortodoxo, fascista, radical, reaccionário e elitista» enfim, serei simultaneamente uma espécie de tudo e quase nada… no problema, i can live with that.
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Rb

Vivendi disse...

Tens o meu apoio Ricciardi.

E com o seguinte fundamento.

Nós nascemos dependentes de alguém e em última análise numa vivência equilibrada morremos também dependentes de alguém.

Para os mais espirituosos ao longo da vida aprendemos e experienciamos a vontade em depender de deus.

Anónimo disse...

"machista, ultra-conservador, salazarista, totalitário, neo-liberal, comunista ortodoxo, fascista, radical, reaccionário e elitista"... caro RB, hoje desfaz-se em encómios... -- JRF

Pedro Sá disse...

Escusado será dizer que discordo do Ricciardi até às últimas consequências. E nem me vou dar ao trabalho de explicar porquê.

zazie disse...

Nem ninguém está interessado.

Anónimo disse...

Acho qu o Rb teve uma flamejante lucidez no que toca á autoclassificação das suas propostas.São tão bizarras e surreis que traduzem uma mentalidade
"machista, ultra-conservador, totalitário, neo-liberal, comunista ortodoxo, fascista, radical, reaccionário e elitista"...

Nisso, concordo em absoluto.