20 maio 2012

Governar e executar

O post anterior do Joaquim, citando o Peter Drucker, ilustra uma conclusão que tenho vindo a amadurecer e que cada vez mais tomo como firme. É a seguinte.

A Reforma protestante cortou radicalmente com a  Igreja Católica (e,  nesse movimento, teve o apoio da comunidade judaica; a este respeito, que é secundário para o meu própósito presente, a expulsão dos judeus da Península Ibérica deve ser vista como uma reacção católica de defesa contra o facto de os judeus se terem associado ao "inimigo").

A partir de então, a comunidade judaico-protestante, no norte da Europa e, mais tarde,  na América do Norte também, passou a ignorar por completo tudo o que era católico - a Igreja, a doutrina católica, os países católicos, os autores católicos.

E dedicou-se a descobrir verdades, às vezes apresentadas como grandes novidades, que, passado um tempo, se verifica, afinal, serem as verdades que o catolicismo sempre ensinou, quer pela palavra quer pelo exemplo.

O Papa (e mais geralmente a Cúria Romana) há muito que pratica aquilo que o Drucker vem agora dizer como se fosse uma grande descoberta. O Papa (ou mais geralmente, a Cúria Romana) toma decisões, mas não as executa.

Porquê? Porque corre o risco de se "queimar", de desvalorizar a sua autoridade, não sendo capaz de executar as decisões que ele próprio toma. Bastava um caso destes, para que a sua autoridade como tomador de decisões ficasse aniquilada. Governar e executar são tarefas muito distintas e que devem ser rigorosamente separadas.  

Existe mais ao tema para além da conclusão do Peter Drucker. As pessoas que exercem a governação (ao contrário daquelas que fazem a execução) devem ser praticamente inacessíveis aos governados.

Eu não pretendo com estas observações desvalorizar o Peter Drucker. O que pretendo é incentivar os portugueses que se dedicam a estas questões do intelecto a pensarem que aquilo que andam à procura lá fora está mesmo aqui dentro de casa.

19 comentários:

Anónimo disse...

Caro PA,
Excelente observação. Tinha-me passado completamente ao lado. Tb é um elemento importante para a refundação.

Anónimo disse...

refundanzione comunisti

Pedro Arroja disse...

Joaquim,
É claro que o Salazar praticava essa regra com rigor exemplar, e também aquela que eu acrescentei.

Mas se V. invocasse o Salazar, que é um dos nossos, a reacção seria radicalmente negativa. Sendo um estrangeiro, o Peter Drucker, pode ter mais sorte.
Abç.
PA

email disse...

De acordo.

Rb

Vivendi disse...

A elite dominante da esquerda tenta colar à sociedade portuguesa Salazar no fascismo.

Salazar foi um líder autoritário, provinciano, comunitário e de matriz católica.

E tudo o que ele fez de bem passou para uma obscuridade.

Quem quiser a verdade, basta pegar nas estáticas e quadros para perceber o milagre económico que perdurou por 50 anos.

Hoje fala-se num novo plano marshall mas ninguém fala no plano Salazar.

André Miguel disse...

E ninguém fala no Salazar, ou melhor dizendo nas coisas boas do Salazarismo, graças ao carácter unipolar dos portugueses. Temos um grande défice, enquanto povo, de espírito crítico, temos muita dificuldade em ver as zonas cinzentas. O que, diga-se de passagem, também deve muito à tradição católica.

Anónimo disse...

O Salazar é muito popular entre os Portugueses.

Não se recordam daquele programa da RTP há uns anos???

Foi eleito, pela população, como o maior/melhor Português de sempre.

Vivendi disse...

Foi eleito, pela população, como o maior/melhor Português de sempre.


O problema está nas elites então!

Os portugueses não se importam de ser bem governados e tudo o que querem é sentido de comunidade.

E quando não há nem uma coisa nem outra importam-se modas e costumes de outros lugares.

Anónimo disse...

Allo Pedro Arroja,

Os judeus foram expulsos de Espanha em 1492 e de Portugal em 1497. Lutero afixou as suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg em 1517. E, by the way, Lutero queria resolver o problema judaico... e esperava que a sua reforma os levasse ao cristianismo!

Anónimo disse...

Não me parece que valha a pena Anonimo das 11:25 , Pedro Arroja é de ideias fixas que só se movem década a década.
Tem Epifânias.
Pode por acaso no futuro ao ler uns escritos judeus e aprendido hebraico passar a dizer o contrário do que diz hoje :))))...

Não era só "reforma" para converter o Judeus... Lutero era um fanático.
Reforma aliás é a palavra que os jacobinos inventaram para tornar a Igreja Católica da altura como a entidade Conservadora. Era certamente como se viu nas suas guerras contra a Ciência. Mas Lutero não o era menos.


lucklucky

Pedro Sá disse...

Salazar? O Freitas do Amaral no volume I das suas memórias é que o caracterizou bem...o horror que ele tinha a qualquer desenvolvimento é algo de impressionante.

lusitânea disse...

O povo elege Salazar mas as elites "interpretam-no" em sentido contrário.Daí o desastre.E a traição.Sim porque por acaso acusamSalazar de muita coisa mas nunca de traição...

Luís Lavoura disse...

a expulsão dos judeus da Península Ibérica deve ser vista como uma reacção católica de defesa contra o facto de os judeus se terem associado [aos protestantes]

A expulsão dos judeus da Península começou em 1492, a reforma protestante só começou no século 16, ainda por cima numa parte da Europa muito distante da Península. Como poderiam os pobres judeus ibéricos ter-se associado a uma coisa que ainda não existia, e que só viria a surgir muito longe deles?

email disse...

Bem, na verdade lutero pediu apoio ao judeus para financiar a campanha contra a Igreja. Os judeus não o financiaram. Em represália Lutero passou a odia-los e a escrever mentiras sobre eles.
.
Os Judeus não financiaram lutero... e sempre se deram muito bem com os negócios da Igreja. O resto é conversa. Nunca os judeus iriam afrontar a Igreja que lhes proporcionava rendimentos às elites economicas judaicas.
.

Rb

email disse...

Mas até a Igreja tem de viver e na altura vivia em comunhão de poder com as realezas e estas tiveram bons motivos, em alguns paises, para vilipendiar o patrimonio dos judeus. Assim, não era possivel à Igreja ter sol na eira e chuva no nabal. A realeza usou a Igreja para sacar propriedades e impostos direcionados para os judeus. Em nome da fé era possivel discriminar e vilipendiar pessoas facilmente. És judeu pagas mais. É s judeu não podes ter proprieades. Converte-te a Cristo.
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Rb

Luís Lavoura disse...

Acresce que os judeus da Península Ibérica eram sefarditas e nunca se deram com os judeus dos países da Reforma, que eram asquenazis.
Mesmo após a expulsão, quando os judeus ibéricos se deslocaram para o norte da Europa, continuaram em geral a manter-se em comunidades separadas das comunidades asquenazis.
Portanto, mesmo que os judeus do norte da Europa tenham apoiado o protestantismo, essa dificilmente terá sido a atitude dos judeis ibéricos.

Anónimo disse...

"Porquê? Porque corre o risco de se "queimar", de desvalorizar a sua autoridade, não sendo capaz de executar as decisões que ele próprio toma. Bastava um caso destes, para que a sua autoridade como tomador de decisões ficasse aniquilada. Governar e executar são tarefas muito distintas e que devem ser rigorosamente separadas."


Ou seja a Igreja Católica é como um Partido da Extrema Esquerda?
A maior parte da esquerda desistiu de controlar os meios de produção a não ser com monopólio e mesmo assim especialmente se tiver uma riqueza natural fácil de explorar por detrás.
Sabe bem como é mais fácil ser consciência do que gerir uma empresa.

lucklucky

tric disse...

" Reforma aliás é a palavra que os jacobinos inventaram para tornar a Igreja Católica da altura como a entidade Conservadora. Era certamente como se viu nas suas guerras contra a Ciência."

Guerras contra a Ciência !!??? que barbaridade !!!

tric disse...

"Como poderiam os pobres judeus ibéricos ter-se associado a uma coisa que ainda não existia, e que só viria a surgir muito longe deles?"
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lol os pobres dos Judeus...só sabem roubar os pobres dos portugueses...Companhia das Indias Holandesas...e...