11 abril 2012

família e produtividade

Nos países do catolicismo tradicional, como é Portugal - mas talvez não apenas neles - o catolicismo tem mau nome nos círculos mais intelectuais. A razão é que ao falar de catolicismo afluem imeditamente ao espírito as ideias de religião e de moral - e mais nada. Embora  o catolicismo se inspire numa religião e tenha uma moral - bem flexível, por sinal -, a verdade é que o catolicismo é muito mais do que isso. É uma filosofia de vida, uma maneira de pensar, a maneira de pensar mais aberta (open minded) e livre que se possa imaginar.

São várias as características desta maneira de pensar ou filosofia. As principais são o seu realismo, a sua universalidade ou não-exclusão, a hierarquização das ideias e dos princípios, o seu circunstancialismo, o seu sentido de equilíbrio entre opostos e a sua forma analógica de pensar.

Eu gostaria aqui de fazer uma aplicação da forma católica de pensar a um tema económico que é importante para os portugueses - o da produtividade - e estabelecer o contraste com as diferentes soluções a este tema que são apresentadas pelo conhecimento económico corrente. Criou-se nos últimos 25 anos em Portugal, largamente por influência dos fundos europeus, a concepção de que a produtividade depende criticamente da formação (ou escolarização) e dos investimentos em infra-estruturas físicas (estradas, portos, etc.).

A verdade, porém, é que depois de se ter gasto muito dinheiro em estradas e outras infraestruturas, depois de muitos cursos de formação profissional pagos pela União Europeia, e de se ter escolarizado muita gente, a produtividade em Portugal não cessa de cair face aos nossos principais parceiros europeus. Em relação à Alemanha, por exemplo, a produtividade horária do trabalho em Portuggal não vai além de metade, e com tendência para cair. O problema de Portugal é um problema de baixa produtividade e alto custo de vida - produz-se pouco para o nível de vida que pretendemos manter ou, por outras palavras, vivemos acima das nossas possibilidades.

Eu não tenho deixado de me interrogar o que faria se tivesse de reconstruir a economia portuguesa de novo - como, de qualquer forma, vamos ter de reconstruir -, uma economia orientada para aumentar a produtividade e reduzir o custo de vida, de tal modo que possamos voltar a viver de acordo com os nossos meios. Que medidas adoptaria, quais seriam as minhas prioridades?

Investiria, como sugere a ciência económica tradicional, em formação profissional, em maior escolarização da população, mandava mais jovens para a universidade? Não. Na realidade, cortaria em tudo isso. Aquilo que eu faria em primeiro lugar, e dentro daquilo que estivesse ao meu alcance (v.g., benefícios fiscais), era fomentar a criação de famílias entre os portugueses. Não deve existir instituição que permita baixar tão drasticamente o custo de viver e aumentar tanto a produtividade como a família.

A palavra Economia (do grego oikos e nomos), que depois viria a dar o nome à ciência, foi pela primeira vez referida por Aristóteles para significar o governo da casa ou administração doméstica. A razão é que a família é uma instituição económica de se lhe tirar o chapéu. 

Central à organização económica de um país segundo o pensamento católico está a ideia de comunidade. Mas que comunidade - a família, o núcleo de amigos, a empresa, a freguesia, o concelho, a nação, o mundo? Aqui intervém a hierarquização que é um traço distintivo do pensamento católico. A mais importante de todas as comunidades é a família, porque é aí que os laços pessoais são mais fortes, decrescendo a importância da comunidade à medida que o número dos seus membros aumenta. Neste sentido, a menos importante de todas as comunidades é a comunidade universal.

A família, sendo uma instituição central ao catolicismo, ilustra também a negligência que o pensamento católico  lhe tem consagrado fora dos domínios religioso e moral. Quando os católicos falam de família falam geralmente da sua concepção teológica e moral. E, no entanto, existe uma dimensão económica da família, que é extremamente importante, mas que geralmente é negligenciada.

A família diminui consideravelmente o custo de viver. Um homem e uma mulher, vivendo separadamente vão necessitar de duas casas, dois frigoríficos, dois fogões, etc. Vivendo em união, precisam apenas de uma casa, um fogão, um frigorífico, talvez só de um automóvel, pagarão apenas uma factura de electricidade, e outra de água, e também um só IMI. E quanto à alimentação sai muitos mais barato fazê-la para dois, do que fazê-la separadamente para cada um. Se o homem gastava 100 por mês para viver, e a mulher outro tanto, num total de 200, os dois juntos gastarão em conjunto talvez 120 ou 140 - uma economia considerável, o custo de vida per capita baixa de 100 para 60 ou 70.

Mas a família aumenta também consideravelmente a produtividade. Separados, o homem e a mulher, cada um tem de gastar tempo a cozinhar as suas próprias refeiçoes, a lavar as suas roupas, a arrumar diariamente a casa, a limpá-la também, enquanto, vivendo juntos, um só dos dois faz esse trabalho para ambos, libertando o outro para se envolver em outras actividades produtivas,  desta forma aumentando a produtividade geral do país.

A quebra no crescimento da produtividade, e  aumento do custo de vida que Portugal tem experimentado em anos recentes é, em parte, o resultado de uma transformação simultânea que ocorreu na instituição da família, e que se caracterizou por um aumento considerável das taxas de divórcio, uma diminuição igualmente apreciável da taxa de nupcialidade, e a tendência dos jovens para casar cada vez mais tarde.

Recuperar o crescimento da produtividade, e diminuir o custo de viver, passa prioritariamente por restaurar a centralidade da família como instituição. E era isso que eu faria, quer pregando quer utilizando todos os intrumentos que estão à disposição de qualquer Governo para o fazer.


8 comentários:

Vivendi disse...

Esse fenómeno já acontece com a verificação da redução dos divórcios e também do prolongar da estadia dos filhos na casa dos pais, inclusive com idades já acima dos 30.

Infelizmente, na generalidade dos casos a força da família não vai ser suficiente para escapar ao empobrecimento e à perda de rendimento, mas a união familiar é naturalmente um fator protetor e decisivo para aguentar as ondas de choques.

As 3 gerações de uma família devem-se congregar assim em torno do mesmo objetivo e estimular um equilíbrio harmonioso que será refletido depois à sociedade.

A cultura do coletivo em detrimento do individualismo.

Euro2cent disse...

Mas ... mas ... mas ... então, e o "direito a ser feliz" ? Hã, hã, hã?

(retrocesso faxista, etc, etc., com escárnio público pela intelectualidade bem pensante e até mesmo pelos jacobinos em vida vegetativa)

Pedro Sá disse...

Ou seja, "o lugar da mulher é na cozinha, e o do homem fora de casa". E a mulher que fique em casa à noite enquanto o homem vai para as tertúlias.

E essa ideia de que as pessoas produzem menos porque têm tarefas domésticas a fazer é completamente absurda.

Anónimo disse...

Análise brilhante. O que escreveu é mais que óbvio.

O pessoal atingido pelo modernismo, tem dificuldade em acompanhar. Chama-se preconceito.

Vivendi disse...

Para o anónimo das 5:32

Nem mais.

A opinião tradicional milenar passou a extremista em relação à novidade

Harry Lime disse...

PA,

O argumento economico é o pior argumento a favor da familia.

Quando se chaga a isto é porque todos os outros argumemntos falharam.

E o mais giro é ver estes "conservadores" (democratas organicos?) como o Vivnedi a aplaudir...

Bem, o Pet shop Boys há uns 20 anos defendiam mais ou menos a mesma coisa:

http://youtu.be/uFUATz1LzMY

(I love you... You're paying my rent...)

Rui Silva

Harry Lime disse...

PA,

O argumento economico é o pior argumento a favor da familia.

Quando se chaga a isto é porque todos os outros argumemntos falharam.

E o mais giro é ver estes "conservadores" (democratas organicos?) como o Vivnedi a aplaudir...

Bem, o Pet shop Boys há uns 20 anos defendiam mais ou menos a mesma coisa:

http://youtu.be/uFUATz1LzMY

(I love you... You're paying my rent...)

Rui Silva

Vivendi disse...

Harry Lime,

Agradeço a palavra sobre a minha vivacidade.

Quanto à minha veia conservadora, não me congrego em ideologia ou ideologias. Sou um ser livre o suficiente para correr atrás de ideias invés de ideologias.

Se acredito no papel da família? Claro que sim. E sou feliz por isso.

E eu sei bem o quanto diferente é a "atualidade" familiar que atravessamos relativamente ao tempo dos nossos avós.

Quanto à questão "económica" na família, o autor limitou-se a decompor um fator importante da sociedade enquadrado à família. E a realidade está aí para o demonstrar.

Agora não vejo os outros argumentos a falhar e a economia a funcionar como último reduto para a família.

Vejo sim, uma engenharia social de esquerda que procura mudar a conduta das pessoas.