21 março 2012

o caminho

O Joaquim fez um excelente trabalho a recuperar as caixas de comentários do PC. Ao fazê-lo, porém, desapareceu um comentário a este meu post - que era único na altura - e que eu gostaria de recordar. Era um leittor, que assinava MAC, e que me punha a questão de Dostoiewski, brevemente: "Pode um homem moderno, culto, educado no espírito científico, acreditar que Cristo é filho de Deus?".

Esta é uma questão verdadeiramente interessante. Procurarei dar-lhe uma resposta, não toda de uma vez, porque não sou capaz, mas por partes. E a primeira parte vai parecer decepcionante. Nos últimos tempos, o meu espírito tem andado ocupado em procurar saber, não se Cristo é filho de Deus, mas numa questão muito analógica: se eu sou verdadeiramente o filho do homem a quem sempre chamei pai, de nome Manuel.

Até dediquei um post ao tema (aqui). E dois dias depois verifiquei que tinha cometido uma omissão importante nesse post. Foi quando me referi à minha mãe e disse que, em muitas ocasiões em que ela me queria pôr na ordem, invocava a sua autoridade dizendo-me: "Fazes o que eu te digo porque eu sou a tua mãe...".

Ora, o ponto importante e que eu queria salientar é que esta mulher foi a única em toda a minha vida que reclamou este estatuto - o de minha mãe. É um caso único, extremo, absolutamente excepcional, a comprovar que a verdade se revela nos extremos. Nenhuma outra mulher, em toda a minha vida, reclamou idêntico estatuto. E por boas razões. Ser minha mãe era um fardo, qualquer mulher que reclamasse esse estatuto em relação a mim só ia ter trabalhos (ou prejuizos, na linguagem dum economista), como aconteceu com aquela. E, no entanto, reclamou-o reiteradamente. Porquê? Certamente que não por interesse. Fê-lo pela verdade, fê-lo por amor a mim.

Voltando ao tema central desse post, eu estou hoje absolutamente certo que o tal homem, de nome Manuel, a quem eu sempre chamei pai era o meu verdadeiro pai. Mas ficou igualmente claro que para chegar a essa verdade eu tive necessidade de uma figura central - a figura da minha mãe. O caminho para a verdade acerca do meu pai passou obrigatoriamente pela minha mãe.

E, agora, acerca de Cristo, será Deus o seu verdadeiro pai? Se eu tivesse acesso à Mãe d’Ele, se estivesse por aí a figura de Maria, tudo seria mais fácil.

Então, e não é que está mesmo? É a Igreja Católica, teologicamente a figura de Maria. E não é que, tal como a minha mãe, também ela se reclama minha Mãe (Santa Madre Igreja), e Mãe de todos? Antes de prosseguir, será que Ela tem algum interesse em fazê-lo? Nenhum, tanto quanto a minha mãe tinha em reclamar a minha maternidade. Só lhe dei trabalhos, prejuizos e muitas ingratidões.

Por isso, eu hoje estou certo de pelo menos uma coisa. Só é possível chegar à verdade sobre a paternidade de Cristo através de Igreja Católica porque a Igreja Católica era a única que lá estava - na realidade, ela foi criada pelo próprio Cristo - ao tempo dos factos, do ambiente e das circunstâncias relevantes. Uma igreja luterana ou calvinista nunca me levará a essa verdade, porque estas são igrejas que apareceram somente a partir do século XVI. Não estavam lá na altura.

A Igreja Católica é como o tronco que segura  a árvore à terra. As outras igrejas cristãs são apenas pequenas ramificações. Só ela me pode levar às raizes, da mesma forma que só a minha mãe me pôde levar às minhas próprias raizes. Não há outro caminho. E, para começar, o mais importante para se chegar a   qualquer destino - no caso, a verdade acerca da paternidade de Cristo - é saber qual é o caminho a seguir. Tal como a minha mãe, a Igreja Católica é  uma caso único, extremo, absolutamente excepcional.

Portanto, eu julgo ter dado pelo menos uma parte da resposta ao meu leitor MAC e à questão de Dostoievski: Quem rejeitar a Igreja Católica nunca mais vai lá chegar.


 

 

6 comentários:

zazie disse...

O Birgolino tem dedinhos.

Isto ficou lindo!

Ricciardi disse...

Bem,na verdade, um gajo é cristão porque nasceu e foi educado numa comunidade cristã. Se tivesse nascido na India era hinduista ou budista, maometano nas arabias ou judeu... e as razões para chegar à verdade eram outras.
.
Dentro do cristinanismo, o catolicismo tem a minha preferência. E tem porque gosto de valorizar quem valoriza as mulheres ou os homens bons do mundo. A Igreja fá-lo. Chama-lhes Santos e Santas. Eu chamo-lhes os Exemplos umas vezes, e os Escolhidos, outras vezes. É pelo Exemplo que se deve construir uma sociedade de bem. É a minha regra de ouro - o Exemplo.
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Rb

MAC disse...

Caro Pedro Arroja,

Também verifiquei que o meu comentário se perdeu e percebi depois porquê (reorganização), reenvio pois (não exactamente o mesmo) não porque me pareça que o mesmo tenha em si um especial valor de quem o envia (até porque o essencial são várias citações) mas porque me parece a o seu caminho corresponde às interrogações verdadeiras do coração do homem. Logo também às minhas.

Caro Pedro Arroja,

Na sequência dos seus posts e em especial deste último (conclusão), no qual com arrojo chega a uma conclusão incrivelmente pouco correcta, mas que é verdadeira, parece-me que o motivo pelo qual é correcta não reside na especial bondade dos milhões de membros da Igreja Católica dos últimos 2000 anos, porque a começar por São Pedro, as faltas são inúmeras e escandalosas, mas os exemplos de santidade, a começar por São Pedro suplantam as falhas humanas. A razão pela qual a Liberdade se encontra na Igreja Católica não reside pois no homem, mas sim no Mistério que ama a liberdade da condição humana, ainda que com ela o homem se vire contra o Mistério.
Por último e seguindo a interrogação sobre o Mistério, junto um trecho que me parece perpassar em todo o conteúdo dos seus posts, e cuja resposta apenas a Liberdade de cada uma a pode dar: “Um Desafio para o Homem de Hoje – Um Homem culto, um europeu dos nossos dias, pode acreditar, acreditar mesmo, na divindade do filho de Deus, Jesus Cristo (C.F. Dostoiévski, Os Demónios) Esta frase de Dostoiévski sintetiza o desafio perante o qual se encontra hoje a fé em Jesus Cristo. Este desafio não é genérico, não coloca a questão da possibilidade absoluta da fé em Cristo …E tem como destinatário um tipo concreto de homem: um individuo culturalmente formado, alguém que não renuncia a exercitar a sua razão com todo o seu poder, com toda a sua exigência de liberdade, com toda a sua capacidade afectiva. Ou seja, um homem que não renuncia a nada da sua humanidade. Um homem que traz às costas uma história cultural, uma herança exigente, que é influenciado por um racionalismo penetrante, por uma confiança espontânea no método cientifico e por uma suspeição em relação a tudo o que não se submeta a uma razão como medida. Para um tipo como este será mesmo possível acreditar, hoje, naquilo que Cristo disse de si mesmo?
Por outras palavras, a fé terá alguma possibilidade de prender, quer dizer, de fascinar, de atrair, de convencer os homens do nosso tempo.” In Revista Passos, edição de Fevereiro de 2012, apresentação do Livro de Luigi Giussani, “Na origem da pretensão cristã”, por Julián Carron, pag. III.

Muito obrigado por este espaço de verdadeira liberdade.

Abraço

MAC

Anónimo disse...

Uma das mais terríveis profecias feitas por São Nicolau foi a respeito da pseudo-reforma protestante, que haveria de dividir também seu país. Predisse que, após sua morte, “vão chegar infelizes tempos de revolta e de dissensões na Igreja. Ó meus filhos — disse ele com lágrimas nos olhos — não vos deixeis seduzir por nenhuma inovação! Uni-vos e mantende-vos firmes. Permanecei na mesma via, nos mesmos caminhos que nossos piedosos ancestrais, conservai e mantende o que nos foi ensinado. É assim que resistireis aos ataques, aos furacões, às tempestades que se elevarão com tanta violência”.(9)

São Nicolau de Flüe faleceu no dia 21 de março de 1487, sendo canonizado por Pio XII em maio de 1947.

Durante 20 anos e meio,S. Nicolau de Flu, Pai da pátria suiça, não comeu nenhum alimento sólido ou líquido. Isso foi comprovado por militares que lhe cercaram a cabana. Viveu só da Sagrada Eucarístia.

Fernanda Viegas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda Viegas disse...

Mais uma vez concordo e subscrevo o que diz o Ricciardi. Dar o exemplo é a regra nº 1.