A solução do Paul Krugman não é uma verdadeira solução para resolver os problemas económicos de Portugal. A solução do Ricardo é uma verdadeira solução - embora não seja a única solução - para resolver esses problemas.
Porque é que a solução do Ricardo está mais próxima da verdade que a do Krugman? Isto levou-me de volta à velha questão: o que é a Verdade?
Eu penso que Tomás de Aquino não estava perfeitamente certo quando definiu a verdade como a adequação do intelecto à realidade. De facto, com esta definição, o que Tomás de Aquino fez foi abrir a porta, mais tarde, ao Descartes e ao Kant e, desconfio eu, ao próprio protestantismo.
Ele devia ter dito: a verdade é a adequação do intelecto e dos sentimentos, ou da razão e do coração, à realidade. E, sendo hoje um dia em que eu estaria disposto a questionar até os Dez Mandamentos, dei comigo, de uma maneira exagerada, é certo - mas, para chegar à verdade, eu estou hoje convencido que é preciso exagerar - a procurar responder a uma questão que não lembraria ao diabo: será que o homem a quem eu sempre chamei pai era, na verdade, o meu pai?
E propus-me responder à questão usando a definição de Aquino que, num aspecto, pelo menos, é semelhante à de Kant, a saber, o papel decisivo - na realidade, exclusivo - que o intelecto (ou a razão) tem na obtenção da verdade. E foi por esta via exclusivamente intelectual que me propus responder à questão anterior.
Comecei por tentar reunir os factos, mas dei-me logo conta de que, quanto ao facto principal - uma relação sexual entre um homem e uma mulher, o meu verdadeiro pai e a minha verdadeira mãe, respectivamente - eu nem sequer estava ainda neste mundo para o testemunhar. E ao tentar reconstituir esse facto decisivo, o qual contém toda a verdade, eu não consegui ir além de meras presunções abstractas. Terá ocorrido durante o ano de 1953, muito provavelmente em privado, mas quanto a factos concretos, quem esteve envolvido? onde teve lugar? quanto tempo durou?, etc., eu não consegui obter nenhuma resposta, tanto mais que os dois principais suspeitos já morreram e não deixaram testemunhas.
Agora, eu guardo muito gratas recordações do homem a quem sempre tratei por pai. Eu poderia referir centenas de factos que documentam que aquele homem sempre me quis bem, as imensas coisas boas que ele fez por mim, incluindo alguns castigos que, julgo eu agora, em 95% dos casos foram merecidos, e nos outros 5% ele terá julgado mal. Mas todos esses factos e toda a gratidão que eu sinto hoje por aquele homem não provam que ele é o meu verdadeiro pai. Por aqui não chego lá.
Tenho de fazer intervir uma outra pessoa, porque essa sim, essa é que tem a verdade que eu procuro, e é uma figura de mulher. Refiro-me à minha mãe.
Se eu alguma vez perguntei à minha mãe se aquele homem a quem eu sempre chamei pai era o meu verdadeiro pai? Não, nunca perguntei porque ela nunca me deu margem para isso. Desde que eu tenho memória da minha própria existência, talvez desde os meus três ou quatro anos, sempre que a minha mãe, falando comigo, se referia àquele homem, dizia-me: “O teu pai isto ... O teu pai aquilo ... Vou fazer queixa ao teu pai ... Para isso tens de pedir autorização ao teu pai ...”.
E é por isso que eu acredito que aquele homem era verdadeiramente o meu pai. Eu acredito na palavra da minha mãe. Cheguei à verdade através de um acto de fé na palavra da minha mãe, e não por argumento racional porque, por essa via, nunca mais lá chegava. Mas este acto de fé é um acto racional - a fé como pináculo da razão -, a cereja em cima do bolo, porque todos os factos que eu consigo recordar dele já me tinham levado à conclusão racional de que aquele homem devia ser o meu pai. A verdade ou certeza absoluta é que eu não tinha. Essa foi-me dada pela minha mãe, e pela fé que eu tenho na palavra da minha mãe. E não foram raras as ocasiões na minha juventude em que ela, exalatada comigo por uma qualquer razão, me disse nos termos que não deixavam margem para dúvidas: "Fazes o que eu te digo porque eu sou a tua mãe!...".
Falta responder a uma questão final: como é que eu estou certo que a minha mãe não me mentiu, mais, como é que eu estou certo que aquela mulher era a minha verdadeira mãe? Não tenho dúvida nenhuma. Aquela mulher cuidou de mim desde que eu nasci, incorreu em imensos sacrifícios por mim, fez-me sempre bem, preocupou-se sempre comigo, ainda nas vésperas de morrer, estava eu já para ser avô, ela queria saber de mim, e se eu estava bem. Aquela mulher amou-me toda a vida. Só podia ser a minha mãe. E eu o seu filho. Eu acredito nela pelo amor que ela sempre teve por mim e pelo amor que eu tenho por ela.
Cheguei ao fim. Não se chega à verdade somente pelo intelecto. São necessários os sentimentos e especialmente o do amor. E é por isso que o Krugman nunca terá a verdadeira solução para os problemas dos portugueses. Ele não ama nem Portugal nem os portugueses, embora eu também acredite que ele não lhes quer mal. Ele veio cá fazer uma conferência, receber umas honrarias e uns dinheiros e já partiu para outra. A esta hora é bem capaz de estar na China, a fazer a mesma coisa. Quem não gostar de Portugal e dos portugueses nunca vai encontrar as verdadeiras soluções para os problemas de Portugal e dos portugueses. O intelecto (ou a razão) só, não chega para atingir a verdade.
Porque é que a solução do Ricardo está mais próxima da verdade que a do Krugman? Isto levou-me de volta à velha questão: o que é a Verdade?
Eu penso que Tomás de Aquino não estava perfeitamente certo quando definiu a verdade como a adequação do intelecto à realidade. De facto, com esta definição, o que Tomás de Aquino fez foi abrir a porta, mais tarde, ao Descartes e ao Kant e, desconfio eu, ao próprio protestantismo.
Ele devia ter dito: a verdade é a adequação do intelecto e dos sentimentos, ou da razão e do coração, à realidade. E, sendo hoje um dia em que eu estaria disposto a questionar até os Dez Mandamentos, dei comigo, de uma maneira exagerada, é certo - mas, para chegar à verdade, eu estou hoje convencido que é preciso exagerar - a procurar responder a uma questão que não lembraria ao diabo: será que o homem a quem eu sempre chamei pai era, na verdade, o meu pai?
E propus-me responder à questão usando a definição de Aquino que, num aspecto, pelo menos, é semelhante à de Kant, a saber, o papel decisivo - na realidade, exclusivo - que o intelecto (ou a razão) tem na obtenção da verdade. E foi por esta via exclusivamente intelectual que me propus responder à questão anterior.
Comecei por tentar reunir os factos, mas dei-me logo conta de que, quanto ao facto principal - uma relação sexual entre um homem e uma mulher, o meu verdadeiro pai e a minha verdadeira mãe, respectivamente - eu nem sequer estava ainda neste mundo para o testemunhar. E ao tentar reconstituir esse facto decisivo, o qual contém toda a verdade, eu não consegui ir além de meras presunções abstractas. Terá ocorrido durante o ano de 1953, muito provavelmente em privado, mas quanto a factos concretos, quem esteve envolvido? onde teve lugar? quanto tempo durou?, etc., eu não consegui obter nenhuma resposta, tanto mais que os dois principais suspeitos já morreram e não deixaram testemunhas.
Agora, eu guardo muito gratas recordações do homem a quem sempre tratei por pai. Eu poderia referir centenas de factos que documentam que aquele homem sempre me quis bem, as imensas coisas boas que ele fez por mim, incluindo alguns castigos que, julgo eu agora, em 95% dos casos foram merecidos, e nos outros 5% ele terá julgado mal. Mas todos esses factos e toda a gratidão que eu sinto hoje por aquele homem não provam que ele é o meu verdadeiro pai. Por aqui não chego lá.
Tenho de fazer intervir uma outra pessoa, porque essa sim, essa é que tem a verdade que eu procuro, e é uma figura de mulher. Refiro-me à minha mãe.
Se eu alguma vez perguntei à minha mãe se aquele homem a quem eu sempre chamei pai era o meu verdadeiro pai? Não, nunca perguntei porque ela nunca me deu margem para isso. Desde que eu tenho memória da minha própria existência, talvez desde os meus três ou quatro anos, sempre que a minha mãe, falando comigo, se referia àquele homem, dizia-me: “O teu pai isto ... O teu pai aquilo ... Vou fazer queixa ao teu pai ... Para isso tens de pedir autorização ao teu pai ...”.
E é por isso que eu acredito que aquele homem era verdadeiramente o meu pai. Eu acredito na palavra da minha mãe. Cheguei à verdade através de um acto de fé na palavra da minha mãe, e não por argumento racional porque, por essa via, nunca mais lá chegava. Mas este acto de fé é um acto racional - a fé como pináculo da razão -, a cereja em cima do bolo, porque todos os factos que eu consigo recordar dele já me tinham levado à conclusão racional de que aquele homem devia ser o meu pai. A verdade ou certeza absoluta é que eu não tinha. Essa foi-me dada pela minha mãe, e pela fé que eu tenho na palavra da minha mãe. E não foram raras as ocasiões na minha juventude em que ela, exalatada comigo por uma qualquer razão, me disse nos termos que não deixavam margem para dúvidas: "Fazes o que eu te digo porque eu sou a tua mãe!...".
Falta responder a uma questão final: como é que eu estou certo que a minha mãe não me mentiu, mais, como é que eu estou certo que aquela mulher era a minha verdadeira mãe? Não tenho dúvida nenhuma. Aquela mulher cuidou de mim desde que eu nasci, incorreu em imensos sacrifícios por mim, fez-me sempre bem, preocupou-se sempre comigo, ainda nas vésperas de morrer, estava eu já para ser avô, ela queria saber de mim, e se eu estava bem. Aquela mulher amou-me toda a vida. Só podia ser a minha mãe. E eu o seu filho. Eu acredito nela pelo amor que ela sempre teve por mim e pelo amor que eu tenho por ela.
Cheguei ao fim. Não se chega à verdade somente pelo intelecto. São necessários os sentimentos e especialmente o do amor. E é por isso que o Krugman nunca terá a verdadeira solução para os problemas dos portugueses. Ele não ama nem Portugal nem os portugueses, embora eu também acredite que ele não lhes quer mal. Ele veio cá fazer uma conferência, receber umas honrarias e uns dinheiros e já partiu para outra. A esta hora é bem capaz de estar na China, a fazer a mesma coisa. Quem não gostar de Portugal e dos portugueses nunca vai encontrar as verdadeiras soluções para os problemas de Portugal e dos portugueses. O intelecto (ou a razão) só, não chega para atingir a verdade.
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